A esperada fusão entre as varejistas Arezzo&Co e Grupo Soma foi acertada neste domingo e deve ser anunciada oficialmente amanhã. Segundo fontes próximas ao negócio, alguns pontos ainda podem mudar até a assinatura do acordo, mas já houve entendimento em torno do principal: a operação vai se dar por meio de troca de ações e os acionistas da Arezzo&Co ficarão com 54% da empresa combinada, enquanto os acionistas passarão a deter 46%.

O Conselho de Administração do Soma (BOV:SOMA3) se reuniu nesta manhã e a assinatura do contrato pode ser feita ainda hoje, segundo fontes.

A Arezzo (BOV:ARZZ3) é dona de marcas como Schutz, Anacapri, Carol Bassi e Reserva, e o Grupo Soma, de nomes como Animale, Farm, Dzarm e Hering, entre outras. Procuradas, as empresas não quiseram se manifestar.

O negócio ainda deve ser aprovado em assembleia pelos minoritários. Um desses acionistas, ouvido pelo IM Business, acredita que um ponto que pode gerar debate entre os detentores das ações é a ideia de que o negócio seja feito sem prêmio, em cima do preço de tela das companhias.

Para ele, que tem posição nas duas empresas, é possível dizer que os papéis do Soma deveriam ter um prêmio sobre os da Arezzo por algumas razões, como maior oportunidade de crescimento e melhor defesa contra o efeito da MP 1.185, que muda a tributação dos incentivos fiscais da empresa.

Com a implementação da operação, a companhia alcança um faturamento próximo de R$ 12 bilhões e passará a comercializar calçados, bolsas, itens de moda masculina, feminina e infantil, incluindo roupas e acessórios por meio de suas 34 marcas e mais 2 mil lojas, próprias e franquias, segundo fato relevante enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Os R$ 12 bilhões estimados consideram os respectivos faturamentos brutos dos últimos 12 meses (LTM) apurados nos informativos trimestrais do terceiro trimestre de 2023.

A nova empresa terá quatro verticais de negócios: calçados e bolsas; vestuário e lifestyle feminino; vestuário e lifestyle masculino; e vestuário democrático.

“O surgimento dessa nova empresa acarreta grandes oportunidades de geração de valor adicional, tais como, o desenvolvimento das categorias de calçados e bolsas nas marcas do Grupo Soma gerando alavancagem de receita, otimização da gestão dos canais de multimarcas, e-commerce e, principalmente, franquias, otimização da planta industrial de malharia da Hering e a preparação dessa nova empresa para plugar outras verticais de negócio”, afirmam a Arezzo e o Grupo Soma.

Arezzo e o Grupo Soma confirmaram terem celebrado acordo de associação tendo por objeto a junção de seus negócios 

A Arezzo e o Grupo Soma confirmaram terem celebrado acordo de associação tendo por objeto a junção de seus negócios e a unificação das respectivas bases acionárias, conforme antecipado pelo InfoMoney no domingo.

A governança da nova companhia será comandada de maneira conjunta pelos atuais acionistas de referência da Arezzo&Co e do Grupo Soma. Alexandre Café Birman será o CEO da nova companhia e Roberto Luiz Jatahy Gonçalves o CEO da business unit de vestuário feminino. Já Rony Meisler permanecerá como CEO da business unit AR&Co e Thiago Hering continuará como CEO da business unit Hering.

O acordo prevê que a operação será realizada por meio da incorporação do Grupo Soma pela Arezzo&Co. Assim, os acionistas do Grupo Soma receberão, para cada uma ação ordinária de emissão do Grupo Soma, 0,120446593048 novas ações ordinárias de emissão da Arezzo&Co, de modo que os acionistas da Arezzo&Co serão titulares de 54,00% e os acionistas do Grupo Soma titulares de 46,00% do capital social da companhia, desconsiderando as ações atualmente em tesouraria. A relação de troca relevou em consideração a cotação das ações na bolsa de valores.

Uma vez finalizada a documentação necessária, incluindo o protocolo e justificação da incorporação, as administrações das companhias convocarão as respectivas assembleias gerais de acionistas para deliberação das matérias relacionadas à operação.

A consumação da operação está condicionada à verificação de condições usuais para operações desta natureza, incluindo a aprovação pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

Os escritórios Stocche Forbes Advogados e Spinelli Advogados atuaram como assessores legais da Arezzo&Co e o BMA Advogados atuou como assessor legal do Grupo Soma. A XP Investimentos atuou como assessor financeiro das companhias na operação. O Itaú BBA e o Bank of America atuaram como assessores financeiros da Arezzo&Co. O JPMorgan atuou como assessor financeiro do Grupo Soma e a G5 Partners atuou como assessor financeiro dos acionistas de referência do Grupo Soma.

As companhias farão uma apresentação conjunta em evento nesta segunda.

Analistas veem méritos na transação, que será a maior fusão do varejo desde a união da Droga Raia com a Drogasil, em 2011. A fusão também criaria uma das maiores empresas de moda da América Latina, com R$ 12 bilhões em receita, além de sinergias de produtos, que são complementares para os dois lados.

VISÃO DO MERCADO

As ações da Arezzo e do Grupo Soma têm nova sessão de alta após as companhias de varejo terem confirmado nesta segunda-feira (5) a celebração de acordo de associação tendo por objeto a junção de seus negócios e a unificação das respectivas bases acionárias, conforme antecipado pelo InfoMoney no domingo.

Às 10h20 (horário de Brasília) desta segunda-feira (5), ARZZ3 subia 4,06% (R$ 65,35), enquanto SOMA3 avançava 2,85% (R$ 7,93).

