O GPA, proprietário da varejista de supermercados Pão de Açúcar, tem sido o destaque nas notícias desta semana. Após a divulgação de que o grupo francês Casino está considerando vender sua participação na empresa, os investidores estão repercutindo, nesta quinta-feira (29), a notícia de que o magnata colombiano Jaime Gilinski apresentou uma oferta não solicitada e não negociada previamente para adquirir a totalidade da participação societária do GPA no Grupo Éxito.
De acordo com um comunicado relevante, a oferta vinculante, válida até 7 de julho, tem um valor equivalente a US$ 836 milhões, a ser pago em dinheiro pela participação acionária total de 96,52% do GPA no Éxito. O conselho de administração da varejista se reunirá para avaliar a oferta, conforme mencionado no documento.
Caso a oferta seja aceita pelo GPA, o pagamento seria efetuado à vista e concretizado por meio de uma oferta pública de aquisição de ações (OPA).
A XP ressalta que o valor oferecido está 41% acima de sua projeção para o ativo, mas 36% abaixo de seu valor de mercado atual e 47% abaixo do valuation implícito esperado pelo GPA, de acordo com seu plano de desinvestimentos divulgado para o mercado.
Os analistas Danniela Eiger, Thiago Suedt e Gustavo Senday, que assinam o relatório, apontam que isso pode representar um desafio para a aceitação da oferta pelo Conselho, mas a atual situação de alavancagem do Casino e do GPA pode ser um fator decisivo. Portanto, eles veem um risco baixo de a oferta não se concretizar.
Os analistas estimam o valor justo do GPA com base na valuation da oferta e na valuation do GPA Brasil (BOV:PCAR3), utilizando uma abordagem de múltiplo-alvo, considerando os riscos de reestruturação e execução que estão ocorrendo na empresa.
O anúncio é considerado positivo pela equipe, uma vez que permitiria que o GPA se desfizesse completamente das operações do Éxito por meio de uma transação em dinheiro. Além disso, poderia acelerar o desinvestimento do controlador do grupo (Casino) no GPA Brasil, uma vez que o ativo se tornaria mais atraente para investidores estratégicos sem a participação no Grupo Éxito.
No entanto, a recomendação neutra é mantida porque a equipe acredita que o preço da transação já está precificado no mercado atualmente, e não há muito espaço para reavaliação dos níveis atuais de preços, considerando uma margem líquida normalizada ainda abaixo de 1% para 2024 e um múltiplo alvo de Preço/Lucro de 7-8x para o GPA Brasil.
Goldman Sachs e Morgan Stanley também reforçaram a recomendação neutra para o ativo após o anúncio.
O Morgan destaca que a oferta proposta oferece contraprestação em dinheiro, o que pode ajudar na desalavancagem ou no retorno de capital da CBD. No entanto, eles também observam um desconto alto de 34% em relação ao último preço de fechamento do Éxito.
Os analistas do banco ressaltam que, com a controladora Casino (que possui 40,9% do grupo GPA) apresentando recentemente um plano estratégico que inclui as participações do GPA e Éxito como parte de seu programa de alienação de ativos até 2024, pode haver benefícios com essa operação, combinando desalavancagem para o GPA e retorno de capital para os acionistas.
No entanto, eles observam que, devido ao alto desconto implícito, a aceitação da oferta eliminaria o potencial de criação de valor futuro e a oportunidade de rentabilizar o Éxito a um preço mais elevado.
Dessa forma, embora GPA e Éxito sejam negociados a múltiplos de EV/Ebitda considerados baratos, aguardando maior clareza sobre a recuperação operacional do GPA Brasil e os esforços de racionalização de portfólio, os analistas do Morgan mantêm a recomendação equalweight (exposição em linha com a média do mercado) para PCAR3. O preço-alvo é de R$ 18, o que representa um potencial de valorização de 11,4% em relação ao fechamento anterior.
O Goldman Sachs tem uma recomendação neutra e também estabeleceu um preço-alvo de R$ 18 para os ativos. O banco reforça a avaliação de que o valor oferecido representa um desconto significativo de mais de 30% em relação ao valor de mercado atual do Grupo Éxito, que é cerca de US$ 1,3 bilhão. No entanto, eles também observam que a liquidez das ações é atualmente limitada devido ao pequeno free float.
Embora o banco não tenha uma opinião sobre se a empresa seguiria em frente com o acordo, assumindo um pagamento único, eles apontam que a alavancagem financeira do GPA resultaria em um saldo positivo de caixa sob uma dívida líquida pró-forma (excluindo aluguéis).
O banco também fornece um breve histórico do bilionário Jaime Gilinksi, que fez a oferta. Gilinski é um banqueiro e incorporador imobiliário colombiano que, no passado, realizou várias aquisições e/ou deteve participações significativas em diferentes bancos não apenas na Colômbia, mas também em outros países da América Latina e até na Europa.
Nos últimos anos, Gilinski, em parceria com outros investidores, também esteve envolvido em ofertas públicas de aquisição envolvendo o Grupo Nutresa, uma das maiores empresas de processamento de alimentos da América Latina, e o Grupo Sura, um dos maiores conglomerados financeiros da América Latina.