A mineradora Vale fechou um acordo com a Wabtec Corporation que visa a descarbonização da Estrada de Ferro de Carajás (EFC), com o desenvolvimento da primeira composição ferroviária híbrida do país, incluindo locomotivas elétricas a bateria e a diesel, disseram executivos de ambas as companhias.
O comunicado foi feito pela companhia (BOV:VALE3) nesta quinta-feira (13).
A partir da parceria, a Wabtec fornecerá à Vale três locomotivas a bateria, que serão fabricadas em sua unidade em Contagem, em Minas Gerais, até 2026. Além disso, haverá o desenvolvimento de estudos para um motor a amônia como combustível alternativo ao diesel para outras locomotivas.
“(Esse acordo) mostra um caminho não só para nossa meta de descarbonização para 2030, que é bem desafiadora, de redução de 33% (das emissões diretas e indiretas), mas também dá uma visão muito boa para nossa meta de carbono neutro para 2050”, afirmou a diretora de Energia da Vale, Ludmila Nascimento, em entrevista.
Atualmente, a malha ferroviária da Vale representa 10% das emissões de carbono da empresa, destacou a executiva.
A EFC é onde circula o maior trem de transporte de minério de ferro do mundo, com 330 vagões.
Hoje, a composição com 330 vagões transporta 45 mil toneladas da commodity e é puxada por três ou quatro locomotivas movidas a diesel. A capacidade da ferrovia total é de 240 milhões de toneladas por ano.
Com o acordo, a ideia é acoplar as três locomotivas elétricas ao atual trem para puxar a composição ao longo da estrada de ferro e, principalmente, em um trecho de aclive de cerca de 140 quilômetros, em Açailândia (MA), onde o consumo de combustível é mais elevado.
As novas locomotivas irão também dispensar dois equipamentos a diesel, conhecidos como “helper dinâmicos”, que são anexadas ao trem para ajudar a vencer a longa rampa da estrada de ferro.
Com a nova tecnologia, a estimativa é de uma economia de 25 milhões de litros de diesel por ano, considerando o consumo de todas as composições da ferrovia que utilizam o “helper“, disse Nascimento.
Outro ponto destacado é que as baterias das locomotivas serão recarregadas a partir da frenagem do trem, sem necessidade de carregamento externo, disse Alexandre Silva, gerente do Programa Powershift, criado pela Vale para estudar tecnologias alternativas para substituir combustíveis fósseis por fontes limpas nas operações da empresa.
Posteriormente, a ideia é que as locomotivas do trem possam ser abastecidas por amônia verde. Para isso, a Vale e a Wabtec vão desenvolver estudos em laboratório, pelos próximos dois anos, para validar o desempenho, a redução de emissões e a viabilidade.
Presidente e gerente-geral da Wabtec para a América Latina, Danilo Miyasato destacou que os avanços tecnológicos em energia de bateria e combustíveis alternativos estão acelerando a jornada de descarbonização das ferrovias.
Entre as vantagens da amônia, segundo os executivos, está o fato de que ela permite uma autonomia superior à locomotiva em relação a outros combustíveis.
Além disso, a amônia apresenta uma classificação de alta octanagem e uma infraestrutura de distribuição em larga escala já estabelecida.
As empresas não revelaram os valores do acordo, mas o investimento a ser feito pela Vale está incluído no orçamento de US$ 4 bilhões a US$ 6 bilhões para reduzir suas emissões diretas e indiretas (escopos 1 e 2) em 33% até 2030.