Vejam só quem vinha comprando ABCB4 na Geração, o Warren Buffett brasileiro...
ISTO É DINHEIRO - 27/02/09
Ele voltou a ganhar na bolsa
O investidor bilionário Lirio Parisotto lucra 200% com ações da Nossa Caixa e aproveita a crise para comprar mais barato
EM SUA SALA NA CORRETORA GERAÇÃO FUTURO, PARISOTTO INVESTE R$ 1,2 BILHÃO NO MERCADO DE AÇÕES
O EMPRESÁRIO LIRIO PARISOTTO, DONO da Videolar, é um dos maiores investidores em ações do Brasil. Grande parte de sua fortuna pessoal está aplicada na bolsa de valores, no fundo de investimentos Geração L. Par FIA. Com 12 pap...
Vejam só quem vinha comprando ABCB4 na Geração, o Warren Buffett brasileiro...
ISTO É DINHEIRO - 27/02/09
Ele voltou a ganhar na bolsa
O investidor bilionário Lirio Parisotto lucra 200% com ações da Nossa Caixa e aproveita a crise para comprar mais barato
EM SUA SALA NA CORRETORA GERAÇÃO FUTURO, PARISOTTO INVESTE R$ 1,2 BILHÃO NO MERCADO DE AÇÕES
O EMPRESÁRIO LIRIO PARISOTTO, DONO da Videolar, é um dos maiores investidores em ações do Brasil. Grande parte de sua fortuna pessoal está aplicada na bolsa de valores, no fundo de investimentos Geração L. Par FIA. Com 12 papéis, o fundo tinha um patrimônio de R$ 1,2 bilhão na sextafeira 20, o que o tornava um dos poucos bilionários da BM&FBovespa, ao lado de gigantes do setor bancário e de previdência. Ninguém, como ele, teria tantos motivos para se preocupar com o estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos, que detonou uma crise financeira mundial sem precedentes e caiu como uma bomba nas bolsas e em sua carteira de ações. Mas, então, por que ele está sorrindo?
O tempo, dizem, é o senhor da razão. No pior momento da crise, em outubro do ano passado, o Ibovespa chegou a cair 60% em relação ao pico de maio e o fundo de Parisotto encolheu de R$ 1,6 bilhão para R$ 800 milhões. Mas ele não é um investidor qualquer. Não entrou em pânico, não vendeu na baixa e, portanto, não realizou o prejuízo potencial de R$ 600 milhões. Paciente, esperou a recuperação do mercado e já contabiliza uma alta de 50% desde o fundo do poço, com a volta de R$ 400 milhões. E, sábio, aproveitou as barganhas para comprar mais ações. Nos últimos dias, as bolsas voltaram a ficar nervosas com os boatos de quebra e estatização dos grandes bancos nos Estados Unidos. Mais uma vez, ele não se abala. Em plena crise, compra ações de bancos brasileiros (Banco do Brasil, BicBanco, ABC Brasil e Daycoval) e está em busca de pechinchas. "Quando você é um comprador, como eu, tem que aproveitar quando o mercado cai", ensina. O conselho é óbvio, mas quem é que tem sangue-frio nas horas de desespero global? Parisotto tem e é isso que o torna um investidor especial, capaz de enxergar além do desastre e ganhar dinheiro no dia seguinte.
Quem tem estofo para investir mais de R$ 1 bilhão em empresas administradas por outros sabe que é no fundo do poço onde se encontram os melhores negócios da bolsa de valores. Ações de boas empresas ficam baratas demais e tendem a recuperar o valor ao longo do tempo, com ganhos adicionais para os investidores que compram na hora certa. O problema é que ninguém sabe ao certo quando se chega ao fundo do poço, exceto quando se olha para trás em períodos mais longos. Há sempre o risco de o mercado cair um pouco mais. Quem foge da manada e vence o pessimismo pode se dar muito bem em períodos como o atual. Desde que o Ibovespa atingiu o topo de 73.516 pontos, em 20 de maio de 2008, o pior momento até a semana passada continuava sendo o fatídico 27 de outubro, quando bateu em 29.435 pontos. De lá para cá, o índice que mede as ações mais negociadas na BM&FBovespa subiu 41% até sexta-feira 13 de fevereiro. Esse ganho diminuiu para 31,5% até o dia 20 - ainda assim, um bela alta. Mas não foi só. Pelo menos 27 dos 66 papéis que compõem o Ibovespa subiram acima da média nesse período (veja quadro ao lado), proporcionando bons ganhos a quem soube comprá-los nos dias de cotação mais baixa. A ação mais rentável foi a ordinária (com direito a voto) do banco Nossa Caixa, recém-vendido para o Banco do Brasil: alta de 155% nos últimos quatro meses. E quem é o maior acionista individual da Nossa Caixa, com 5% do capital? Ele mesmo, Lirio Parisotto.
