Câmbio ameaça balanços com perda bilionária
A alta acumulada de 30% do dólar neste trimestre até ontem, se mantida até o fim deste mês, tem potencial para provocar um estrago de dezenas de bilhões nos resultados do conjunto de companhias abertas do país. Com o câmbio acima dos R$ 4,00, será o terceiro maior salto do câmbio num trimestre desde o início do Plano Real, em julho de 1994. Pior só o primeiro de 1999, quando houve o abandono do regime de câmbio fixo, e o intervalo de junho a setembro de 2002, quando o mercado temia a primeira eleição do ex-presidente Lula.
Como mui...
Câmbio ameaça balanços com perda bilionária
A alta acumulada de 30% do dólar neste trimestre até ontem, se mantida até o fim deste mês, tem potencial para provocar um estrago de dezenas de bilhões nos resultados do conjunto de companhias abertas do país. Com o câmbio acima dos R$ 4,00, será o terceiro maior salto do câmbio num trimestre desde o início do Plano Real, em julho de 1994. Pior só o primeiro de 1999, quando houve o abandono do regime de câmbio fixo, e o intervalo de junho a setembro de 2002, quando o mercado temia a primeira eleição do ex-presidente Lula.
Como muitas empresas brasileiras possuem dívidas em dólar, no momento em que fecham os balanços elas precisam atualizar o valor desses compromissos com a nova taxa de câmbio. No setor industrial, apenas Vale, CSN, Gerdau, Usiminas, Suzano, Klabin e Fibria devem ver suas dívidas em reais aumentarem em quase R$ 40 bilhões como resultado da variação cambial. Na Petrobras, o efeito deve alcançar R$ 70 bilhões (ver em Dívida da Petrobras sobe R$ 70 bi com alta do dólar).
Algumas das empresas com alto endividamento em dólar usam derivativos ou contabilidade de hedge para evitar que alta da dívida tenha efeito relevante no lucro do período, como é o caso de Petrobras, CSN, Gerdau, Braskem e BRF. Para as que não usam esses instrumentos, o impacto aparece todo na linha de resultado.
Embora no curto prazo o efeito seja "só contábil", no longo prazo significa uma saída de caixa maior para pagar dívida.
No caso das exportadoras, outra "proteção" surge do lado das receitas, com melhora do resultado operacional ao longo do tempo.
Mas as que tiveram com liquidez mais frágil podem ter dificuldade de refinanciamento até mesmo das dívidas em reais, segundo Ricardo Carvalho, diretor sênior da agência de classificação de riscos Fitch Ratings. "O cenário de elevada volatilidade contribui para potencializar os riscos e trazer restrição ainda maior de crédito pelos agentes o que pode levar a uma pressão maior por pedidos de recuperação judicial", disse ele.
Com 80% da dívida em dólar, a Fibria é uma das que deve ver o endividamento subir, mas registrar uma melhora do resultado operacional. A dívida bruta total da empresa era de R$ 9,02 bilhões em junho e pode subir para R$ 11,1 bilhões no terceiro trimestre. Por outro lado, como mais de 90% do faturamento também está atrelado à moeda americana, a variação do câmbio médio neste terceiro trimestre garantiria uma alta de 12% na receita, para R$ 2,6 bilhões, mantido tudo mais constante.
No caso da Gerdau, o endividamento total pode subir 23,3%, para R$ 27,5 bilhões. Mas o HSBC lembrou em relatório há alguns meses que aproximadamente 70% do faturamento da siderúrgica é dolarizado. Isso engloba, além das exportações de aços longos e especiais do Brasil, as operações da companhia na América do Norte. Supondo vendas estáveis no exterior durante o terceiro trimestre, a receita da siderúrgica poderia crescer 9% só com o câmbio, para R$ 11,8 bilhões.
No caso da Vale, a dívida pode aumentar 22,5%, saindo de R$ 92,4 bilhões para R$ 113,1 bilhões, enquanto a receita poderia subir até 11%, para R$ 24 bilhões, não fosse a leve queda do minério de ferro de um trimestre para o outro.
Apenas como referência do impacto que a variação do dólar pode ter nos resultados, no segundo trimestre deste ano, quando o câmbio variou pouco - teve queda de 3% -, as despesas financeiras líquidas de um conjunto de 250 companhias abertas brasileira ficaram em R$ 15 bilhões. Já de janeiro a março deste ano, período em que o dólar subiu 21%, essa mesma linha do balanço ficou negativa em R$ 41 bilhões.
"O momento é extremamente ruim", segundo Carvalho, da Fitch, para as empresas que precisam rolar dívidas. Segundo ele, a combinação do cenário de geração de caixa operacional significativamente mais fraca a com maior pressão das despesas financeiras e estresse de liquidez "se transforma numa tempestade perfeita para as empresas mais endividadas".
O desempenho das empresas na bolsa ontem refletiu, em parte, os efeitos do câmbio. Em uma ponta, as ações da Fibria e da Suzano estiveram entre as maiores altas do Ibovespa. Como são exportadoras, a desvalorização da moeda brasileira ajuda tanto em termos de competitividade quanto de aumento da receita.
O desempenho das empresas na bolsa ontem refletiu, em parte, os efeitos do câmbio. Em uma ponta, as ações da Fibria e da Suzano estiveram entre as maiores altas do Ibovespa. Como são exportadoras, a desvalorização da moeda brasileira ajuda tanto em termos de competitividade quanto de aumento da receita.http://www.valor.com.br/empresas/4237034/cambio-ameaca-balancos-com-perda-bilionaria
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