As ações da BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, operavam em queda nesta terça-feira, continuando movimento de baixa iniciado no final do pregão de ontem, após notícia de que o Ministério da Agricultura instaurou estado de emergência zoossanitária por 180 dias em função de casos de gripe aviária em aves silvestres no Brasil.
Apesar da retração de hoje nos papéis da companhia, que vinham se recuperando neste mês, analistas avaliam que o movimento do mercado é de “cautela”, uma vez que não há indícios de impactos imediatos à maior exportadora de carne de frango do mundo, e nem à JBS (BOV:JBSS3).
Por volta das 13h45, os papéis ON da BRF recuavam 4,91%, a R$7,75, enquanto o Ibovespa subia 0,52%, a 110,78 mil pontos. As ações da JBS recuavam 0,76%, a R$17,01.
“Não estou vendo impacto no momento, o mercado continua com a mesma tendência de queda nos preços das carnes, do milho e da soja”, disse o analista Rodrigo Brolo, sócio da Criteria Investimentos, que vê um movimento de “cautela” dos investidores.
Antes das notícias sobre a gripe aviária, as ações da BRF apresentavam forte valorização no mês de maio. Os papéis ainda acumulam ganho de 22,2% no mês, mesmo com a significativa retração no pregão de hoje.
Para Brolo, informações do governo sinalizam que o Brasil está preparado para o cenário de emergência, e o país não deve suspender exportações enquanto a gripe aviária não atingir granjas comerciais. Até o momento, só foram registrados casos em animais silvestres.
Em um cenário de concretização dos riscos relacionados à gripe aviária, com restrições a exportações, por exemplo, a BRF (BOV:BRFS3) seria a principal atingida, com impacto menor na JBS, disse Brolo. Enquanto a companhia da família Batista tem apenas 10% do resultado proveniente de operações de aves, por meio da Seara, a BRF “vive e respira a cadeia de frango”.
Em relatório em 15 de maio, após o primeiro caso confirmado, analistas do Itaú BBA destacaram que a doença nunca havia sido detectada antes no Brasil, e que episódios de contaminação em outros países tiveram impactos diferentes, a depender de cada local.
“O veto às exportações da Argentina, em março, pode ser usado como um exemplo recente, enquanto o veto da China às exportações de frango dos EUA em 2015 seria um exemplo de ´cenário pessimista´ para exportadoras brasileiras”, escreveu o time do banco.
Na Argentina, o primeiro caso surgiu em fevereiro, e no final do mês houve o primeiro registro em uma granja comercial, o que levou à suspensão das exportações até 31 de março. No episódio envolvendo os EUA, os surtos da doença duraram de dezembro de 2014 até junho de 2015, levando ao sacrifício de mais de 50 milhões de aves no país, apontou o relatório do Itaú.
“Nós projetamos potenciais impactos negativos para a BRF, enquanto a JBS também poderia ser afetada, em menor extensão’, escreveram os analistas, acrescentando que ainda é difícil avaliar se exportações poderão ser paralisadas ou não.
GRIPE AVIÁRIA
Conforme o Ministério da Agricultura, o vírus da Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP), H5N1, altamente contagioso, afeta principalmente as aves silvestres e domésticas, e ocasionalmente os mamíferos, como ratos, gatos, cães, cavalos e suínos, e até seres humanos.
Segundo a pasta, o mundo vivencia no momento a maior pandemia do vírus. A primeira notificação de caso no país foi em 15 de maio. Por enquanto, oito registros da doença foram confirmados em aves silvestres nos estados do Espírito Santo e Rio de Janeiro. Não foram verificados casos em humanos até o momento.
Apesar disso, o Brasil segue classificado com condição livre de gripe aviária, o que permite exportações. A instauração do estado de emergência zoossanitária tem o intuito de evitar que a doença continua a se disseminar e atinja a produção de aves de subsistência e comercial.