A Cogna, grupo de educação dono da Vasta, Saber, Kroton,
reportou prejuízo líquido ajustado de R$ 44,056 milhões no terceiro
trimestre de 2023, queda de 70,1% frente o prejuízo ajustado de R$
147,472 milhões registrados em igual período do ano passado,
informou a companhia.
Em termos não ajustados, a Cogna teve queda anual de 51,5% no
prejuízo líquido, saindo de R$ 211,313 milhões no 3T22 para
resultado negativo de R$ 102,585 milhões no 3T23. A projeção média
dos analistas de mercado, segundo consenso LSEG, era de prejuízo de
R$ 110,51 milhões.
A receita líquida, por sua vez, registrou alta anual de 19,3%,
para R$ 1,27 bilhão, praticamente em linha com a projeção LSEG de
R$ 1,234 bilhão.
No período, o lucro antes de juros, impostos, depreciações e
amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) recorrente cresceu 31,9%
e atingiu R$ 305,76 milhões. No acumulado do ano, o número é de R$
1,1842 bilhão, crescimento de 19,8% versus o acumulado de 2022.
Com isso, a margem Ebitda (Ebitda sobre receita) recorrente
subiu 2,3 pontos percentuais (p.p.) ano a ano, para 24,1%.
“É um crescimento bastante forte não só para uma empresa do
setor de educação. São poucas as empresas estão crescendo tanto
assim. O Ebitda está crescendo mais de 30% e no trimestre passado
também registrou um crescimento bastante forte. A gente também
continua ganhando em rentabilidade porque a margem Ebitda cresceu
2,3 pontos percentuais. Então, apesar de pressão de custo com
presencialidade na Kroton e de papel e gráfica na Vasta e na Saber,
a gente tem conseguido ganhar eficiência”, avaliou Roberto Valério,
CEO da Cogna, ao InfoMoney.
Ele destacou ainda que o mais importante a ser ressaltado é a
geração de caixa, que já ultrapassou no acumulado dos primeiros
três trimestres do ano o valor total registrado em 2022.
A geração de caixa operacional (GCO) após capex totalizou R$
254,79 milhões no trimestre, uma alta de 36,6% anual. No acumulado
dos nove primeiros meses do ano, ressalta a companhia, o GCO após
capex foi de R$ 652,7 milhões, ante R$ 540,3 milhões no ano inteiro
de 2022.
“Este resultado é consequência da estratégia asset light, com
aumento de conversão de Ebitda recorrente em caixa (+2,8 p.p.) e
crescimento de Ebitda Recorrente, entre os trimestres”, apontou a
Cogna no release de resultados.
Ao InfoMoney, Valério ressaltou ainda que há uma expectativa
positiva de geração de caixa para o quarto trimestre, que costuma
ser um trimestre positivo para a Saber, com o faturamento do
Programa Nacional de Livro e Material Didático (PNLD).
Com esse cenário, as ações de gestão de passivos da Cogna,
somadas ainda à geração de caixa e Ebitda, permitiram a redução da
alavancagem de 2,15 vezes para 1,88 vez a relação dívida líquida
versus Ebitda entre o 3T22 e o 3T23. “O 3T23 é o quarto trimestre
consecutivo de redução desse múltiplo. Esse é o menor nível de
alavancagem em 18 trimestres, desde o 4T18”, apontou o release de
resultados.
“Dizemos que a empresa gabaritou porque todos os números foram
bons, em todas as linhas, apesar do contexto de juros altos. O
principal indicador é a geração de caixa, que é importante para
continuarmos a crescer e a investir e ao mesmo tempo reduzir a
nossa dívida”, reforça o CEO.
Nesse contexto, ele vê como positivo o início do ciclo de queda
de juros pelo Comitê de Política Monetária (Copom) em agosto deste
ano. “Cada um ponto de redução da Selic representa R$ 33 milhões a
mais na geração de caixa, então também é relevante”, afirma.
Kroton, Vasta e Saber
Na unidade de ensino superior Kroton, a receita líquida cresceu
8,4% no 3T23 versus 3T22, alcançando R$ 829,4 milhões e
representando o quinto trimestre consecutivo de avanço.
Este aumento reflete o efeito composto de safras crescentes,
afirma a companhia, apontando que merece destaque por ser um
crescimento acima de uma base que teve um aumento de 11,7% no ano
anterior.
A Cogna ainda pontua que, em fevereiro de 2023, o setor de
educação passou a ter deduções maiores do FIES, dada a
inadimplência das carteiras. Já em agosto de 2023, foi concedida
uma liminar à empresa que determina um teto de 25% em tais
retenções.
