Quando se fala em cannabis, é inevitável não pensar em outros termos mais comumente usados para se referir à planta, como é o caso de maconha e marijuana, porém que nos tempos modernos adquiriram um cunho pejorativo por serem associados à ilegalidade. Afinal, criou-se todo um estereótipo de que a planta tem como única destinação o uso adulto (ou recreativo, como também é chamado), para funções exclusivamente alucinógenas.
Mas isso não é o que tem se visto, de fato, no mercado. Existe uma clara tendência de regulamentação da cannabis no mundo todo, e estamos falando de leis que legitimam e regulamentam não apenas o uso, mas a produção sustentável e o mercado em que se insere essa planta. Porém, tudo começa pela informação e pela quebra do senso comum. Para se ter uma ideia disso, vale entender que nem toda cannabis tem efeito psicoativo. O cânhamo (conhecido ainda como hemp) também é derivado da cannabis sativa, a mesma espécie da planta que causa efeitos psicoativos, porém ele não tem essas propriedades e inclusive o óleo do caule é legalmente usado no Brasil para tratar pacientes com prescrição médica.
Instituições sérias, como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e as Academias Nacionais de Ciências dos Estados Unidos, já demonstraram o valor terapêutico da cannabis. Somente em 2020, os norte-americanos recolheram em impostos sobre o uso medicinal da cannabis mais de U$$ 18 bilhões, segundo a empresa de informações Leafly. O valor é 70% maior do que o observado um ano antes. México e da África do Sul também já têm o uso medicinal da cannabis legalizado.
Ainda sobre os EUA, cada um dos estados tem uma legislação específica sobre o uso medicinal e recreativo de cannabis, porém, com o governo de Biden, as coisas podem tomar outro rumo. Isso porque entre as promessas de campanha estava justamente o assunto de descriminalizar a cannabis no país em nível federal. Isso não só começou a ser feito como atualmente é possível a um terço da população norte-americana usufruir do uso medicinal e adulto da planta.
E ajuda ainda o fato de que na Câmara e no Senado a maioria é democrata, ou seja, segue a mesma filosofia de governo de Biden. Soma-se a isso o fato de a vice-presidente, Kamala Harris, ser a relatora no Senado do projeto chamado More Act, que trata justamente da descriminalização da cannabis – More é a sigla para Marijuana Opportunity Reinvestment and Expungement. Com o apoio governamental a essa frente, é possível que as empresas ligadas à cannabis tenham mais incentivos e possam usufruir de financiamentos para desenvolver a atividade.
Assim como a Cúpula do Clima que aconteceu nos EUA fez com “empresas verdes” disparassem em valorização, é um caminho natural que a legalização dessa verdinha também interfira no mercado financeiro. Afinal, o uso da planta não se restringe à medicina ou ao consumo adulto, é possível utilizar cannabis no setor têxtil, automotivo, de alimentos e bebidas, beleza, de bens de consumo, combustível e muitos outros. “A cannabis, vale destacar mais uma vez, não pode ser encarada apenas para a área médica. O cânhamo, que chegou em 1.500 ao Brasil como vela dos navios portugueses, precisa sair do ostracismo. Em um país com carência habitacional, o hempcrete – só para dar um exemplo – poderia ser grande aliado ao transformar as fibras do cânhamo em concreto, oferecendo alternativa mais sustentável e tão efetiva quanto o tradicional”, revela em relatório a The Green Hub, empresa de tecnologia e inovação para cannabis global.
E já que mencionamos o Brasil anteriormente, é importante conhecer como está o assunto por aqui. Na verdade, as coisas andam mais enroladas do que fumo, com o perdão do trocadilho. Nosso atual presidente, Jair Bolsonaro, ironizou em diversas oportunidades o assunto de liberação da cannabis para uso medicinal. Ele inclusive comparou os remédios à base de cannabis com aqueles usados no tratamento precoce contra a Covid-19, mas sem eficácia comprovada. “Engraçado. Maconha pode, cloroquina não pode”, afirmou o presidente, referindo-se às discussões da Câmara sobre o projeto de Lei n. 399/2015, que trata de viabilizar a comercialização de medicamentos que contenham extratos, substratos ou partes da planta cannabis sativa em sua formulação.
O presidente já deixou claro que vai vetar a proposta caso ela seja aprovada. Mas, até essa aprovação, a cobra vai fumar, com o perdão de mais esse trocadilho. Na Câmara, as discussões pegam fogo a cada encontro. A mais recente, realizada no dia 18 de maio (ontem), teve não só bate-boca como agressão física realizada pelo deputado Diego Garcia (pró-Bolsonaro) contra o presidente da comissão, Paulo Teixeira.
Mas, mesmo não tendo avanços no desenvolvimento de regulações sobre cannabis, ainda assim é possível investir nesse universo de oportunidades – e sem precisar sair do Brasil.
Sinal verde para investir
Segundo a The Green Hub, mencionando dados da Clarivate Analytics e Derwent, empresa de análise de patentes, o mercado global de cannabis legal poderá alcançar US$ 103,9 bilhões até 2024. Mas, antes de arregalar os olhos para os números, vale entender que, como todo e qualquer investimento, esse também tem seus riscos.
