A Rumo teve sua recomendação cortada de compra para neutra pelo Goldman Sachs em relatório publicado nesta quarta-feira (17), com preço-alvo estabelecido em R$ 26,00. Dentre outros motivos, o impacto das condições climáticas severas observadas no Brasil nas safras de soja e milho trouxeram incerteza para os papéis da companhia.
Na manhã desta quarta, as ações da Rumo (BOV:RAIL3) caíam 2,64%, cotadas a R$ 22,17 às 11h04 (horário de Brasília).
O rebaixamento também é justificado pelos preços do frete, que podem ter chegado ao seu pico após alguns anos mais fortes e as estimativas para a companhia de lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês).
Para 2024, o Goldman Sachs se alinha ao consenso sobre o Ebitda mas, para 2025, a projeção é 9% inferior considerando os preços de fretes. Além disso, a análise destaca a queda de taxas de risco no Brasil que “também limita o espaço para uma compressão adicional no custo de capital, sendo isso particularmente relevante para ações de infraestrutura”.
Sobre o cenário das safras, o banco destaca que as perspectivas mais fracas para 2024 poderão colocar a Rumo em um ambiente de receitas menores durante as negociações de preços de 2025, que devem acontecer na metade de 2024. Há possibilidade de interrupções no fornecimento do milho mas não da soja, de acordo com a análise, uma vez que a produção mais robusta de outros países poderia compensar a safra mais fraca brasileira. O milho, por sua vez, é considerado com fornecimento mais fraco por investidores aliado ao potencial risco de atrasos na safra.
A produção de soja para o Mato Grosso foi revisada pelo Instituto de Economia Agrícola (IMEA) para baixo em 7%, com queda de 14% na comparação anual. A expectativa do JPMorgan é que os volumes mais fracos sejam neutralizados com o uso de contratos take-or-pay.
“Semelhante ao que ocorreu em anos anteriores de escassez de colheitas (2016, 2019, 2021), esperaríamos que a Rumo ganhasse participação de mercado nas exportações de grãos no Porto de Santos. Apesar das preocupações com os preços pontuais de frete durante 2024 devido à escassez de colheitas, os contratos de ‘take-or-pay’ de 2025 devem ser baseados em preços futuros e ainda se beneficiar do desequilíbrio entre oferta e demanda nas alternativas logísticas”, considera.
O JPMorgan mantém classificação de overweight (performance acima da média, similar à compra), com preço-alvo em R$ 28,50 para os papéis.
O Bradesco BBI realizou também pesquisas com investidores sobre estimativas para o Ebitda da companhia. Ainda que o valor apresentado tenha sido de R$ 7,1 bilhões nas projeções, com alta de 26% na comparação anual e apenas 2% a menos em relação a novembro, a pesquisa demonstra que investidores ainda mantêm cautela em relação ao nome.
“Em nossa visão, isso reflete o esperado fracasso na safra de soja e milho no Brasil em 2024. No entanto, essas estimativas podem continuar a ser revisadas para baixo, especialmente no caso dos estados de Mato Grosso e Rio Grande do Sul”, consideram os analistas.
A análise menciona também que a Rumo poderá concluir com sucesso o processo de renovação de benefício fiscal SUDAM, devido ao plano de investimentos de R$ 14 a 15 bilhões no projeto Lucas do Rio Verde. A estimativa do BBI é que o benefício fiscal manterá a taxa efetiva de imposto de renda da Rumo abaixo de 34% por 10 anos, resultando em uma acréscimo de valor de R$2,70 por ação.
A queda de fretes rodoviários foi outro ponto debatido pelo BBI, que entende ser possível que os preços despenquem devido à fraqueza das safras. O impacto para a Rumo seria ligado aos contratos take-or-pay (cláusula que prevê o pagamento fixo por uma quantidade estabelecida de produtos, mesmo quando a demanda ou o preço forem menores que o praticado no mercado).
O cenário poderia colocar pressão nas negociações da companhia para 2025, mas, ainda assim, o transporte ferroviário ainda é preferência na rota entre Mato Grosso e o porto de Santos.