O Reino Unido e a União Europeia assinaram nesta quarta-feira (30) o histórico acordo comercial, alcançado no último minuto há uma semana, que vai reger as suas relações quando se separarem definitivamente à meia-noite daquinta-feira, encerrando quase 50 anos de um relacionamento complicado.
“É um excelente negócio para este país, mas também para nossos amigos e parceiros”, declarou o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, carimbando sua assinatura em um texto encadernado em couro de mais de 1.200 páginas, que foi transportado de Bruxelas para Londres pela Força Aérea Britânica.
Horas antes, os presidentes da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e do Conselho Europeu, Charles Michel, fizeram o mesmo em uma breve cerimônia.
“Foi um longo caminho. É o momento de deixar para trás o Brexit. Nosso futuro se constrói na Europa”, tuitou Von der Leyen após assinar o documento.
Constitui “um acordo justo e equilibrado que preserva os interesses da UE e cria estabilidade e previsibilidade para cidadãos e empresas”, afirmou por sua vez Charles Michel, acrescentando que a UE estará sempre “pronta para trabalhar de mãos dadas” com o Reino Unido em assuntos de interesse comum, como ações contra a mudança climática ou a resposta à pandemia do novo coronavírus.
Alcançado de última hora em 24 de dezembro, uma semana antes do fim do período de transição pós-Brexit, o tratado de livre comércio entre o Reino Unido e os 27 países-membros da UE entrará em vigor em 31 de dezembro às 20h00 de Brasília (meia-noite na Europa continental).
Poucas horas antes, os parlamentares britânicos haviam aprovado de forma esmagadora o texto que inscreve o acordo na legislação nacional. Em um processo muito acelerado, a lei foi revista no mesmo dia pelos Lordes – a Câmara alta do Parlamento britânico – antes de ser apresentada à rainha Elizabeth II para sua assinatura.
“Desejo soberano do povo britânico”
“Com esta lei, seremos um vizinho amigável, o melhor amigo e aliado que a UE pode ter”, afirmou Johnson na frente dos deputados, onde foi garantido o apoio de sua maioria parlamentar conservadora e uma oposição trabalhista resignada.
“Trabalharemos com os 27 de mãos dadas sempre que nossos valores e interesses coincidirem, enquanto se cumpre o desejo soberano do povo britânico de viver sob suas próprias leis soberanas feitas pelo seu próprio Parlamento soberano”, assegurou.
Quatro anos e meio após o referendo de junho de 2016 em que 52% dos britânicos votaram para encerrar sua integração na UE, o país sai na quinta-feira definitivamente do mercado único e da união alfandegária, após ter abandonado oficialmente o bloco em 31 de janeiro deste ano.
Segundo uma pesquisa da YouGov publicada nesta quarta-feira, 17% dos britânicos considera o novo acordo como bom, 21% como ruim e 31% nem um, nem outro. No entanto, somente 9% considera que é preciso rejeitá-lo.
Independência da Escócia
Apesar de ser considerado por muitos no Reino Unido como uma vitória pessoal de Johnson, ele não escapou das críticas, especialmente dos pescadores britânicos.
Eles afirmaram terem se sentido “traídos” e acusaram o governo de abandoná-los ao final da negociação comercial, aceitando que os navios europeus pudessem pescar 75% do que pescam atualmente em suas águas durante um período de transição de cinco anos e meio.
Por sua vez, o setor de serviços, especialmente no setor bancário, ainda está esperando para saber o impacto da separação. Mas a divisão abalou especialmente os defensores da independência do SNP escocês, que reiteraram seu desejo de deixar o Reino Unido para voltar à UE.
“A única maneira de recuperar os enormes benefícios da adesão à UE é se tornar um estado independente novamente no coração da Europa”, declarou seu líder em Westminster, Ian Blackford. “É a decisão que o povo escocês vai tomar e essa jornada começa hoje”, acrescentou.
Ao contrário da rápida aprovação do Parlamento britânico, o Parlamento Europeu não se reunirá para ratificar o tratado até o final de fevereiro, já que o texto entrará em vigor de forma provisória em 1º de janeiro.
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