O Grupo Casas Bahia tem, um evento importante, que pode impactar o futuro da companhia bem como o valor das suas ações: credores da empresa se reúnem para decidir se exercerão um covenant (cláusulas contratuais junto às instituições financeiras credoras) de uma debênture.

A dívida em questão, um certificado de recebíveis imobiliários (CRI) com lastro na oitava emissão de debêntures da empresa, foi emitida em 2022, na ordem de R$ 420 milhões.

Uma das cláusulas restritivas da emissão impunha que os financiadores poderiam antecipar a cobrança no caso de a avaliação de rating da varejista cair – o que aconteceu no começo de setembro, com o S&P revisando as debêntures de brAA- para brA-. É o exercício dessa cláusula que será decidida hoje, na reunião convocada pela securitizadora Opea.

A questão é que o Grupo Casas Bahia (BOV:BHIA3) está em um momento difícil. Em meio a uma reestruturação, na qual fechará lojas e descontinuará categorias, a companhia está com uma situação de caixa delicada, queimando capital trimestre após trimestre. Para se ter uma ideia, os papéis ordinários da empresa já acumulam queda de mais de 70% no ano.

Ela chegou, recentemente, a fazer uma oferta subsequente de ações (follow on) pra fortalecer seu capital de giro – movimento que ainda teve baixa performance, já que do R$ 1 bilhão visado foram levantados apenas R$ 622 milhões através da emissão.

“Essa possível antecipação pode ocorrer por conta do rebaixamento de uma agência de rating, do S&P, da nota de crédito desse título da empresa. Por conta, obviamente, da situação que a empresa se encontra hoje, houve um aumento da alavancagem financeira. Isso acabou elevando o risco da empresa e consequentemente dos seus títulos, o que aumenta o risco de investimento para os seus credores”, explica Victor Bueno, sócio e analista da Nord Research.

Grupo Casas Bahia pode queimar capital levantado em follow on

O analista pontua que no caso de o vencimento ser adiantado quase todo o montante ganho no follow on seria gasto para pagar as debêntures. Com isso, a situação de caixa do Grupos Casas Bahia tende a regredir novamente.

“Pode gerar antecipações de outros títulos da empresa, outros títulos de dívida; enfim, que poderiam ser ainda pior para esses planos da companhia serem realizados nos próximos anos. Isso poderia gerar um efeito em cadeia muito negativo para os números da companhia e poderia atrapalhar totalmente a estratégia que a empresa vem tentando desenhar para contornar toda a situação que ela vem apresentando”, fala Bueno.

É claro que os credores sabem que antecipar a dívida pode prejudicar a situação da antiga Via. Não deixa de ser provável, no entanto, que alguns detentores das dívidas, expostos apenas às debêntures em questão, optem pelo adiantamento.

“É uma assembleia que precisa ter um quórum mínimo de 25% dos credores, sendo que a maioria precisa votar para antecipação ou não para que ela passe. Obviamente, a empresa vai tentar contornar essa situação. O Grupo Casas Bahia possivelmente vai propor um aumento da remuneração para os seus credores para manter os vencimentos dos títulos até 2027 e 2029”, acrescenta.

Executivos buscarão decisão positiva

Para o especialista da Nord, os executivos da varejista também tentarão mostrar seus planos de reestruturação e irão apresentar as expectativas de melhora para a empresa nos próximos anos.

“Se realmente votarem por uma antecipação, isso pode ‘melar’ grande parte do plano de reestruturação por conta do use desses recursos. Eles foram captados recentemente exatamente para equilibrar as suas contas e desenhar melhor um futuro para a companhia”, aponta.

Lucas Lima, analista da VG research, neste ponto, traz uma mensagem mais otimista, destacando que a empresa ainda tem boa relação com seus credores.

“Acredito que esse valor não tem impacto relevante quando comparamos com o endividamento total da empresa, Outro ponto é que quase 70% da dívida da empresa está com prazo de vencimento acima de 1 ano, o que dar um alívio no curto prazo ainda”, acrescenta.

Caroline Sanchez, analista da Levante Corp, por fim, afirma que o dia hoje será decisivo para o Grupo Casas Bahia.

“No caso dessa antecipação se concretizar, o impacto na varejista seria bem negativo, tanto pelo lado da possibilidade de que isso crie precedentes para a antecipação de outras dívidas quanto pela ótica do follow on recente, que perderia o seu efeito”, expõe a especialista.

“Dessa forma, com cerca de R$ 14 bilhões em dívidas, uma possível antecipação das dívidas poderia levar a varejista para o caminho da recuperação judicial”, menciona.

Cenários no radar

Na mesma linha, a Genial Investimentos avalia que, após uma série de reestruturações, o Grupo Casas Bahia passará por mais um importante teste para “cardíaco” nesta terça.

Em relatório, os analistas da casa apontam que existem basicamente dois possíveis caminhos a serem votados.

