A estatal petrolífera brasileira (BOV:PETR3) (BOV:PETR4) já é
uma senhora de 67 anos, mas está longe de se aposentar
Para começar, vamos explicar esse título que pode ter causado um
pouco de confusão se você começou a investir há pouco tempo – mas,
caso já seja um investidor ativo, de muitas primaveras, não custa
relembrar. A expressão blue chips não tem nada a ver com
salgadinho azul, em uma tradução bem livre mesmo. Blue Chips são as
fichas azuis dos cassinos, as mais valiosas, as queridinhas de
todos. Quem não quer embolsá-las?
A mesma lógica é no mercado de ações. Uma empresa considerada
blue chip é aquela que tem grande valor também, não apenas para
ela, mas para seus acionistas – no caso, você, que também pode
investir nela. E justamente por isso tem muita gente embolsando
cada vez mais ações dessas companhias.
O que torna uma empresa blue chip é algo bem variável. Alguns
investidores dizem que, se ela participar do Ibovespa, que inclui
as empresas de maior liquidez, ou seja, que são mais negociadas,
então isso já a garante como uma blue chip. Entretanto, existem
muitas outras coisas que o mercado considera, por exemplo:
- Essa empresa tem uma marca sólida na praça, com boa imagem e
reputação?
- É uma líder ou tem uma excelente colocação dentro do segmento
em que atua?
- Como é a governança corporativa dela, ou seja, os dirigentes,
são comprometidos e fortes do ponto de vista empresarial?
- A geração de caixa da companhia é de alta performance?
- O valor de mercado dela é alto?
- Ela paga bons proventos para os investidores, como dividendos,
juro sobre capital próprio?
Em teoria, uma empresa que dá ok para cada um desses itens é uma
blue chip. E, se ela tem tudo isso, com certeza não vai quebrar
facilmente, não vai deixar o investidor na mão e não vai deixar de
rentabilizar o papel. E, quando quem investe nela quiser vender sua
posição, sempre vai ter comprador no mercado.
No Brasil, essa blue chip é a Petrobras
Pode ter certeza de que 99% dos assessores e corretores de
investimentos vão sugerir que na sua carteira de ações tenha pelo
menos uma boa parcela de PETR3 e/ou PETR4 – mas e aquele 1%? Uma
companhia consistente é que traz segurança para a carteira de
qualquer um, mas, no momento atual, será que Petrobras pode mesmo
fazer tudo isso pelo investidor? Então, vamos conhecer um pouco
mais dessa senhora empresa.
A Petrobras completou 67 anos em 2020, foi fundada em 1953, sob
o governo do então presidente Getúlio Vargas. A primeira menção
oficial foi feita na Lei n. 2004, de 3 de outubro de 1953, que
então dispunha sobre a Política Nacional do Petróleo e definia as
atribuições do Conselho Nacional de Petróleo. Em seu Capítulo III,
seção I, trazia “Da constituição da Petrobras”. A partir disso foi
oficialmente criado o monopólio do petróleo no Brasil, deixando a
cargo da Petrobras as operações de exploração, desenvolvimento,
refino e transporte da commodity.
***
De acordo com a empresa: “Somos uma das maiores produtoras de
petróleo e gás do mundo, atuando, principalmente, nas atividades de
exploração e produção, refino, geração de energia, comercialização
e distribuição de derivados. Adquirimos um conhecimento especial
sobre exploração e produção em águas profundas e ultraprofundas,
nos tornando líderes mundiais nesse segmento”.
***
Entretanto, a mencionada lei foi revogada em 1997 sob a
presidência de Fernando Henrique Cardoso, entrando em seu lugar a
Lei n. 9.478, de 6 de agosto de 1997, que “Dispõe sobre a política
energética nacional, as atividades relativas ao monopólio do
petróleo, institui o Conselho Nacional de Política Energética
[CNPE] e a Agência Nacional do Petróleo [ANP] e dá outras
providências”. Chamada de “nova lei do petróleo”, ela desbancava o
monopólio, permitindo que outras empresas pudessem participar de
todas as esferas do processo produtivo da companhia.
Pois é, com certeza você deve ter rido do “desbancava o
monopólio”. Por lei, isso existe, mas a realidade é que o governo
sempre deu preferência para a estatal em se tratando de concessões
e operações. Essa senhora queridinha da bolsa não é só bem quista
pelos investidores e conhecida por todos os brasileiros, também é o
xodó da União. E a União faz a força – ou à força, como queira.
