A SLC Agrícola encerrou o terceiro trimestre do ano com lucro líquido de R$ 167,2 milhões. O desempenho do período reverte um prejuízo líquido de R$ 78,3 milhões registrado entre julho e setembro do ano passado.
O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) no terceiro trimestre subiu 25,5%, para R$ 491,9 milhões. Já a receita registrou crescimento de 21,8%, para R$ 1,64 bilhão.
O resultado trimestral confirmou a tese da companhia vendida aos investidores no início do ano, de que seria possível recuperar os níveis de produtividade, mesmo com uma redução no volume de fertilizantes aplicado nas lavouras.
“Acreditávamos que tínhamos um residual de fertilizante no solo porque sempre trabalhamos com o copo cheio. Isso nos permitiu reduzir o uso de fósforo e potássio em 20%, para preservar as margens”, disse Ivo Brum, CFO da SLC ao IM Business.
Encerrada a colheita da safra 2022/23, a companhia registrou produtividade de 3.904 quilos por hectare na soja, queda de 1,8% ante o recorde da safra anterior. No algodão, o rendimento alcançou 2.025 quilos por hectare (+7%), e no milho foi de 7.666 quilos por hectare (+22%)
A partir de agora, as atenções se voltam para o plantio do ciclo 2023/24, iniciado com a soja em setembro. A companhia já concluiu os trabalhos em 71,3% dos 336,7 mil hectares que serão semeados até o fim do ano.
O tempo seco, por causa do El Niño, tem atrasado o plantio em todo o Centro-Oeste. A SLC, está reduzindo em 3% da área dedicada à soja. Para o executivo, atrasar o plantio da soja não é o fator mais preocupante. O que vai exigir atenção será o plantio da segunda safra de milho.
“Não me surpreenderia se tivermos no Brasil uma redução na área plantada com milho na segunda safra por conta do atraso no plantio da soja agora. Precisaremos ver como o mercado vai reagir e se valerá a pena correr o risco de plantar o milho fora da janela ideal”, disse Brum.
A SLC anunciou que fará um corte de 24,8% na área destinada à segunda safra de milho, para 103,4 mil hectares no ciclo 2023/24. Mas o fator determinante não é o clima, mas a baixa rentabilidade que o cereal oferece no atual momento do mercado.
Em termos de hegde, 45,8% da próxima safra de soja já está com preço de venda travado, a US$ 12,74 por bushel, em média. Para o milho, 32,2% da produção está fixada a US$ 8,12, enquanto 13,5% do algodão está garantido a 86,04 centavos de dólar por libra-peso.
“Para a soja e o milho, os percentuais de hedge estão em linha com nosso histórico. Já para o algodão, estamos um pouco atrasados pela falta de liquidez que temos encontrado no mercado”, afirma Brum.
Segundo o executivo, os importadores demonstram um certo receio em antecipar demais as compras diante das incertezas da economia global. Contudo, não está descartada uma reação dos preços entre fevereiro e março.
Isso porque os atuais níveis de preços não são atrativos para os agricultores americanos. Caso não haja uma reação do mercado até lá, poderá haver uma queda na área plantada nos Estados Unidos em 2024, na visão da SLC.
Os resultados da SLC Agrícola (BOV:SLCE3) referentes às suas operações do terceiro trimestre de 2023 foram divulgados no dia 08/11/2023.
Teleconferência
A SLC Agrícola registrou um atraso no seu plantio de soja em 2023/24 por causa do clima adverso, mas a empresa avalia que cumpriu o cronograma de semeadura das lavouras precoces, o que lhe possibilitará iniciar a segunda safra de algodão como planejado, afirmou o CFO da companhia nesta quinta-feira.
Ivo Brum indicou ainda, durante teleconferência para comentar os resultados trimestrais, que o El Niño tem trazido menos chuvas para o Centro-Oeste e Nordeste do país, o que põe em risco o milho segunda safra, cultivado em áreas de soja colhidas mais tardiamente. O algodão na safrinha entra nas áreas mais precoces da SLC.
Até 2 de novembro, a empresa havia semeado 71,3% da área planejada com soja, atraso anual de 3%, que não deverá trazer impacto para a oleaginosa, ressaltou ele.
“Nesse primeiro momento o importante para nós era ter cumprido a janela de plantio da soja precoce e superprecoce, isso foi feito dentro da janela adequada, isso foi importantíssimo”, afirmou Brum.
Além de planejar plantar mais de 90 mil hectares com algodão na primeira safra, a SLC prevê semear 97,4 mil hectares na segunda safra, após a colheita da soja. A área plantada da companhia com soja deverá somar quase 337 mil hectares (incluindo sementes).
Já em relação ao milho segunda safra, área projetada é de 103,4 mil hectares.
“A cultura da soja não tem risco, ela vai ser plantada, o que pode ter é lá em fevereiro uma decisão se vale a pena ou não plantar o milho safrinha em março para aqueles hectares que ficaram em atraso”, comentou.
Ele admitiu que, com a falta de chuva, eventualmente vai ter um atraso em uma fazenda ou outra, “e isso é geral em todo o Centro-Oeste”. Comentou ainda que, no momento, é difícil mensurar o tamanho do impacto para o plantio do cereal.
Ao responder a pergunta de um analista, Brum disse que é “pouquíssimo provável” e “praticamente inviável” aumentar ainda mais a área de algodão, que deverá ter um crescimento de 27,4% na segunda safra e de 5% na primeira.
“Porque tem que ter capacidade de plantio, mas mais importante, de colheita, com equipamento específico, beneficiadoras de algodão…”
Sobre o milho em nível nacional, o executivo admite a possibilidade de redução na produção. “A margem está muito baixa, é normal que o produtor aplique menos insumos, tente economizar na semente mais barata, o potencial já deveria ser menor do que está apresentado,” disse ele.
Se a janela de plantio ficar mais estreita, o potencial de produção se reduz ainda mais, afirmou o executivo, acrescentando que os preços mais baixos do milho podem afetar também a decisão de semear ou não o cereal na safrinha.
“Temos que acompanhar isso, mas acho que existe um risco que a safrinha brasileira não produza tudo o que se desenha, mas isso vai depender do regime de chuvas em março e abril para a definição de safra no Centro-Oeste”, comentou.
- ARRENDAMENTOS
Brum falou ainda que a alavancagem da SLC “está em patamares controlados, baixos até”, e que nesta linha a companhia avalia novos arrendamentos para plantio na temporada 2024/25, após a área total da empresa caminhar para ficar praticamente estável em 2023/24, em 674,4 mil hectares, conforme o guidance da empresa.
“Tem potencial de crescimento importante até para aumentar esta alavancagem, e estamos focados nisso… logicamente isso vai impactar a safra 24/25, tem oportunidades surgindo, vemos propostas circulando no mercado, estamos buscando achar a melhor oportunidade para fazer a melhor alocação”, declarou.
Ele disse que as negociações estão evoluindo e a empresa quer, até o final do ano ou pelo menos até abril de 2024, fechar negócio sobre o arrendamento para ter tempo de se organizar, comprar máquinas e fertilizantes para a nova área.
Ao comentar o novo programa de recompras de até 4 milhões de ações da SLC, anunciado na véspera, ele afirmou que, em vez de a companhia comprar terras, faz sentido adquirir as próprias ações da SLC, “que são as terras mais baratas hoje para serem compradas” pela empresa.
Ele disse também que, enquanto o preço da ação da empresa continuar em patamares abaixo do considerado adequado pelos seus administradores, “a gente vai ter eventualmente programas abertos para fazer compras de ações”.