14/08/2019 às 05h00Estoque alto desafia fabricantes de celulosePor Stella Fontes | De São PauloO excesso de estoques de celulose, que chegou a níveis históricos entre o fim do ano passado e o início deste ano, está desafiando a indústria global. Há duas saídas para o quadro atual: forte retomada das compras por parte dos chineses, que está sujeita às condições macroeconômicas, ou redução mais drástica na oferta da matéria-prima, que depende do plano de cada companhia. Sobre essa opção, porém, não há consenso no setor.Schalka, presidente da Suzano, diz que existe uma "úl...
14/08/2019 às 05h00Estoque alto desafia fabricantes de celulosePor Stella Fontes | De São PauloO excesso de estoques de celulose, que chegou a níveis históricos entre o fim do ano passado e o início deste ano, está desafiando a indústria global. Há duas saídas para o quadro atual: forte retomada das compras por parte dos chineses, que está sujeita às condições macroeconômicas, ou redução mais drástica na oferta da matéria-prima, que depende do plano de cada companhia. Sobre essa opção, porém, não há consenso no setor.Schalka, presidente da Suzano, diz que existe uma "última tonelada" de celulose que não está gerando o retorno adequadoMaior produtora de celulose de mercado do mundo, a Suzano reduziu a 9 milhões de toneladas a produção prevista para este ano, ante capacidade instalada de 11 milhões de toneladas anuais. Além da brasileira, a chilena CMPC disse que avalia a possibilidade de prolongar paradas programadas. E ao menos três produtores de celulose fibra longa já restringiram a produção, ainda que em pequena escala. O movimento não foi suficiente para conter a queda dos preços internacionais, que chegaram ao custo marginal de produção mas ainda não desencadearam novos anúncios de redução de oferta.Para o presidente da Suzano, Walter Schalka, o ritmo de ajuste no mercado global vai depender da modelagem de retirada de celulose do mercado. Durante a 14ª conferência latino-americana da Fastmarkets Risi, o executivo convocou seus pares à reflexão e afirmou que, ao analisar os diferentes fatores que afetam os custos em geral, todos os produtores vão descobrir que existe uma "última tonelada" de celulose que não está gerando o retorno adequado."Nós, brasileiros, somos os mais competitivos, mas não temos a obrigação única de gerar caixa e, sim, retorno sobre o capital empregado. Nossa responsabilidade é maior do que isso: criar valor de forma sustentada e reduzir a volatilidade", afirmou. Conforme Schalka, a deflação de US$ 260 por tonelada da celulose de fibra curta "não agrega valor para ninguém". "A indústria brasileira é muito relevante globalmente nesse caso. Juntos, Chile, Uruguai e Brasil têm um peso importante no mercado global", acrescentou.Na Eldorado, de acordo com o diretor comercial Rodrigo Libaber, não há avaliação, neste momento, sobre reduzir produção, embora a companhia sempre avalie o que pode ser feito para trazer mais estabilidade e menos volatilidade ao mercado. "Uma restrição de produção está sempre em pauta a partir do momento em que entendemos que vai fazer a diferença no mercado como um todo", observou. Contudo, quando há outros fatores a serem enfrentados, a redução não é viável. "Se achar que o ajuste de produção vai surtir efeito imediato, a gente vai avaliar com carinho. Mas hoje há outros fatores que não estão equacionados", disse.Segundo Libaber, a China vai crescer, a demanda vai voltar e a questão, neste momento, é poder optar por ter estoques maiores, mas não em corte de produção.Para o principal executivo do negócio de celulose do grupo chileno CMPC, Jaime Argüelles, a queda dos preços da matéria-prima é parte normal da evolução do mercado de commodities, que tem volatilidade, mas a companhia poderá partir para a redução de oferta. "Acho que estamos na parte baixa do ciclo, perto ou já no fundo, mas pensamos que isso é parte do negócio", disse.O executivo disse que a CMPC não enfrenta um problema grande de estoques e que avalia a redução do volume de produção para preservar florestas e vender seus produtos a preços melhores, porém sem especular. "Gostamos mais da estabilidade, mas se o preço estiver muito baixo, também podemos tomar essa decisão [de reduzir produção]", afirmou, acrescentando que a companhia está avaliando a extensão de paradas anuais já programadas.Na Suzano, Schalka admite que a companhia errou em sua estratégia comercial de celulose, ao segurar a oferta de fibra diante da queda dos preços iniciada no fim do ano passado. Mas chama a atenção para um "erro estatístico" na análise dos números do setor. O aumento dos estoques, que tradicionalmente giravam em torno de 35 dias a 37 dias, para 52 dias, segundo os últimos dados disponíveis, sugere que houve uma alta "brutal" nos volumes, quando na verdade o que ocorreu foi a transferência de volumes que antes estavam nas mãos dos compradores para os produtores, explicou."Isso dá a impressão de que estoques subiram brutalmente. Eles não subiram [tão agressivamente], mas mudaram de mãos", afirmou. A estimativa da companhia é a de que os estoques no comprador tenham subido cerca de 700 mil toneladas, enquanto entre 1,7 milhão e 1,8 milhão de toneladas tenham sido transferidas do comprador para o produtor. À medida que os inventários sejam reduzidos e mais fábricas interrompam a produção por causa dos preços baixos, afirmou o executivo, as cotações começarão a se recuperar. "A data, não consigo prever."Para o segundo semestre, a meta é reduzir os estoques da companhia, hoje de cerca de 3 milhões de toneladas. O nível pretendido, porém, não é informado - o volume normal é de 1,5 milhão de toneladas. Conforme Schalka, o consumo de papel na China sofreu pouca alteração e a demanda de tissue segue muito próxima do Produto Interno Bruto (PIB). "O consumo chinês não foi afetado de forma relevante", afirmou, acrescentando que, diante disso, a expansão do consumo global de celulose deve seguir ao redor de 2% ou 3% ao ano.https://www.valor.com.br/empresas/6389845/estoque-...
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