A fusão entre a Petz e a Cobasi, criando o maior negócio do setor “pet” no Brasil, já desperta avaliações sobre o impacto concorrencial da operação, que terá de passar pelo crivo do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

Uma fonte do órgão apontou reservadamente ao Broadcast ser pouco provável que um caso dessa grandeza seja aprovado sem algum tipo de restrição. As análises são preliminares, já que as empresas assinaram apenas na sexta-feira, 19, o memorando de entendimentos para a possível combinação.

A expectativa no órgão antitruste é de que o negócio gere muitas sobreposições, o que pode ser resolvido local a local. Um interlocutor no Cade observou que, se as partes já apresentarem um bom levantamento de “remédios” concorrenciais ao órgão, é possível que a análise não seja tão complexa.

Em fusões desse tipo, o ponto principal é saber quais lojas precisarão ser vendidas. Além disso, em operações de varejo, a tendência é de que a análise pelo órgão antitruste seja feita dentro de cada cidade e, em municípios com mais de 200 mil habitantes, dentro de cada bairro. O Cade tem até 240 dias para decidir sobre operações notificadas – e até 330 dias em casos mais complexos, o que precisa ser reconhecido pela Superintendência-Geral.

Em teleconferência sobre a fusão com a concorrente Cobasi, o CEO da Petz (BOV:PETZ3), Sergio Zimerman, disse que ainda não foram feitas conversas iniciais com o Cade, mas se mostrou otimista com a avaliação pelo órgão e reconheceu que eventuais “remédios” podem surgir, não vendo, contudo, que eles seriam “amargos”.

O CEO da Cobasi, Paulo Nassar, seguiu o mesmo tom. Ao Broadcast, ele afirmou que sua empresa e a Petz têm, juntas, cerca de 2% das lojas de seu segmento no País, o que indicaria, na visão dos empresários envolvidos na negociação, que os remédios do Cade devem ser leves. ?Somos otimistas com o Cade, porque a concentração de mercado é irrelevante?, afirmou Zimerman, da Petz.

Líder

Segundo relatório do BTG Pactual, cerca de 48% das lojas da Petz estão em São Paulo – em comparação com 54% da Cobasi. No relatório no qual apontou que a fusão vai criar um player líder em num segmento particularmente desafiador, o BTG Pactual apontou que o segmento das duas concorrentes tem sido impactado por uma perspectiva cada vez mais competitiva nos últimos anos, especialmente pela expansão do comércio eletrônico e a queda nas vendas de produtos não alimentícios, conforme mostrou o Broadcast mais cedo. O documento reforça ainda que o mercado continua altamente fragmentado, com os preços agressivos dos produtos em toda a cadeia.

VISÃO DO MERCADO

As ações de Petz têm mais uma sessão de fortes ganhos, saltando nesta segunda-feira (22) mais de 10%, dando sequência à disparada de 37%, da última sexta-feira, quando a empresa anunciou avanço na fusão com a Cobasi.

Às 12h40, os papéis de Petz saltavam 10,63%, cotados a R$ 5,31. A forte valorização levou os papéis a entrarem em leilão na B3. Assim, no acumulado de abril, a ação ganha 22% e, em 2024, salta 34,43%.

Na sexta-feira, a Petz informou que assinou um memorando de entendimento, não vinculante, para fusão com a Cobasi. Conforme o fato relevante, a relação de troca acordada foi de R$ 7,10, por ação, valor bem acima do fechamento de quinta passada – ou seja, anterior ao anúncio de fusão –, de R$ 3,50.

Ações Petz dispararam

Segundo especialistas, a fusão entre as empresas deve criar sinergias, como melhora na distribuição das marcas em regiões nas quais o seu apelo é melhor, seja Cobasi ou Petz, bem como um crescimento exponencial em linhas de negócio como Zee.Dog ou mesmo a vertical de saúde animal.

“A distribuição de tudo isso praticamente dobra de um dia para o outro”, diz Ricardo Bahiana, sócio da B2R Capital, assessoria especializada em M&A e valuation.

Andreas Ferreira, analista de empresas da Mantaro Capital tem a percepção de que as empresas se uniram em um movimento defensivo. “Não acho que é um M&A para ataque. Não é exatamente um negócio ‘oportunístico’ de ganho de market share”, afirma.

“A oportunidade maior talvez não seja a sinergia, mas aproveitar a força um do outro para se defender”, diz o analista, dando o exemplo do impacto negativo da concorrência dos marketplaces nos últimos resultados das duas empresas.

Para Ferreira, a Petz busca referência em um dos poucos M&As do varejo que de fato deram certo nos últimos 15 anos. A operação da Raia Drogasil conferiu ganho de escala e de participação de mercado à empresa combinada, além de uma “impressionante diluição de empresas”, diz ele.

Agregador

Para os analistas do Santander, o negócio tem potencial para ser agregador para ambas empresas, pois oferece uma oportunidade única para desbloquear sinergias significativas e criar uma entidade mais forte e resiliente.

“Ao unir forças, as empresas podem navegar melhor no cenário competitivo acirrado, otimizar, armazenar estratégias de expansão e presença, e fazer uma alocação de capital mais precisa e melhorar decisões, especialmente em meio à forma como o canal online vem remodelando a indústria.”

O Santander acrescenta que, embora ainda seja um desafio quantificar os benefícios com a redução da concorrência, espera-se que os investidores se concentrem nas sinergias mais tangíveis, tais como melhores margens de contribuição das lojas físicas e do comércio eletrônico, bem como das despesas gerais e administrativas.

Informações Broadcast/Infomoney
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