O potencial do Brasil para a geração de
energia com usinas eólicas instaladas no mar, uma
tecnologia em ascensão no mundo mas ainda inédita no país, entrou
no radar de técnicos do governo e de empresas como
a petroleira norueguesa Equinor e
a elétrica Neoenergia (BOV:NEOE3), do grupo
espanhol Iberdrola.
A estatal Empresa de Pesquisa Energética (EPE) disse
que registra sete projetos eólicos offshore em águas nacionais
em fase de licenciamento, que somariam capacidade total de até
15 gigawatts (GW) –perto dos 16 GW hoje operacionais em terra.
O porte dessa carteira de projetos ainda em desenvolvimento, 80%
concentrada nas duas empresas, evidencia os grandes números
envolvidos quando se fala nas possibilidades dessa fonte de
energia, que envolve turbinas maiores que as convencionais e
consegue aproveitar ventos mais fortes.
A EPE estima que o Brasil poderia implementar
700 GW em eólicas offshore ao explorar profundidades até 50
metros, o que representa quatro vezes a atual capacidade instalada
de geração de energia do país.
As áreas mais favoráveis à tecnologia se dividem entre zonas na
região Sul, Sudeste e, principalmente, Nordeste.
O presidente da Neoenergia, Mario Ruiz-Tagle, disse que
ainda há um longo caminho até que os primeiros projetos
offshore saiam do papel, uma vez que é preciso definir
regulamentações para a fonte, enquanto custos elevados também são
uma barreira.
“Falta muito tempo, no mínimo dez anos, sendo otimista uns
sete. Nosso projeto não é imediato… estamos olhando três regiões.
No Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Ceará. É uma tecnologia que
tem espaço no Brasil com certeza, o país tem uma costa
gigantesca”, afirmou.
A Equinor também afirma que a aposta nas usinas
marítimas no Brasil “é um negócio de longo
prazo” e depende da regulação, com seus projetos locais
em fase inicial de análise.
“O Brasil é muito rico em recursos naturais, com grande
potencial em óleo e gás e renováveis. Nós vemos um potencial para
eólica offshore no Brasil, um país que consideramos ser uma
área central para nossa companhia”, disse, em nota.
A Neoenergia, cuja controladora Iberdrola é líder
global em geração offshore, tem registrados três projetos
eólicos na costa brasileira – Jangada, Maravilha e Águas Claras,
cada um com 3 GW em capacidade potencial.
A Equinor está em fase inicial de licenciamento
ambiental de dois parques offshore com 2 GW cada, do complexo
Aratu.
A EPE ainda registra um projeto de 1,2 GW ligado à BI
Energia, da italiana Imprese e Sviluppo, e os complexos Asa
Branca, com 400 megawatts, e Caucaia, com 600 megawatts.
A Equinor não comenta valores previstos para suas
usinas, assim como a Neoenergia, que ainda não registra
desembolsos relevantes ligados ao projeto.
A elétrica da Iberdrola prevê começar medições mais
apuradas de vento a partir do próximo ano, com equipamentos movidos
a energia colocados sobre as águas.
No momento, foca o licenciamento ambiental, também visto como
complexo devido ao ineditismo da iniciativa.
No projeto Asa Branca, por exemplo, a consultoria
dinamarquesa Ramboll foi contratada como responsável pela
gestão ambiental, em trabalho que será realizado em consórcio com a
empresa de soluções ambientais e dados hidrográficos e
geofísicos Cepemar e a Integratio, de mediação social.
A Petrobras também tem o potencial eólico do
Brasil no radar, mas decidiu focar a atuação no segmento por
hora em iniciativas de pesquisa e desenvolvimento.
A companhia disse que “já realizou o mapeamento
eólico (offshore) na região Nordeste e vai mapear o potencial
do litoral Sudeste”, enquanto foca os esforços de P&D na
busca de sinergias da fonte com operações de óleo e gás.
A estatal ainda tem um memorando de entendimento com
a Equinor em eólicas offshore que continua válido e
pode render iniciativas na área de pesquisa “no horizonte
de longo prazo”.
Custo elevado
O custo das eólicas offshore é hoje, segundo
a EPE, cerca de duas vezes maior que projetos onshore, e
especialistas dizem que o atual nível de câmbio ainda aumenta essa
diferença, mas a estatal diz ver “perspectivas
favoráveis”.
A EPE começou a incluir a tecnologia entre as
alternativas para expansão da geração em seu planejamento decenal
desde 2019, mas a princípio ela não se mostrou competitiva.
No projeto Asa Branca, o orçamento previsto de 13 bilhões
de reais contemplaria uma expansão para 720 megawatts, segundo
a Ramboll.
Uma usina do mesmo porte em terra custaria cerca de 3,6 bilhões
de reais, de acordo com estimativas médias de mercado.
“Alguns estudos apontam para possíveis reduções entre 11% e
30% até 2030 nos custos totais dessa fonte”, disse a EPE,
que citou ainda possíveis sinergias com o setor de óleo e
gás que poderiam contribuir para custos menores.
No mundo, eólicas offshore viram barateamento de 67%
desde 2012, segundo a Bloomberg New Energy Finance, com ganhos
de eficiência à medida que as turbinas ganham porte.
A máquina de 10 megawatts da MHI Vestas, por exemplo, que tem
sido vendida com entregas a partir de 2021, tocará 187 metros de
altura com suas pás, que somarão 80 metros de comprimento.
Atualmente, as eólicas offshore têm visto crescimento
acelerado na China e na Europa, na região do Mar do Norte, e a
expectativa da EPE e das empresas é que o avanço
internacional ajude a levar a tecnologia a patamares de preço mais
acessíveis.
Entre todos, há também otimismo impulsionado pela trajetória
da energia eólica onshore no Brasil, que saltou de presença
praticamente zero na matriz elétrica do país para 13,5% em uma
década por meio da uma política de incentivos e leilões que acabou
copiada mundo afora.
Lucro líquido de R$ 814 milhões e crescimento de 36%
A elétrica Neoenergia, controlada pelo
grupo espanhol Iberdrola, divulgou
lucro líquido de R$ 814 milhões no terceiro trimestre,
crescimento de 36% na comparação anual, com o aumento da
receita e a melhora dos resultados operacional e financeiro.
A receita líquida da companhia, controlada pela espanhola
Iberdrola, somou R$ 7,98 bilhões, o que representa uma alta de 11%
na mesma base de comparação. O resultado operacional, antes do
financeiro e dos tributos, cresceu 19%, para R$ 1,35 bilhão.
NEOENERGIA ON (BOV:NEOE3)
Gráfico Histórico do Ativo
De Mar 2024 até Abr 2024
NEOENERGIA ON (BOV:NEOE3)
Gráfico Histórico do Ativo
De Abr 2023 até Abr 2024