Com isso, no 3T23 a companhia passou a retirar da receita
líquida a retenção adicional, impactando negativamente em
aproximadamente R$ 10,0 milhões esta linha do resultado da Kroton.
Os valores retidos no primeiro semestre foram provisionados nas
Provisões para Créditos de Liquidação Duvidosa (PCLD) em
aproximadamente R$ 21 milhões, sendo que o maior impacto desse
movimento foi em Kroton Med, segmento que conta com a maior
participação do FIES.
Para os próximos trimestres, a provisão será de 27,5% em função
da sanção da lei 4.172/2023 o que, para o CEO da Cogna, apesar de
ter ser relevante em termos absolutos por “representar alguns
milhões de geração de caixa”, não será tão expressivo em comparação
com a geração de receita da companhia como um todo.
O volume total de alunos captados no ciclo do segundo semestre
de 2023 da Kroton apresentou um crescimento de 5,3% em relação ao
2S22, atingindo um volume total de 303,3 mil alunos. Este
crescimento é concentrado na modalidade Baixa Presencialidade,
conforme estratégia da companhia de aumentar participação de
receita de cursos digitais de forma a absorver os ganhos com
alavancagem operacional e atendendo às mudanças de perfil de
consumo do mercado.
O volume de captação em Baixa Presencialidade cresceu 6,6% entre
o 2S23 e 2S22. Este crescimento é composto por: crescimento de
11,4% do volume de alunos captados no subsegmento Semipresencial e;
crescimento de 5,9% em 100% online. Já o volume de captação em Alta
Presencialidade ficou quase estável no período, consequência da
estratégia de racionalização de oferta da submodalidade presencial,
com foco em cursos de maior Life Time Value (LTV, sendo um
indicador importante do valor durante o ciclo de estudo), e da
estratégia asset light.
A taxa de evasão da Kroton apresentou redução de 1,4 ponto
percentual (p.p.) no comparativo entre 3T23 e o 3T22, com redução
de 1,1 p.p. na Baixa Presencialidade e 1,8 p.p. na Alta
Presencialidade. Segundo a companhia, o movimento é “reflexo da
qualidade da captação, melhora do nível de satisfação dos alunos
(NPS) e da evolução dos nossos processos e melhoria dos
sistemas”.
O Ebitda recorrente do 3T23 para a Kroton cresceu 17,6% no
trimestre, atingindo a marca de R$ 243,9 milhões, com uma expansão
de margem de 2,3 p.p. (29,4% versus 27,1%), com a melhora das
Provisões para Crédito de Liquidação Duvidosa (PCLD), maior
diluição das despesas operacionais, além da melhora da margem
bruta, que compensaram o aumento das Despesas com Venda e Marketing
em trimestres anteriores com o objetivo de consolidar a marca
Anhanguera.
A linha de Provisões para Créditos de Liquidação Duvidosa (PCLD)
do 3T23 totalizou R$ 78,6 milhões no 3T23, redução de 22,4% na base
anual, resultando em redução da razão entre PCLD e ROL (receita
operacional líquida) de 13,2% para 9,5%.
“Com o cenário macroeconômico atual, esperamos manter o
indicador de PCDL/ROL no mesmo patamar do indicador divulgado no
2T23 (11,2%). Continuamos com o foco em consolidar a marca
Anhanguera e por isso, a razão entre Despesas de Vendas e Marketing
e ROL, cresceu 3,9p.p.”, apontou.
Na KrotonMed, a receita líquida teve um crescimento de 11,5%
versus 3T22, atingindo R$ 149,1 milhões. “Destaque para a força da
marca das unidades de KrotonMed que segue com uma relação
candidato/vaga positivo e estável, além de uma taxa de rematrícula
muito elevada”, afirma a companhia.
A divisão Vasta, de produtos para escolas de ensino básico,
apresentou crescimento de 21,7% no número de alunos que adotam
soluções complementares, alcançando 453,6 mil alunos no ciclo de
2023. “Este crescimento é motivado pela maior penetração de escolas
parcerias que adotam uma ou mais soluções”, apontou.
O número de alunos em soluções core reduziu em 3,2% entre os
ciclos comerciais de 2022 e 2023, alinhado com a estratégia up sell
(que convida a considerar/comprar itens mais caros, atualizações ou
outros complementos para gerar mais receita) que foca em aumentar a
penetração de soluções premium na base de clientes (Anglo, PH e
Fibonacci), gerando maiores tickets e relacionamentos mais longos,
afirma a empresa.
