A turbulência das últimas sessões envolvendo a Petrobras após o não pagamento de dividendos extraordinários foi um banho de água fria para os mais otimistas, tanto estrangeiros e locais, aponta em relatório a equipe de estratégia do JPMorgan, em um contexto de forte saída de capital do Brasil no acumulado de 2024.
A equipe de estrategistas do banco, liderada por Emy Shayo, ressalta que os investidores estrangeiros continuam retirando dinheiro do Brasil, com saídas totais acumuladas no ano em quase R$ 20 bilhões até 7 de março, o equivalente a 40% do ingresso do ano passado. Ao mesmo tempo, os fundos locais dedicados a ações e os fundos de multimercados continuam a ver saídas de capital.
“Nas nossas conversas com investidores locais, sentimos um desejo de aumentar as alocações de capital em suas carteiras, mas até agora, isso não aconteceu em um volume que seria suficiente para levantar os mercados”, avalia a equipe. Em suma, o resultado disso é que o Ibovespa em dólar cai cerca de 8% no acumulado do ano.
O JPMorgan cita alguns fatores que levam isso a acontecer e o que poderia indicar uma reversão. Em primeiro lugar, do lado da alocação externa, o gatilho para a volta dos fluxos seria a aproximação do ciclo de flexibilização monetária pelo Federal Reserve, com início do ciclo de corte de juros e projeção do banco de que isso aconteça a partir de junho.
“Mas, considerando que os dados não são suficientemente firmes para marcar o início do ciclo de flexibilização, as alocações permanecem à margem”, avalia Emy Shayo.
Os fluxos nos mercados emergentes, desta forma, têm sido negativos há 36 semanas. O único fluxo positivo que se observa tem sido nos ETFs (Exchange Traded Funds, fundos de índice), especialmente nos mercados emergentes exceto China, com entradas de US$ 2,1 bilhões no acumulado do ano.
Em mercados emergentes, o Brasil continua sendo um mercado overweight (exposição acima da média) no consenso juntamente com o México, aponta o banco, sem que a menor posição underweight (abaixo da média) em China tenha abalado o otimismo para os dois países latino-americanos. Além disso, o banco ressalta que o nível overweight acima do valor de referência é atualmente o mais alto desde a Crise Financeira de 2007-2008 (cerca de 2%).
Já do ponto de vista local, os fundos dedicados a ações e multimercados também continuam a ver resgates. Em suma, a exposição de todos os fundos em ações está em 8,9%, o que está próximo do mínimo histórico registrado durante o Governo de Dilma Rousseff.
“Se houver uma reversão média dessa tendência, haverá entradas de US$ 20 bilhões em ações brasileiras”, avaliam os estrategistas. Eles citam algumas iniciativas recentes que poderiam ajudar a melhorar a porcentagem de ações no total de ativos sob gestão. Em primeiro lugar, as taxas de juros básicas estão em queda, ao mesmo tempo em que o governo restringiu as emissões de títulos lastreados por operações nos setores agrícola e imobiliário como CRIs e CRAs, que cresceu para formar uma classe de ativos de mais de R$ 1,2 trilhão nos últimos anos, fazendo com que o capital que iria para esses instrumentos precisem encontrar um destino diferente.
“Por último, mas não menos importante, em nossos encontros com investidores brasileiros ao longo das últimas semanas, detectamos uma vontade de adicionar risco à sua carteira, isto é, aumentar as alocações em ações à medida que a flexibilização dos juros pelo Fed se aproxima”, citam os estrategistas ao apontarem que, neste contexto, o tema Petrobras (BOV:PETR3) (BOV:PETR4) foi um ponto negativo para os investidores.