Uma senhora endividada
A senhora Petrobras enfrentou grandes desafios durante sua
trajetória, porém os mais recentes foram entre 2010 e 2015, quando
quase deu “PT”, sigla que também lembra o governo da época: o preço
internacional do combustível subiu, mas a companhia teve de manter
os preços estáveis em casa; houve altos investimentos nas
refinarias e renovação de frotas, gerando custos elevados;
situações de escândalos de corrupção em esquemas dentro da
companhia; e muitos outros fatores fizeram com que a empresa
ficasse bem abalada, sobretudo, financeiramente – em 2015, ela
anunciava um prejuízo de mais de R$ 21 bilhões, incluso aí um valor
de mais de R$ 6 bilhões embolsados nos esquemas de corrupção.
O tempo passou e, atualmente, ela se baseia em novos
drivers, ou direcionadores: maximização do retorno sobre o
capital empregado (segundo a companhia: “Foco nos ativos onde somos
os donos naturais; a produção do pré-sal atingiu 60% da produção”);
redução do custo do capital (“Contínua trajetória de
desalavancagem; transparência e gestão da dívida”); busca por
custos baixos e eficiência (“Redução de custos e resiliência a
cenários de preços baixos”); e ainda atuação com programas de
meritocraria interna e ações de sustentabilidade.
Essa senhora empresa precisou se reinventar para tentar dar a
volta por cima, mas ainda enfrenta dificuldades. Entretanto, alguns
números têm desempenhado positivamente. Em se tratando do
endividamento, saiu de uma dívida líquida de US$ 100 bilhões em
2015 para US$ 71 bilhões em 2020.
Em julho de 2020, a companhia bateu recorde de produção mensal,
registrando mais de 600 Mbpd (milhões de barris por dia) e de 700
Mboed (milhões de barris de óleo equivalente por dia). A produção
no pré-sal subiu 31% entre 2019 e 2020. Apesar disso, ainda em 2020
o prejuízo total da empresa ultrapassa R$ 50 bilhões.
E o que se faz quando se está endividado? Vende as coisas. De
acordo com a companhia, em seu plano estratégico 2021-2025: “Nosso
portfólio de desinvestimentos contém no momento mais de 50 ativos
em diferentes estágios do processo de venda. Simultaneamente ao
abatimento da dívida, os desinvestimentos contribuem para melhorar
a alocação de capital e consequentemente para criação de valor para
o acionista”.
De acordo com relatório do BTG Pactual, o plano estratégico veio
mais conservador do que esperavam, focando principalmente numa
melhor disciplina do capital da empresa. A venda dos ativos é vista
com bons olhos pelos analistas, já que assim a companhia consegue
cumprir sua meta de dívida bruta anual, “desbloqueando um potencial
atraente de pagamento de dividendos”, afirmam.
Na bolsa
Com 67 anos, as pessoas já estão mais propensas a descansar e
poder usufruir, quem sabe, da aposentadoria, mas essa senhora está
bem longe disso. Endividada e sendo uma persona pública,
ela ainda tem muito trabalho a ser feito, embora já tenha sua
imagem de blue chip na bolsa bem frisada.
Apesar disso, “Durante o ano de 2020, a S&P e a Fitch
revisaram a perspectiva de nota de crédito global da Petrobras para
estável e negativa, respectivamente (de positiva e estável),
refletindo a alteração da perspectiva do Brasil. A avaliação de
perspectiva de nota de crédito global da Moody’s é estável.
Seguimos firmes no nosso propósito de reconquistar o grau de
investimento do rating corporativo”, revela a companhia.
Então, como sempre batemos na tecla de que conhecimento é o
melhor investimento, que tal voltar no checklist de
perguntas que tornam uma empresa blue chip e refazer com
base nos dados atuais da Petrobras?
Para te ajudar a visualizar isso ainda melhor, acompanhe o
gráfico de desempenho das ações (PETR3 e PETR4) da companhia nos
últimos cinco anos.
Obs.: a última cotação data de 27 de novembro
de 2020.
Obs.: a última cotação data de 27 de
novembro de 2020.
Já as concorrentes na bolsa de valores são várias companhias,
entre elas PetroRio (PRIO3) – conheça mais sobre ela –, Cosan (CSAN3), Dommo
(DMMO1, DMMO3 e DMMO11), BR Distribuidora (BRDT3) e Ultrapar
(UGPA3). Veja um gráfico comparativo do desempenho das ações dessas
companhias, que traz ainda como base o desempenho do Ibovespa entre
dezembro de 2017 e novembro de 2020:
Obs.: a última cotação data de 25 de
novembro de 2020.
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PETROBRAS PN (BOV:PETR4)
Gráfico Histórico do Ativo
De Mar 2024 até Abr 2024
PETROBRAS PN (BOV:PETR4)
Gráfico Histórico do Ativo
De Abr 2023 até Abr 2024