A Simpar, holding dos grupos de logística Movida, JSL e Vamos, está preparando sua entrada em mercados dos Estados Unidos e Europa, como parte de um processo de diversificação geográfica e de receitas.
“Nos próximos quatro a cinco anos, pretendemos ter cerca de 35% das nossas receitas com outras moedas”, disse à Reuters o presidente-executivo da Simpar (BOV:SIMH3), Fernando Simões, em entrevista na sede da companhia, em São Paulo. “A diversificação de moedas faz parte da nossa governança.”
Os comentários indicam o novo foco do grupo criado em 1956 como empresa de transportes rodoviários e que na última década se expandiu via aquisições para setores tão diversos quanto locação e revenda de veículos leves e pesados, concessões de infraestrutura, reciclagem de resíduos e serviços financeiros.
Só no último ano e meio a Simpar comprou 18 empresas, o que espera ajudar na sua meta de expandir receita bruta em 135% do ano passado até 2024, a R$ 35,5 bilhões.
Simões, filho do fundador do grupo, afirmou ver grandes oportunidades para a companhia seguir crescendo no Brasil via aquisições especialmente pelas divisões de transportes pesados – concentrados na JSL (BOV:JSLG3) – e a de concessionárias de veículos – sob guarda-chuva da Automob.
Para o executivo, o cenário adverso do mercado de transporte de cargas no país, agravado com os altos custos dos combustíveis e baixa atividade econômica, tem aproximado empresas médias e pequenas de grupos com maior musculatura financeira. Com isso, a JSL comprou seis rivais menores nos últimos dois anos.
Um processo similar deve acontecer nos próximos anos no setor de concessionárias de veículos leves, disse Simões, segmento no qual a Automob detém somente 0,2% do mercado, mesmo sendo uma das maiores do país. Em mercados mais maduros, a fatia de mercado do líder oscila entre 7% e 9%. “Ninguém fez consolidação nesse segmento ainda no Brasil e nós temos estrutura para isso”, disse ele.
A Automob, inclusive, é a que o executivo enxerga com maiores chances de ser a quarta das sete unidades de negócios do grupo a ser listada em bolsa. “É a que tem hoje mais tamanho para uma operação dessas”, disse Simões, referindo-se a uma potencial oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), mas sem revelar quando isso poderia acontecer.
A última do grupo a estrear na B3 foi a locadora de caminhões e máquinas pesadas Vamos (BOV:VAMO3), em janeiro do ano passado, com uma operação de R$ 1,2 bilhão.
Perenidade do negócio
Tendo reduzido o nível de alavancagem financeira mesmo com um processo acelerado de aquisições – a dívida líquida em relação ao Ebitda caiu de 5 para cerca de 3 vezes no fim de março passado – e mantido um caixa de R$ 11,6 bilhões, Simões avalia que a Simpar está pronta para fazer suas primeiras incursões em mercados de moeda forte, como dólar e euro. Ele, porém, declinou de dar detalhes sobre prazos. “Estamos tendo alguns namoros”, afirmou o executivo.
Para profissionais do mercado, considerando que os resultados operacionais do conglomerado devem seguir robustos nos próximos trimestres, as atenções dos investidores devem se concentrar nas sinalizações da companhia em relação à alocação de capital e alavancagem financeira, escreveu o BTG Pactual (BOV:BPAC11) em relatório na semana passada.
Na sexta-feira, a agência de classificação de risco Fitch elevou o rating de crédito em moeda estrangeira da Simpar, de BB- para BB, citando a estrutura de custos e a receita baseada em contratos de longo prazo para a maioria dos negócios, o que reduz a sensibilidade aos ciclos econômicos no Brasil.
Esse conjunto, no entanto, não protegeu a ação da Simpar do pessimismo do mercado em relação às ações brasileiras. Mesmo com todos os 14 analistas que cobrem o papel da companhia atribuindo recomendação de compra ou “outperform”, o ativo acumula queda de 21% em 2022 até sexta-feira passada, ante recuo de 8% do Ibovespa no período.
Informações Reuters