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Pesquisadores ibero-americanos desenvolvem no Rio projetos de inclusão social

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Indivíduos de diferentes países, profissões, idiomas e culturas reúnem-se, durante duas semanas, para trabalhar na consolidação de novas ferramentas, plataformas e ações cidadãs de inclusão social e melhoria de vida por meio de tecnologias digitais. Esse é o desafio do Laboratório Ibero-Americano de Inovação Cidadã, que neste ano está sendo realizado no Palácio Gustavo Capanema, no centro do Rio de Janeiro. A primeira edição foi no ano passado, no México.

A maratona, que começou na semana passada e termina no proximo domingo (29), é promovida pela Secretaria Geral Ibero-Americana, em parceria com o Ministério da Cultura. Ao todo, 120 pessoas de 14 países ibero-americanos participam das equipes multidisciplinares. Eles estão há uma semana desenvolvendo protótipos com licença livre, que poderão ser usados por quem quiser, multiplicando essas experiências. Hoje (25), a equipe que desenvolve o projeto de contagem automática dos ovos do Aedes aegypti (o mosquito transmissor da dengue) com aplicativo de celular vai visitar a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) para discutir e avaliar uma nova metodologia.

“As amostras são contactadas manualmente, precisam de técnicos especializados, lupas e luvas. O que queremos é expandir essa tecnologia para o uso da sociedade”, explicou o analista ambiental Odair Scatoline, um dos executores do projeto. “Estamos desenvolvendo aqui um aplicativo que cidadãos comuns podem utilizar no celular e, semanalmente, fotografar os ovos e enviar a um servidor na web, onde será feita uma contagem automatizada desses ovos e disponibilizada em um mapa”.

Rio de Janeiro - O pesquisador mexicano, Erik Rivera, no evento Laboratório Ibero-americano de Inovação Cidadã que acontece no Rio (Tomaz Silva/Agência Brasil)

O pesquisador mexicano Erik Rivera, no evento Laboratório Ibero-americano de Inovação Cidadã Tomaz Silva/Agência Brasil

Os integrantes de cada grupo foram escolhidos depois da seleção dos projetos, de acordo com a experiência profissional necessária para cada desafio. Neste ano, 400 pessoas se inscreveram e 120 foram selecionadas. Além de estadia e alimentação, uma verba é dada para custear os gastos com a pesquisa e implementação das ideias. A maioria dos participantes não se conhecia antes do encontro. Muitos são colaboradores voluntários e pagaram a passagem do próprio bolso para participar da experiência, como o microempresário mexicano Erik Rivera.

“Tem sido uma experiência incrível. Essa diversidade cultural, o fato de coincidirmos com os mesmo problemas, tanto no México, na Colômbia, quanto no Brasil, tudo isso tem sido muito enriquecedor, esse intercâmbio de ideias”, comentou. Rivera colabora desenvolvendo o software e transferência de dados do projeto brasileiro HiperGuardiões, uma tecnologia de monitoramento de qualidade da água, do ar e a observação de biodiversidade, com software e hardware livres e de baixo custo, atrelados ao conhecimento ecológico da população local. Ele espera replicar a ideia em seu país. “Não vim apenas contribuir, mas também entender como funciona, poder replicá-lo lá em algum município e ver formas de implementá-lo de forma rápida e econômica”.

Líder comunitário da favela Vila Nova Esperança, no oeste de São Paulo, Lucas Fernandes Freitas de Araújo propôs um modelo de Rádios Comunitárias pela web, com software livre. “Não só a questão da tecnologia, do modelo de replicação, como também a grade de programação, a compreensão do que é um conteúdo comunitário, sua função interna. Para quem conhece, poder explorar mais seus horizontes e para quem não conhece, ter uma forma didática de desenvolver sua própria rádio”, explicou ele, que conta com a ajuda técnica no projeto do professor colombiano de engenharia e ativista cultural Juan David Reina.

“A ideia é que esse trabalho seja colaborativo, que as pessoas possam colaborar, criticar e construam em cima desse modelo. Vamos disponibilizar tudo em um site. Todos os códigos e planos serão abertos e poderão ser aplicados em qualquer lugar”, disse Reina.

A artista visual Cinthia Mendonça é uma das tutoras do projeto desde a primeira edição. Para ela, o diferencial da segunda edição é a oportunidade de os grupos de testarem in loco seus experimentos.

“Eles estão vivendo a crise, no sentido positivo, de ter um projeto ideal e um projeto pensado em um contexto real, com resultados interessantes. Acho que temos aí uma complexidade maior de trabalho e questões”, comentou Cinthia.

Amanhã (26), a equipe que trabalha com o projeto de jardins suspensos em comunidades vai ao Morro da Providência, no centro do Rio, para fazer intervenções de baixo custo, aproveitando materiais recicláveis para arborizar os ambientes.

“Esse é um tipo de evento que trabalha com projetos que se autogestionam e são organizados do zero. A ideia não é dar cursos de formação, nem buscar financiamento para eles, mas gerar um novo tipo de instituição auto-organizada por cidadãos”, explicou o coordenador de Inovação Social Cidadã da Secretaria Geral Ibero-Americana, Pablo Pascale.  “Todos os dez projetos apresentados na primeira edição estão sendo executados sem a necessidade do nosso apoio. A realidade é que aqui se criam umas redes tão potentes que fazem com que os projetos ganhem vida própria”.

No domingo (29), dia do encerramento do evento, os projetos serão apresentados na presença da secretária-geral ibero-americana, Rebeca Grynspan, e do ministro da Cultura, Juca Ferreira.

Editor Graça Adjuto

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