Embora o cenário-base avaliado pelo Banco Central não tenha se alterado substancialmente desde a reunião de janeiro do Comitê de Política Monetária (Copom), as maiores incertezas do cenário levaram o Banco Central a julgar apropriado obter maior flexibilidade de política monetária. Assim, o Comitê decidiu mudar sua orientação e antecipar uma redução de 0,50 ponto percentual na taxa de juros apenas para a próxima reunião, retirando o plural do chamado “guidance”.
A informação está na Ata da reunião do Copom realizada nos dia 19 e 20 de março e divulgada nesta terça-feira (26). Na ocasião, o BC optou novamente por reduzir a taxa básica de juros (Selic) em 0,50 p.p., para 10,75% ao ano, no sexto corte seguido.
“Tal alteração reflete tão somente uma análise de custo-benefício da utilização desse instrumento adicional de política monetária. Por fim, reforçou-se que seria um equívoco interpretar a mudança na sinalização futura como uma indicação de alteração do ciclo de política monetária compatível com o cenário-base”, diz o texto.
Segundo o BC, ainda que a comunicação já contivesse uma condicionalidade embutida, avaliou-se que não trazia a flexibilidade requerida. “Além disso, argumentou-se que uma retirada tardia, possivelmente vista como uma promessa não cumprida, deveria ser evitada porque poderia ter impacto sobre a credibilidade futura da comunicação e provocar volatilidade excessiva”, explica a Ata.
Ainda segundo as explicações do Comitê, após todos os argumentos, foi concluído que cenário mais incerto reduzia o benefício da sinalização futura e elevava seus custos.
O Copom fez um balanço positivo sobre o uso da indicação condicional para as reuniões subsequentes ao longo das últimas reuniões, reforçando que “cumpriu seu papel de coordenar as expectativas, aumentar a potência de política monetária e reduzir a volatilidade”.
“Notou-se que, até então, os benefícios da sinalização com horizonte alargado superaram os custos tanto na avaliação ex-ante quanto na avaliação ex-post.”
Incertezas
Ao detalhar as incertezas do cenário, a diretoria do BC citou que, na conjuntura internacional, o cenário desinflacionário se mostra mais incerto, em função de um contexto de atividade resiliente nos Estados Unidos e seu impacto nas condições financeiras globais.
“Além disso, os impactos da política monetária sobre a atividade e a inflação também geram incerteza na velocidade da desinflação em diversos países”, diz a Ata.
Com relação à dinâmica inflacionária doméstica, a Ata comenta que, por um lado, há um comportamento benigno de alimentos e bens industriais, mas por outro, em função da atividade resiliente e das últimas divulgações, surgem dúvidas na velocidade de desinflação de serviços.
“O Comitê notou que um processo desinflacionário mais lento, tanto domesticamente quanto globalmente, não constitui o cenário-base, mas foi incorporado como fonte de incerteza. Esse aumento de incerteza prescreve cautela na condução da política monetária”, recomenda o texto.
O Comitê relembrou ainda que a incorporação de cenários e variáveis exógenas, como a dinâmica fiscal ou o cenário externo, “se dá por meio de seus impactos na dinâmica prospectiva de inflação, sem relação mecânica com a determinação da taxa de juros”.
Ciclo
Sobre a extensão do ciclo de ajustes na política monetária, o Copom diz ter percebido a necessidade de manter uma política monetária ainda contracionista pelo horizonte relevante, para que se consolide a convergência da inflação para a meta e a ancoragem das expectativas.
Segundo a Ata, enfatizou-se novamente que a extensão do ciclo ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.
“O Comitê mantém seu firme compromisso com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante e reforça que a extensão do ciclo refletirá o mandato legal do Banco Central.”