Para um banco que tem seu patrimônio líquido investido em títulos do Tesouro Nacional, parece interessante que os juros da economia sejam mantidos em patamares elevados. O ABC Brasil terminou o primeiro trimestre de 2023 com um patrimônio líquido de R$ 5,303 bilhões, montante que é remunerado pelo CDI e vinha incrementando a margem financeira da instituição desde que o ciclo de aperto monetário no país começou. Mas não é com esse tipo de rentabilidade que o banco está preocupado agora. Na verdade, a queda da Selic é aguardada com expectativas positivas.

“O impacto [da queda de juros] de um nível de atividade econômica mais forte e de mais clientes tomando dinheiro é mais importante para a organização do que o impacto da Selic sobre o patrimônio”, afirmou Sergio Lulia, CEO do ABC Brasil em entrevista ao InfoMoney.

Até o final do último mês de março, a carteira de crédito expandida do banco, especializado em conceder empréstimos para empresas, era de R$ 43,652 bilhões, volume 16,2% maior que um ano antes. Mas, como em todo cenário de juros muito elevados, a concessão de crédito pelas instituições financeiras ficou mais seletiva e não foi diferente no ABC Brasil (BOV:ABCB4).

“A própria demanda por crédito cai, o que é uma das intenções da autoridade monetária ao deixar a taxa de juros mais alta”, diz Lulia. “E até mesmo nos casos em que a demanda continua, alguns projetos nas empresas deixam de ser viáveis”. Com o início do ciclo de alívio, aliado a uma inflação mais controlada, o executivo espera uma melhora no ambiente de negócios e que os comitês de crédito fiquem mais positivos em relação à promoção de linhas de financiamento.

Assim como os “bancões”, o ABC Brasil também viu um aumento nas operações com atraso ao longo dos últimos trimestres, sobretudo no segmento middle, de empresas com faturamento entre R$ 30 milhões e R$ 300 milhões. Mas, na avaliação de Lulia, a inadimplência “se comportou muito bem”, dada a taxa de juros da economia no período. “A expectativa nossa e de alguns agentes é de que pudesse ser pior do que foi”.

O CEO do banco diz que a inadimplência está sob controle, não só no ABC Brasil, quanto em todo o sistema financeiro. “Parece ter atingido um platô nos primeiros meses do ano e minha impressão é a de que o próximo movimento vai ser de uma queda”.

Ainda na avaliação de Lulia, as grandes empresas estão bem em termos de atraso de pagamentos de empréstimos, tirando casos específicos. No primeiro trimestre deste ano, o banco provisionou R$ 104,7 milhões para devedores duvidosos. No balanço dos três últimos meses de 2022, o PDD foi de R$ 119,2 milhões, incluindo os R$ 117 milhões para o caso específico de Americanas.

A queda dos juros também deve destravar o plano de crescimento que a instituição financeira vem implementando ao longo dos últimos três anos. “Essa estratégia só se beneficia de uma taxa de juros mais baixa”, diz Lulia. Com o início do ciclo de alívio monetário, o banco espera ampliar o número de clientes, sobretudo no middle market, e cresça também em ativos, avançando em produtos como seguros e sua comercializadora de energia.

O ABC Brasil também tem uma recuperadora de crédito, que começou com a aquisição de uma carteira de empréstimos inadimplentes de um grande banco e hoje administra recebíveis não performados de uma siderúrgica.

“Muitas empresas não financeiras têm contas a receber inadimplentes e não sabe o que fazer com aquilo”, diz Lulia. A recuperadora de crédito do ABC Brasil atua de duas maneiras. Ela pode adquirir a carteira de recebíveis e correr o risco da recuperação de crédito, embolsando integralmente o resultado (ou prejuízo). Mas também pode atuar como prestadora de serviço, fazendo a cobrança dos débitos e dividindo o crédito recuperado com o cliente.

“Acho que podemos trazer um nível de especialização na cobrança que as empresas sozinhas não têm condições de resolver”, afirma o CEO.

De acordo com Lulia, hoje o crédito corresponde a 60% das receitas do banco com clientes. Quatro anos atrás, essa fatia era de 80%, o que mostra uma diversificação e crescente participação desses outros produtos no faturamento.

O CEO também destaca o desempenho da parte de banco de investimentos, que este mês foi separado em outro CNPJ, mas segue sob controle do banco e regido pela mesma governança. Segundo Lulia, o objetivo é trazer executivos do mercado e profissionais experientes para desenvolver essa linha de negócios por meio de um sistema de partnership.

“O banco de investimentos veio muito bem, principalmente na parte de renda. Fazemos M&A, fizemos bons deals, mas dá para crescer”, explica o executivo.

VISÃO DO MERCADO

BTG Pactual

A equipe de research do BTG Pactual tem recomendação de compra e estabeleceu preço-alvo de R$ 25. Os analistas dizem ser “grandes fãs” do time de gestão do banco e enxergam tendências positivas para os próximos trimestres e anos.

“Ultimamente o ABC tem trabalhando em outros projetos para aumentar a rentabilidade no longo prazo e torná-lo menos sensível às altas e baixas da taxa Selic”, diz o BTG. A casa também faz uma avaliação positiva dos lucros que o banco tem entregado e da qualidade de seus ativos, vendo “sólidas vias de crescimento”.

Guide Investimentos

Em julho, a Guide incluiu os papéis do ABC Brasil em sua carteira recomendada de dividendos. De acordo com os analistas da casa, o valuation do banco está descontado e deve se beneficiar com o início do corte de juros.

“Por mais que não dependa de juros baixos para entregar uma boa performance operacional, uma vez que tem boa parte da margem financeira relacionada a remuneração do patrimônio líquido pelo CDI, o maior apetite por risco, as expectativas de alívio no endividamento das companhias e maior atividade na vertifical de mercado de capitais e dívidas são fatores que devem favorecer o banco”, avalia a Guide.

O preço-alvo da casa para ABCB4 é de R$ 22, o que representa um potencial de valorização de 21,01% em relação ao preço de fechamento desta segunda-feira (17).

JP Morgan

O JP Morgan acredita que o ABC Brasil tem a estratégia certa, ao focar em grandes e médias empresas e diversificar sua base de receitas. Porém avalia que uma piora no segmento corporativo poderia comprometer os ganhos de curto prazo do banco.

JPMorgan tem recomendação neutra com preço-alvo de R$ 24,00.

Até o fechamento de ontem, os ativos do banco acumulavam alta de mais de 22% em 2023.

Informações Infomoney
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