A receita líquida atingiu R$ 257,9 milhões no 3T23, crescimento
de 36,6% comparado com 3T22.
Para a Saber, a Cogna ressalta que o segundo semestre do ano é
muito importante para a divisão, uma vez que é quando há a
definição do Programa Nacional de Livro e Material Didático
(PNLD).
“Esse ano a compra foi realizada para o ensino fundamental II,
onde Saber ganhou 7 pontos percentuais de market share versus a
compra de 2019, atingindo 33%. Com isso somos o líder no mercado de
compra e recompra dos próximos 3 anos para o ensino fundamental II.
O resultado da venda inicial deve ser reconhecido no 4T23, conforme
cronograma de entrega dos livros”, destacou a companhia.
Os resultados da Cogna (BOV:COGN3)
referentes às suas operações do terceiro trimestre de 2023 foram
divulgados no dia 08/11/2023.
VISÃO DO MERCADO
Itaú BBA
O Itaú BBA também aponta que a Cogna reportou um sólido
crescimento de receitas de 19%, impulsionado pelo desempenho
positivo em todas as unidades de negócios.
“O destaque ficou com a Kroton, que apresentou bom crescimento
da base de alunos e tendência saudável de ticket (preço) médio. Em
termos de rentabilidade, a empresa apresentou um forte aumento de
32% no resultado operacional (Ebitda) ajustado, superando nossa
estimativa em 7,6% e levando a uma expansão de margem anual de 2,3
pontos percentuais”, aponta o banco.
Já o BBA tem recomendação de “compra” para COGN3, com preço-alvo
de R$ 4 ao final de 2024.
Genial Investimentos
A Genial ressalta que, dentro de Kroton, a estratégia da
companhia em focar na Baixa Presencialidade (BP) tem surtido
efeitos positivos, com o benefício da alavancagem operacional.
Resultado disso, o volume da captação de BP cresceu 6,6% versus o
2S22, sendo o destaque para o Semipresencial crescendo 11,4% na
mesma base comparativa.
No todo, a Kroton cresceu 6,9% sua base de alunos ultrapassando
a marca de 1 milhão de alunos. Destaque também em Kroton foi a
redução da taxa de evasão, reduzindo -1,4 p.p. ano contra ano,
saindo de 17,9% para 16,5% em bases totais, avalia a casa.
Em Vasta, como esperado, a companhia ficou ligeiramente abaixo
do seu guidance do ACV (valor anual do contrato) contratado, com
17,9% versus uma projeção de 20%. “O efeito do cenário
macroeconômico e aperto monetário, fez com que o acesso ao crédito
das escolas reduzisse e, por consequência, impactasse o atingimento
por completo do guidance. Dito isso, a unidade tem apresentado bons
números, principalmente quando falamos da receita recorrente”,
avalia.
“Como temos visto nos últimos trimestres, a linha do resultado
financeiro ainda deprecia bastante os ganhos operacionais da
receita da companhia, fazendo com que a companhia consolide um
prejuízo líquido de R$ 102,6 milhões”, aponta a casa, que tem
recomendação de manutenção para o ativo, com preço-alvo de R$
3.
A XP também tem recomendação neutra, com preço-alvo de R$ 3,30.
Os analistas ponderam que a alavancagem (considerando arrendamentos
e financiamento de fornecedores) permanece elevada – em 4,0 vezes o
Ebitda ajustado – embora observem que a empresa está aplicando os
esforços necessários para reduzi-la. “Por mais um trimestre vemos
os resultados como positivos, mas continuamos céticos devido ao
valuation e à alavancagem financeira”, afirma.
XP Investimentos
Na visão da XP, a Cogna reportou resultados ligeiramente
positivos no 3T23, com aumento de receita e margem Ebitda pelo
forte desempenho nas três unidades de negócios (Kroton, Vasta e
Saber).
“Destacamos que a Kroton apresentou mais um trimestre de
continuidade do seu processo de recuperação, com crescimento do
volume sem queda dos tickets, além de significativa redução de PDD
(provisões)”, avalia.
* Com informações da ADVFN, RI das empresas, Valor, Infomoney,
Estadão
COGNA ON (BOV:COGN3)
Gráfico Histórico do Ativo
De Set 2024 até Out 2024
COGNA ON (BOV:COGN3)
Gráfico Histórico do Ativo
De Out 2023 até Out 2024