No cenário 1, os credores solicitam antecipação da dívida. Com um valor superior a R$ 30 milhões, o pedido de antecipação do CRI poderia acionar a cláusula de antecipação de outras debêntures – o qual totalizaria um montante de aproximadamente R$ 3,2 bilhões os quais poderiam ser antecipados de forma imediata.

Em dados consolidados no 2º trimestre, a companhia mantinha R$ 874 milhões em Caixa e Equivalentes e R$ 4,9 bilhões em Contas a Receber – sendo R$ 4,4 bilhões a receber nos próximos 12 meses.

Assim, eles reforçam que, mesmo diante da captação de R$ 622 milhões do follow on, a antecipação das dívidas comprometeria as atividades da Casas Bahia, uma vez que a companhia não suportaria financiar o capital de giro para manter as suas operações ao longo dos próximos trimestres.

“Sem dúvidas, este configuraria o pior dos cenários – mas com menor probabilidade de acontecer. A falta de acordo entre os credores e a companhia seria letal para a Casas Bahia, culminando em um efeito dominó que poderia levar a companhia a realizar o pedido de Recuperação Judicial”, aponta a equipe de análise.

No cenário 2, os credores aceitam renegociar a dívida. Com a maior concentração dos CRIs em bancos parceiros, existe a intenção em renegociar os termos da dívida – afinal, ninguém estaria interessado no cross-aceleration que a antecipação poderia culminar. A renegociação da dívida é o caminho mais benéfico para ambas as partes.

“Para não antecipar o pagamento de CRI, e culminar em uma ‘asfixia’ da companhia, com o vencimento antecipado de outras dívidas, a Casas Bahia deve renegociar o pagamento da 20ª Emissão de CRI (e consequentemente debênture lastreada à dívida). Em termos práticos, isso implicaria em um aumento do spread de remuneração do CRI e, adicionalmente, o pagamento de um prêmio sobre o Valor Nominal Unitário da dívida”, aponta.

Neste cenário, o impacto de despesas financeiras se torna maior do que o projetado anteriormente, contudo, a Casas Bahia consegue um alívio no curto prazo, de maneira a encaminhar o seu plano de reestruturação de volta aos eixos, avaliam os analistas da Genial.

Na visão da casa, o plano de transformação de Casas Bahia é coerente, afinal é necessário corrigir o fluxo de caixa da companhia. Contudo, ventos contrários, como o aumento de spread de dívidas da companhia, podem dificultar a execução de estratégia no curto prazo. A Genial tem recomendação de manutenção para os papéis, com preço-alvo de R$ 0,90.

  • Credores decidem não declarar vencimento antecipado

A Casas Bahia anunciou que detentores de certificados de recebíveis de imobiliários (CRIs) da securitizadora Opea decidiram não cobrar antecipadamente o pagamento dos títulos pela empresa, mediante oferta de remuneração adicional pelo grupo.

A companhia afirmou que os detentores de CRIs da 20ª emissão da Opea, lastreados em debêntures da rede de varejo, aceitaram o não vencimento antecipado, depois que a empresa ofereceu remuneração adicional dos CRIs, além de pagamento de prêmio.

A dívida em questão, um certificado de recebíveis imobiliários (CRI) com lastro na oitava emissão de debêntures da empresa, foi emitida em 2022, na ordem de R$ 420 milhões.

Uma das cláusulas restritivas da emissão impunha que os financiadores poderiam antecipar a cobrança no caso de a avaliação de rating da varejista cair – o que aconteceu no começo de setembro, com a S&P revisando a classificação da debêntures de brAA- para brA-. É o não exercício dessa cláusula que foi decidida hoje, na reunião convocada pela securitizadora Opea.

Como contraparte, o Grupo Casas Bahia anunciou que os CRIs serão acrescidos de um spread complementar de 0,55% e que a companhia pagará um prêmio flat equivalente a 0,25%, multiplicado pelo prazo médio ponderado remanescente.

O pagamento do Prêmio será efetuado no ambiente da B3, sendo certo que somente farão jus ao Prêmio os Titulares dos CRI que forem titulares dos CRI no fechamento do dia útil imediatamente anterior à Data de Pagamento do Prêmio.

A decisão dos credores afasta o temor de que a varejista poderia enfrentar problemas maiores.

Em um mau momento de caixa, ela chegou, recentemente, a fazer uma oferta subsequente de ações (follow on) pra fortalecer seu capital de giro – movimento que ainda teve baixa performance, já que do R$ 1 bilhão visado foram levantados apenas R$ 622 milhões através da emissão. A antecipação da dívida, para analistas, pioraria novamente a situação do Grupo Casas Bahia.

VISÃO DO MERCADO

As ações ordinárias da varejista entraram em leilão às 10h46 (horário de Brasília) por conta da divulgação do fato relevante, publicado às 10h51. A ação voltou a negociar às 11h17, caindo 1,59%, a R$ 0,62.

A ação às 15h09 recuava 4,8%, a R$ 0,60.


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