Como o governo de São Paulo não conseguiu privatizar a Cesp, o investidor bilionário apostou na venda do banco do Estado - e não deu outra. Irá receber R$ 70,36 por ações que lhe custaram entre R$ 20 e R$ 30 e hoje valem cerca de R$ 400 milhões. "Construí a posição aos poucos. Investi por feeling, pois achava que o (governador José) Serra ia precisar de dinheiro para fazer obras", explica. Não é segredo para ninguém que Serra quer disputar a sucessão de Lula na Presidência da República, em 2010, mas poucos deram tacada tão ousada quanto Parisotto. Somente em 2008, o papel da Nossa Caixa rendeu 200%, reduzindo as perdas de sua carteira no ano para 21,8% (equivalentes a R$ 189 milhões), bem menos que a queda do Ibovespa (41,2%). "Nunca perdi do Ibovespa", comemora. Lá se vão dez anos desde que o empresário gaúcho, hoje com 55 anos, começou a investir diretamente na bolsa. Seu fundo, administrado por ele mesmo numa ampla sala na corretora Geração Futuro, da qual é o maior cliente individual, foi constituído em 2007. Recentemente, passou a aceitar aplicações acima de R$ 300 mil - mas só a convite.
Aos 18 cotistas que apostaram em seu talento de gestor, mandou uma carta de apenas uma página sobre o desempenho em 2008. Otimista, celebrou o resultado. "Apesar de ser difícil a comemoração de um retorno negativo, esta performance mostrou-se 95% superior ao Ibovespa, posicionando nossa carteira bastante acima do desempenho médio do mercado, ficando entre as cinco melhores performances de fundos no Brasil em 2008", escreveu. Ele destacou os ganhos com Transmissão Paulista (20%) e Eletrobrás (1%). De sua seleção, quatro caíram menos que o Ibovespa (-41,2%) no período: CPFL Energia (-3%), Ultrapar (-15%), Celesc (-16%) e Eternit (-16%). Os piores desempenhos no ano foram CSN (-43%), Usiminas (-48%), Bradespar (-57%), Braskem (-59%) e Randon (-62%). Decepcionado com a gestão da Braskem, ele desfez-se das ações da empresa. "Fritei a Braskem. Achei que ia nadar de braçadas, mas essa empresa é um saco de gatos. Foi meu pior investimento", lamenta.
Parisotto, como sempre, está otimista com o Brasil. É uma vantagem para o País ter um presidente com 80% de aprovação popular em plena crise mundial. Os bancos estão sólidos e o mercado interno continua com um "estoque de demanda", explica. "Muita gente ainda precisa comprar carro, televisão. Foram criados dez milhões de empregos em cinco anos", lembra. Ele não está sozinho em sua análise. Em passagem pelo Brasil na semana passada, o gestor Mark Mobius, especialista em países emergentes do Franklin Templeton, reiterou sua aposta na bolsa brasileira. Não sem razão, dizem os corretores locais. "O Brasil está barato entre os países emergentes e oferece boas perspectivas de resultados", diz Ricardo Martins, gerente de análise da Planner Corretora. Como caíram muito, as blue chips da bolsa também têm subido acima da média, especialmente Petrobras e Vale, as mais negociadas. "A liquidez e o setor de commodities pesam na escolha do investidor", diz Martins, da Planner.
Um deles é o paulista Alexandre França, 34 anos. Desde o piso de 29 mil pontos, ele investiu R$ 50 mil. "Procurei ações com maior liquidez no Ibovespa. As small caps continuam sendo fios desencapados", afirma. Suas principais compras foram Petrobras, Vale e BM&FBovespa, que acumulam 57,9%, 64,7% e 75,6% de valorização no período. Em vez de tentar acertar o piso, foi comprando aos poucos. Pagou de R$ 17 a R$ 23 por ação da Petrobras, que subiu para R$ 25. "Quando o papel cai, eu compro mais. Se sobe, realizo um pouco do lucro. Mas continuo sempre comprando", afirma França. Outro investidor paulista, Rogerio Kirschbaum também aproveitou a crise para pechinchar. Comprou Vale e Petrobras em outubro e dezembro e ganhou 30% até janeiro, quando vendeu 2/3 da carteira e realizou parte do lucro. "O que deixei na bolsa já subiu 50%", diz.
A estratégia de Parisotto é mais sofisticada que a dos investidores comuns, que se contentam em comprar e vender ações. Ele sabe turbinar sua carteira como ninguém, sem correr riscos demasiados. Somente no ano passado, ganhou R$ 100 milhões com operações de aluguel de ações, venda de opções e recebimentos de dividendos e juros sobre o capital próprio. É dinheiro vivo, que representou uma rentabilidade adicional de 8,8% no ano. Ele usa o ganho extra para comprar papéis de empresas que sejam boas pagadoras de dividendos e que tenham uma efetiva vantagem competitiva. Além de adquirir as ações dos bancos citados, ele usou os recursos adicionais para reforçar posições, como a da Usiminas, que caiu quase 80% desde maio de 2008. No caso do Banco do Brasil, a queda de 60% foi a isca ideal para alguém como ele. "O sonho da minha vida é ter um banco. Tem coisa melhor que ser banqueiro? O dinheiro é disputado e custa caro", raciocina. As ações do BB têm hoje uma relação preço/lucro (P/L) de 4, baixa sob todos os aspectos. "Olha isso, está de graça!", insiste. Ler os balanços e suas letras miúdas para avaliar os fundamentos de cada negócio é uma de suas principais características. "Sou o maior fundamentalista de mercado que eu conheço", avisa. Que ninguém duvide.
Colaboraram Ana Clara Costa e Márcio Kroehn
Mostrar mais