Ao comprar uma participação minoritária na Vale, que pode chegar
a R$ 22 bilhões ao todo, a Cosan dá um novo passo em sua estratégia
de alocação de capital e diversificação do portfólio, apostando em
setores onde o Brasil tem claras vantagens competitivas e
comparativas, comentou o diretor financeiro da Cosan, Ricardo
Lewin, em teleconferência. O financiamento da operação, via
empréstimo bancário e derivativos, mantêm a alavancagem do grupo
“em níveis adequados”, e a estratégia não compromete a saúde
financeira do grupo e não afeta investimentos das empresas
controladas, afirmou o comando da Cosan.
O mercado recebeu com reservas a divulgação da operação na tarde
da sexta-feira e as ações da Cosan (BOV:CSAN3) fecharam em queda de
quase 9%, por conta do temor de aumento das dívidas do grupo. Por
isso, esse foi um dos principais tópicos que os executivos da Cosan
tentaram explicar na disputada teleconferência, que teve lotação
máxima.
“A Vale é um ativo único e irreplicável, posicionado em um setor
onde o Brasil tem grande vantagem competitiva e comparativa com
exposição à moedas fortes”, afirmou o vice-presidente de estratégia
da Cosan, Marcelo Martins, na teleconferência. “A operação não
compromete a saúde financeira do grupo”, disse Martins.
Se isso ocorrer, ela pode ser desfeita, nas partes ou no todo.
Ou seja, a Cosan pode chegar a 6,5% da Vale (BOV:VALE3) mas também
por vir, em um caso extremo, a ter zero, caso entenda no futuro que
a estratégia compromete sua saúde financeira.
Na teleconferência, Lewin mostrou uma apresentação em que
detalha a operação, que foi uma compra minoritária de ações
ordinárias (ON) da Vale, por meio de uma combinação de compra
direta de ações no mercado e uma estrutura de derivativos. “Com
essa participação, a Cosan pretende se tornar um acionista
relevante da empresa e contribuir para criação de valor”,
afirmou.
A transação foi financiada por um empréstimo-ponte de longo
prazo de R$ 8 bilhões com Itaú e Bradesco e uma estrutura de
derivativos de 5 anos com JPMorgan e Citi de R$ 13 bilhões – o
chamado collar financing. “A estrutura de financiamento limita os
riscos”, afirmou Lewin.
Pela estrutura, a Cosan comprou o equivalente a 1,5% em ações da
Vale de forma direta no mercado e 3,5% via instrumentos financeiros
derivativos com proteção para queda do preço das ações da Vale.
A Cosan pode ainda comprar mais 1,6%, em posição feita com
estrutura de derivativos também com proteção de queda do preço das
ações da Vale. Nesse caso, a operação de derivativos poderá ser
convertida em uma estrutura com direito a voto, após aprovação da
operação pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Com isso, o grupo criado pelo empresário Rubens Ometto pode chegar
a 6,5% da mineradora, uma posição avaliada em R$ 22 bilhões.
O empréstimo-ponte será refinanciado por uma operação de
‘equity’, com ações preferenciais de Raízen e Compass que não
afetam o endividamento da Cosan, afirmou seu diretor financeiro. “É
importante destacar que a Cosan não precisará emitir ações para
financiar o pagamento do colar financing derivativo”, disse
Martins.
Sobre potenciais formas de pagar o financiamento da operação, os
executivos explicaram que a Cosan tem “diversas alternativas”,
incluindo a venda de participações minoritárias dos ativos nos
próximos anos. O grupo também pode usar dividendos de suas empresas
e da Vale para o pagamento.
Além disso, a estrutura de derivativos permite o desmonte da
operação através da venda das ações para os bancos, sem risco de
crédito para a Cosan. “Podemos também refinanciar a estrutura,
alongando o prazo ou fazer o pagamento do collar financing,
desfazendo da operação de derivativos e ficando expostos à ação da
Vale”, afirmou o diretor.
A diretoria da Cosan explicou que a entrada do grupo na Vale se
dá em um momento favorável para a criação de valor para o portfólio
da Cosan. “Ela é um ativo cujos principais produtos são essenciais
na economia e relevantes para a transição energética”, afirmou
Lewin.
VISÃO DO MERCADO
BTG Pactual
A entrada de um acionista com um extenso histórico de criação de
valor como a Cosan é positivo para a Vale, diz o BTG Pactual. A
aposta da companhia reforça a tese positiva que as ações da
mineradora estão subvalorizadas, afirma o banco.
Os analistas Leonardo Correa, Caio Greiner e Bruno Lima escrevem
que há potencial para a Cosan agregar um diálogo construtivo na
empresa ao adicionar um ativo que diversifica seu portfólio.
“Em última análise, nossa percepção de que a Cosan deseja
participar ativamente do processo de tomada de decisão da Vale o
que implica uma representação de longo prazo no conselho”,
comentam.
