A Eletrobras pretende usar seu enorme portfólio de usinas hidrelétricas para atender projetos de descarbonização de grandes clientes, entregando energia renovável para produzir hidrogênio verde e “e-combustíveis” com custos bastante competitivos, disse à Reuters o vice-presidente de comercialização da companhia.

Com um parque gerador que supera 44 gigawatts (GW) de potência, boa parte concentrado em mais de 30 hidrelétricas espalhadas por todo o país, a Eletrobras tem uma vantagem competitiva para produzir o combustível renovável por oferecer energia “flat”, isto é, sem as variações e intermitências da geração eólica e solar.

“O eletrolisador (para produção de hidrogênio), quanto mais funciona, quanto mais é utilizado, mais competitiva fica a molécula… Esse ’24/7′ renovável, para uma alta taxa de utilização, só se consegue com hidrelétrica”, disse Ítalo Freitas em conversa com a Reuters.

“Você pode ter a fonte eólica, a fonte solar, mas inevitavelmente virá para a hidrelétrica para ‘fletar’ (estabilizar) essa curva… E quem é que tem hidrelétrica no Brasil? A Eletrobras”.

A Eletrobras (BOV:ELET3) (BOV:ELET5) (BOV:ELET6) recebeu na semana passada uma certificação da origem renovável do hidrogênio verde produzido em sua planta-piloto instalada na usina hidrelétrica de Itumbiara (MG/GO), a primeira do tipo a entrar em operação no Brasil, onde já foram produzidas 3 toneladas do combustível desde 2021.

A companhia já tem mapeadas outras hidrelétricas do grupo que poderiam receber projetos de hidrogênio verde, disse Freitas, sem entrar em detalhes.

A maior companhia elétrica da América Latina está estudando como atuará nessa indústria ainda nascente, e vê oportunidade para ser sócia de projetos junto a outras empresas focadas na produção do hidrogênio e “e-combustíveis” (derivados do hidrogênio), ou apenas fornecedora da energia renovável necessária para o processo.

“Se alguém colocar (uma planta de hidrogênio verde) lá em Suape, ou em Pecém, eu tenho todo o sistema Eletrobras da Chesf. Se alguém quiser colocar no Norte, temos Tucuruí, Santo Antônio. Se alguém quiser colocar no Sul e Sudeste, temos Furnas. Então eu consigo entregar energia 100% renovável para essas plantas.”

“A nossa especialidade vai até a eletrólise… mas a parceria com um cliente que queira o ‘e-combustível’ também está na mesa”, disse, citando como exemplos a amônia verde, o e-metanol e o diesel verde (HVO).

Segundo Freitas, nas negociações para projetos futuros a Eletrobras está focando principalmente em atender “a demanda dos clientes”, seja ela interna ou externa, mas pontuou que a exportação do combustível não seria um processo tão simples.

O hidrogênio verde, que pode ser obtido por meio da eletrólise da água utilizando energia renovável, desponta como uma importante rota para reduzir emissões de setores de difícil descarbonização, como transportes e siderurgia.

Sua aplicação vem atraindo o interesse de grandes empresas que miram a transição energética e produção mais sustentável, como ArcelorMittal, Unigel e Petrobras.

O governo brasileiro está avaliando a possibilidade de conceder incentivos para a estimular a nova indústria, uma medida vista como necessária pelo setor produtivo para reduzir custos e viabilizar projetos bilionários, enquanto o Congresso discute um marco regulatório para o segmento.

ENERGIA DISPONÍVEL

As soluções de descarbonização integram a nova área da Eletrobras para comercialização de energia elétrica, que ganhou mais robustez e importância para a companhia após a privatização realizada no ano passado.

Os novos contratos das hidrelétricas assinados na privatização preveem uma mudança do regime de comercialização, permitindo que a Eletrobras possa negociar livremente parte de sua energia no mercado livre, desvinculando-se do antigo regime de cotas.

“A Eletrobras vai ter mais de 10 GW aí para vender no mercado nos próximos anos… Ele (montante de energia) vai ser aplicado boa parte no mercado (livre)… e boa parte para a eletrificação”, disse Freitas.

Ele evitou, porém, dar uma previsão de quando os primeiros projetos de hidrogênio da Eletrobras em grande escala poderiam sair do papel, observando que diferentes políticas mundiais de transição energética, sobretudo na União Europeia, podem influenciar o “timing” de desenvolvimento dos projetos.

“Pode ser que, de acordo com essa taxação (de carbono para produtos exportados à UE), isso acelere mais a entrada de grandes projetos, inclusive os possíveis projetos que venham da Eletrobras, ou desacelere e deixe um pouquinho mais para frente”.

“O mercado vê que 10 anos é um período que a gente vai começar a ver movimentos pesados em cima de construção de grandes plantas”, acrescentou.

Informações Reuters
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