O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central avaliou que, por conta dos riscos associados à pandemia do novo coronavírus, a economia pode apresentar uma “retomada ainda mais gradual” e indicou que pode voltar a subir a taxa básica de juros no futuro.
As informações constam na ata última reunião do comitê, realizada na semana passada, quando a taxa Selic foi mantida na mínima histórica de 2% ao ano. O documento foi divulgado nesta terça-feira (15).
Sobre o nível da atividade econômica, o BC avaliou que a “ressurgência” da pandemia no curto prazo, e o consequente aumento do distanciamento social em algumas das principais economias, devem “interromper a recuperação da demanda”.
Segundo avaliação do Copom, os programas governamentais de recomposição de renda têm permitido uma retomada relativamente forte do consumo de bens duráveis e do investimento.
Porém, o comitê acrescenta que a pouca previsibilidade, associada à evolução da pandemia e ao “necessário ajuste dos gastos públicos a partir de 2021”, “aumenta a incerteza sobre a continuidade da retomada da atividade econômica”.
A última previsão do BC para o Produto Interno Bruto (PIB), feita em setembro, é de um tombo de 5% neste ano e de uma alta de 3,9% em 2021. Já economistas do mercado financeiro estimam, desde semana passada, uma retração de 4,41% em 2020 e uma expansão de 3,5% no próximo ano.
Alta de juros
Na ata de sua última reunião, o Copom mudou a comunicação sobre o chamado “forward guidance”, mecanismo que impede aumento do juro básico da economia.
Antes, o BC avaliava que as condições para a manutenção da regra, entre as quais expectativas de inflação alinhadas às metas e manutenção do teto de gastos, estavam satisfeitas.Na reunião da semana passada, porém, o banco informou que, “em breve”, as condições para manutenção do mecanismo podem não ser mais atendidas.
Com isso, o BC indicou que a taxa Selic pode voltar a subir no futuro, como já espera o mercado financeiro.Para os analistas dos bancos, a taxa Selic deve subir para 2,25% ao ano em agosto de 2021, para 2,5% em setembro, para 2,75% em outubro e para 3% ao ano em dezembro do próximo ano.
No entanto, o Copom afirmou que essa mudança de comunicação “não implica em uma elevação imediata da taxa básica de juros”, já que a economia ainda precisa de estímulos monetários.
“No cenário de retirada do ‘forward guidance’, a condução da política monetária seguirá o receituário do regime de metas para a inflação, baseado na análise da inflação prospectiva e de seu balanço de riscos”, informou o BC.
Para 2021, ano no qual o BC passou a mirar as decisões, a meta central de inflação é de 3,75% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar de 2,25% a 5,25%. Para 2022, a meta central é de 3,5%, e o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – considerado uma prévia da inflação oficial – pode oscilar entre de 2% a 5%.
No cenário com juros e câmbio estimados pelo mercado financeiro, o BC estimou que a inflação ficará em torno de 4,3% em 2020, e em 3,4% nos próximos dois anos.
Inflação alta em dezembro
De acordo com o Banco Central, os últimos resultados da inflação foram acima do esperado e, em dezembro, apesar da desaceleração prevista para os preços de alimentos, a “inflação ainda deve se mostrar elevada, com coleta extraordinária de preços de mensalidades escolares e transição para o mais elevado patamar de bandeira tarifária de energia elétrica”.
“Apesar da pressão inflacionária mais forte no curto prazo, o Comitê mantém o diagnóstico de que os choques atuais são temporários, mas segue monitorando sua evolução com atenção, em particular as medidas de inflação subjacente”, disse a instituição.
Por fim, o Copom avaliou que perseverar no processo de reformas e ajustes necessários é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia. “O Comitê ressalta, ainda, que questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia”, afirmou.