Ana Paula (Popy) Tozzy, CEO da AGR Consultores, pontua que a movimentação criaria uma das maiores empresas de moda da América Latina, com R$ 12 bilhões em receita – fora o fato de sinergias de produtos, que são complementares para os dois lados.

Ainda não há detalhes sobre a transação, mas segundo informações do Brazil Journal, entre as condições, estariam as seguintes: transação a preço de tela, sem prêmio (implicando 56% das ações combinadas da companhia para os atuais acionistas da Arezzo&Co e os 44% restantes aos acionistas do Grupo Soma); os acionistas controladores combinados teriam cerca 38% do capital da nova empresa (21,5% para a família Birman e 16,45% para os atuais controladores do Grupo Soma); acordo de 10 anos entre a família Birman e os fundadores do Grupo Soma, segundo o qual 30% dos 38% do controle acionário estariam sujeitos a um lockup de 5 anos, com possibilidade de venda de 20% (dos 30% participação) a cada ano a partir de então.

Alexandre Birman seria o presidente da companhia por um período de 10 anos e Roberto Jatahy seria o presidente da unidade de negócios de vestuário feminino. Além disso, a Hering passaria de subsidiária do Grupo Soma para propriedade direta da nova holding.

O Bradesco BBI destaca que, do lado construtivo, o negócio faz sentido estratégico já que a combinação é o caminho mais curto/rápido para consolidar o mercado de moda de alta renda, com um portfólio de marcas altamente complementar (principalmente Arezzo direcionado para calçados femininos e Soma para vestuário feminino).

A fusão criaria uma empresa com receita líquida combinada de R$ 10 bilhões, lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) de R$ 1,6 bilhão e lucro de aproximadamente R$ 750 milhões (em 2023). Teria 34 marcas, quase 22 mil funcionários, mais de 2 mil lojas (cerca de 70% franquias) e presença em 21 mil lojas multimarcas em todo o país.

“Notavelmente, a estratégia de consolidação da ‘house of brands’ sempre esteve dentro dos grandes objetivos de ambas as empresas. Saudamos as oportunidades de sinergia, o compartilhamento de know-how para alguns ativos (como a Hering) e a criação de um gigante de vendas de R$ 12 bilhões que pode ocupar uma posição dominante única na região”, avalia a equipe do BBI. Além disso, poderia haver geração de ágio dependendo da estrutura da transação, o que poderia mitigar ainda mais a carga tributária pós a sanção da MP 1.185 (a MP das subvenções).

O Goldman Sachs aponta também como benefícios a aceleração do turnaround da Hering e melhoria na gestão do canal de franquias de marcas, alavancando a sólida execução e know-how da Arezzo neste canal, além da otimização da cadeia de suprimentos.

Por outro lado, os analistas também pontuam os desafios. O Bradesco BBI vê incerteza com a operação, com os termos que o mercado está assumindo como caso base podendo mudar. “Racionalmente, tal incerteza deveria diminuir a disposição dos investidores de escolher um dos dois players para operar com a transação”, avalia.

Um outro tema é a complexidade, uma vez que o histórico de grandes fusões no Brasil sugere que o custo de digerir a operação pode ser maior do que o inicialmente esperado.

Neste sentido, Poppy, CEO da AGR Consultores, pontua que, se o negócio sair, o desafio estará no pós, lembrando das dificuldades de sinergias da Natura e da Avon. “Primeiro que a real captura das sinergias de backoffice é difícil de sair. Funciona muito bem no Excel da equipe de M&A, mas nem sempre na vida real”, avalia.

Para ela, há também a questão de adaptação cultural. “São duas empresas com culturas diferentes. De um lado, no Grupo Soma, já existe uma cultura dos ‘criadores’ de cada marca estarem à frente das decisões, enquanto o backoffice é centralizado. Na Arezzo, temos uma forte personalidade na liderança do grupo. Adaptar estilos culturais e de liderança não é banal…”, complementa.

O BBI cita que a primeira reação do mercado, com ARZZ3 em alta de 12% e SOMA3 avançando 16,8% no pregão de quarta sugere um valor de mercado combinado incremental de R$ 1,6 bilhão. “Em outras palavras, o mercado precificou cerca de 40% da alta sugerida com o negócio”, aponta.

O banco também cita que as agendas de ambas as companhias estavam “mornas” antes das notícias da fusão e por razões semelhantes: (i) desaceleração suave do crescimento da receita (ou seja, de um crescimento acima de 20% há dois anos para um crescimento elevado de um dígito/baixo de dois dígitos agora) e (ii) alto impacto nos lucros das novas regras de tributação de incentivos de ICMS (ou seja, entre 25-45% de impacto no pior cenário). Agora, com o novo acontecimento, todos os olhos do mercado estarão voltados para os possíveis termos do acordo.

Enquanto novos desdobramentos não ocorrem, o JPMorgan revisou as recomendações para as duas companhias, tendo recomendação overweight (exposição acima da média do mercado, equivalente à compra) para Arezzo e neutra para Soma. O banco reduziu o preço-alvo para Arezzo de R$ 74 para R$ 66 por conta da redução de projeções de lucro, enquanto Soma teve o preço-alvo elevado de R$ 6,50 para R$ 7,75 dada a racionalização contínua da estrutura tributária.

Informações Infomoney
AREZZO ON (BOV:ARZZ3)
Gráfico Histórico do Ativo
De Mar 2024 até Abr 2024 Click aqui para mais gráficos AREZZO ON.
AREZZO ON (BOV:ARZZ3)
Gráfico Histórico do Ativo
De Abr 2023 até Abr 2024 Click aqui para mais gráficos AREZZO ON.