A Anfavea, entidade que representa as montadoras instaladas no Brasil, revisou para baixo as previsões ao desempenho da indústria automotiva em meio à falta de componentes eletrônicos, que vem causando interrupções de produção nas fábricas.
A expectativa de crescimento da produção de veículos no ano caiu de 25% para 22%. Se a previsão estiver correta, as montadoras terminarão o ano com 2,46 milhões de veículos produzidos, entre carros de passeio, utilitários leves, caminhões e ônibus.
A revisão foi puxada pela piora na perspectiva da produção de veículos leves, onde a previsão de crescimento da produção caiu de 25% para 21%, na contramão dos veículos pesados (caminhões e ônibus), cuja previsão de aumento da montagem subiu de 23% para 42%.
“Fizemos a revisão com o time técnico da Anfavea olhando para a demanda, aspectos da economia e também para as restrições que estamos enfrentando, principalmente em semicondutores”, disse nesta quarta-feira, 7, o presidente da associação das montadoras, Luiz Carlos Moraes, durante a apresentação dos números.
Em relação às vendas de veículos no ano, a previsão de crescimento caiu de 15% para 13%, sendo que no segmento de carros de passeio, mais afetado pela escassez de módulos eletrônicos, a projeção de crescimento foi cortada pela metade: dos 14%, previstos em janeiro, para 7%.
A Anfavea também mudou, mas para cima, a previsão sobre as exportações de veículos. O crescimento previsto para os embarques, que têm a Argentina como principal destino, passou de 9% para 20%.
Estoque
O total de veículos no estoque de concessionárias e montadoras fechou o mês passado com volume suficiente a 15 dias de venda, nível parecido ao de maio (16 dias), conforme balanço da Anfavea.
O setor fechou junho com 93 mil veículos nos pátios de revendas e fábricas, 3,5 mil a menos do que no mês anterior. Na apresentação do balanço, Luiz Carlos Moraes chamou a atenção, como destaque negativo, à queda da produção para abaixo do volume superior a 190 mil veículos que vinha sendo mensalmente mantido pelas montadoras.
“Grande parte da queda vem de paradas de produção por conta, principalmente, de semicondutores”, disse Moraes, citando a falta de componentes eletrônicos que vem causando interrupções nas montadoras.
A Anfavea estimou entre 100 mil e 120 mil unidades a quantidade de veículos que deixaram de ser produzidos no Brasil em função da falta de componentes eletrônicos. Durante a apresentação do balanço, Luiz Carlos Moraes chegou a citar perda de até 140 mil veículos no período, mas preferiu manter uma estimativa mais conservadora sobre o impacto da escassez global de chips na indústria automotiva brasileira.
“É uma estimativa. Por isso estou colocando um range faixa entre 100 mil e 120 mil como referência do que foi o impacto de semicondutores na produção no Brasil”, afirmou Moraes.
A estimativa da Anfavea tem como base um estudo feito pela consultoria Boston Consulting Group (BCG) que indica que 162 mil veículos deixaram de ser produzidos pelas montadoras na América do Sul – de um total de 3,6 milhões de unidades no mundo inteiro – durante os seis primeiros meses de 2021. Partindo da premissa de que o Brasil representa entre 80% e 85% da produção no continente, e fazendo um ajuste conservador, a Anfavea chegou à estimativa.
O mesmo estudo da BGC, apresentado durante entrevista coletiva virtual da Anfavea, prevê entre 5 milhões e 7 milhões de unidades a perda de produção da indústria global de veículos durante todo o ano por conta da falta de componentes eletrônicos nas linhas de montagem.
A previsão é de que a normalização do fornecimento de chips – essenciais na produção de veículos, dado o avanço da eletrônica nos automóveis – só aconteça no segundo semestre do ano que vem. “A foto indica que até o primeiro semestre de 2022 teremos dificuldade de abastecimento de semicondutores”, comentou Moraes.