O movimento, que acontece em um momento de pessimismo do
mercado, mostra que a Cosan está de olho no potencial de
valorização das ações, tornando esse o melhor momento para comprar
os papéis.
“A administração da Cosan vê a Vale como uma combinação perfeita
de um negócio maduro com pagamentos de dividendos relevantes, mas
também com grande exposição ao tema da transição energética”,
afirmam os analistas.
BTG Pactual tem recomendação de compra para Vale, com preço-alvo
em R$ 90.
Credit Suisse
O anúncio pela Cosan da aquisição de uma participação de 4,9% na
mineradora Vale e uma exposição adicional de 1,6% sem direito a
voto é um movimento ousado e inesperado, e ainda não é possível
saber se criará valor, avalia o Credit Suisse, em relatório.
Os analistas Regis Cardoso e Marcelo Gumiero escrevem que o
anúncio segue um período recente de valorização das ações da Vale.
“A questão realmente é a materialidade desse negócio em relação à
exposição ao risco, alavancagem e custos de financiamento”,
dizem.
Segundo eles, essas preocupações são parcialmente abordadas por
uma estrutura de transação que envolve financiamento sem recurso
com duração flexível; spreads de “collar” para limitar o lado
negativo (e positivo) do patrimônio em 5% da participação de 6,5%;
e garantias para redução dos custos de financiamento.
Para os analistas, a Cosan está usando alavancagem para adquirir
uma exposição patrimonial na Vale, e se isso agrega valor dependerá
de como essa tese se desenrola. A Cosan planeja exercer influência
sobre a Vale, mas será limitada e não há sinergias claras entre os
dois grupos, dizem eles.
Por fim, a liberação do financiamento dependerá da rotação dos
demais ativos maduros da Cosan, dizem os analistas, e embora a
Cosan pretenda vender ativos, isso pode se tornar uma vantagem para
Raízen e Rumo no futuro se as ações se valorizarem substancialmente
em relação aos níveis atuais.
Credit Suisse tem recomendação de compra com preço-alvo de R$
23,00…
Itaú BBA
O impacto na Vale da aquisição de participação que a Cosan
anunciou na última sexta-feira é limitada no curto prazo, diz o
Itaú BBA. O banco não espera alterações na estratégia da
mineradora.
Os analistas liderados por Daniel Sasson escrevem que
investidores podem enxergar com bons olhos a entrada de um
acionista de referência com expertise em planejamento estratégico,
mas que a Cosan não tem experiência em mineração.
“Suas contribuições em potencial para a Vale precisarão ser
provadas”, comentam. Em teleconferência, a Cosan disse que enxerga
potencial nos produtos de minério da Vale e em sua unidade de
metais básicos.
O banco não acredita que a entrada da Cosan como sócia da Vale
vai alterar suas iniciativas próprias em mineração, como a
aquisição do Porto São Luís e a formação de uma companhia com o
Grupo Paulo Brito para exploração de minério em Carajás (PA).
Itaú BBA tem recomendação neutra para Vale, com preço-alvo em
US$ 15 para os recibos de ação (ADRs) negociados na Bolsa de Nova
York (Nyse).
J.P. Morgan
A Vale não deve ter mudanças materiais em sua estratégia de
negócios com a entrada da Cosan como acionista relevante, diz o
J.P. Morgan. O banco americano diz que a empresa pode trazer uma
expertise de bons resultados em investimentos, mas que a falta de
experiência em mineração limita seu impacto.
Os analistas liderados por Lucas Ferreira escrevem que
historicamente a Cosan é uma boa alocadora de capital, mas que a
maior parte dos seus investimentos são em empresas com sinergias
claras ou que possam contribuir para sua reestruturação, o que não
é o caso da Vale.
“Neste sentido, a aquisição da participação nos parece até o
momento como um investimento financeiro e de valor, com a Cosan
vendo potencial de alta nas ações da Vale”, comentam. A empresa
deve indicar um conselheiro para o colegiado da mineradora.
Eles apontam que a estrutura da operação limita impactos na
alavancagem da Cosan, que já é elevada, mas sua dívida bruta
aumenta por conta dos empréstimos-ponte realizados com bancos para
financiar a operação, que são compensados pelos “collars” que
deixam os ativos sempre prontos para serem vendidos.
JP Morgan tem recomendação de compra para Vale, com preço-alvo
em R$ 95,00…
JP Morgan tem recomendação neutra para Cosan, com preço-alvo em
R$ 24,50…
Informações Broadcast
COSAN ON (BOV:CSAN3)
Gráfico Histórico do Ativo
De Mar 2024 até Abr 2024
COSAN ON (BOV:CSAN3)
Gráfico Histórico do Ativo
De Abr 2023 até Abr 2024