Os riscos são, em sua maioria, regulamentários. Isso porque, embora as empresas que atuam com cannabis não sejam estatais, o governo pode interferir de algum modo em leis e tributações, de modo a tornar esse um investimento que requer muita atenção. Ao mesmo tempo, quando se fala em ações de companhias ligadas a cannabis listadas em Bolsa (tomando aqui o caso das norte-americanas), elas são bastante voláteis – mas quais não são, não é mesmo?
A orientação que serve para um ativo em cannabis é a mesma para todo e qualquer tipo de investimento: não deposite todo seu dinheiro em uma mesma cesta, diversifique, tenha uma carteira composta de companhias de vários setores e inclua aí algo relacionado ao mercado das verdinhas. E mais uma dica: assim como sempre falamos aqui, a informação é o seu melhor investimento, portanto é preciso ir a fundo e entender em que se está investindo, se realmente está dentro da sua estratégia, se está alinhado ao seu perfil. Tudo isso estando de acordo, o sinal está verde para investir nas verdinhas e, conforme as tendências, multiplicá-las.
Investimentos que podem dar um barato
Vamos iniciar perguntando: quanto você tem alocado em investimentos? Algo em torno de R$ 1 milhão? Se esse é o seu caso, você é um investidor qualificado para entrar no fundo de investimentos Canabidiol, da Vitreo. Esse fundo investe em empresas dos Estados Unidos e do Canadá que possuem atuação com cannabis. São 20% da carteira teórica do fundo destinados a investimentos em ETFs estrangeiros que investem em empresas ligadas à cannabis, e 80% alocados diretamente em ações estrangeiras da indústria. A partir de R$ 5 mil é possível adquirir as cotas.
Sobre a rentabilidade, vale dizer que apenas em novembro, quando Biden foi anunciado como presidente dos Estados Unidos, o fundo teve uma performance positiva em mais de 30%. No acumulado de 2020, a valorização foi superior a 60%. Já em 2021, até maio, o fundo rendeu 12%. Mas é bom ficar atento às taxas embutidas no investimento.
Agora, se você não tem tanta bufunfa assim, mas também deseja se beneficiar de um investimento com tendência altista, a Vitreo tem ainda o fundo Canabidiol Light, cujas cotas também têm um valor bem mais light: a partir de R$ 1 mil. Porém, a composição da carteira teórica desse fundo é um pouco diferente da anterior. São 20% dele destinados ao investimento no exterior em empresas da indústria cannabis, enquanto os outros 80% ficam alocados em renda fixa. Em 2021, a rentabilidade do fundo, até maio, é de 5,06%, enquanto no acumulado dos 12 meses fica em 22,46%. Lembrando que também existem taxas de administração e performance a incidirem sobre a rentabilidade.
Mas, se a grana está mais curta ainda para poder colocar essa plantinha na sua carteira e ver como ela brota, ou se você deseja adquirir um maior volume de cotas, outra opção do mercado é o fundo Trend Cannabis FIM, da XP Investimentos. Com um aporte mínimo de R$ 100, já é possível integrar o grupo. Em 12 meses, o fundo rentabiliza 48,5%. Também é cobrada taxa de administração da operação.
Segundo a própria XP, a base de investimento do fundo é em um ETF (fundo) listado nos Estados Unidos: “Trata-se, atualmente, do maior e mais líquido ETF ligado ao setor de Cannabis nos Estados Unidos. O ETF MJ investe globalmente em ações de empresas relacionadas direta ou indiretamente com o processo de cultivo legal, produção, marketing ou distribuição de produtos de Cannabis para fins tanto medicinais quanto não medicinais. Adicionalmente, pode investir em empresas farmacêuticas que produzam, comercializem ou distribuam remédios que usem derivados do Canabidiol (canabinoides)”.
Infelizmente, ainda não temos BDRs (ações estrangeiras que podem ser adquiridas por meio da B3) ligadas à indústria de cannabis, já que essa modalidade de investimento ainda é muito recente em nossa Bolsa, incluindo somente as empresas estrangeiras mais conhecidas (e rentáveis) do cenário internacional, como é o caso de Apple, Amazon e tantas outras. Porém, com os avanços positivos derivados da descriminalização da cannabis e dos incentivos às empresas ligadas a ela, é possível ver uma maior rentabilidade nas ações das companhias, o que tende a chamar atenção de mais investidores e criar uma demanda cada vez mais crescente. Com isso, o movimento de expansão se torna inevitável, inclusive para abrir oportunidades de investimentos estrangeiros diretamente nas ações.
Mas tudo é um processo. Se há 10 anos era inimaginável pensar que algum dia a cannabis deixaria de ser ilegal, hoje a realidade está bem diferente. E, conforme mais avanços em pesquisa sobre o uso medicinal da planta se tornem constantes, isso tende a gerar revoluções não apenas no âmbito da saúde, mas também no mercado – e o de ações se inclui aqui.
Enquanto não temos a oportunidade de investir de modo direto em empresas da indústria cannabis, comenta aqui embaixo o que achou dessas informações e o que pensa sobre o futuro desse mercado no Brasil. Aproveite e compartilhe o conteúdo também com seus amigos, afinal todo mundo adora tendências, e essa é bem surpreendente, concorda?