Pela segunda vez neste mês, os cidadãos mexicanos estão vivenciando mais uma tragédia natural em seu país. Eles mal haviam começado a lidar com as consequências de um grande terremoto ocorrido no dia 07 de setembro quando outro atingiu o país na tarde de ontem. O curioso é que os dois casos, apesar de terem provocado centenas de mortes, milhares de feridos, amplas áreas de destruição e uma grande e óbvia comoção nacional e internacional, pouco abalaram o desempenho do mercado de ações local.
O terremoto na tarde de ontem (19 de setembro) teve magnitude de 7.1 e foi sentido em 18 municípios, incluindo a Cidade do México, onde edifícios caíram e pessoas ficaram soterradas. Na atualização mais recente, as autoridades do país confirmaram que ao menos 225 pessoas morreram na região central mexicana. Além disso, existem 45 edifícios totalmente destruídos.
Na bolsa de valores local, porém, movimentação normal. O principal índice de ações do país, o IPC México (BMV:ME) encerrou o dia tragédia ligeiramente acima da estabilidade, com 50.265,46 pontos, após a valorização de 0,67% registrada no dia anterior, véspera do terremoto.
No pregão de hoje, um dia após a tragédia, mais valorização. Após abrir o dia em leve queda, o indicador já reagiu e passou a subir consistentemente, com mais da metade das ações das empresas listadas na BMV – Bolsa Mexicana de Valores subindo.
Há doze dias, em 07 de setembro, um sismo de magnitude 8,1 deixou 98 mortos, centenas de feridos, 2,3 milhões de pessoas afetadas e mais de 50 mil casas danificadas. Na bolsa de valores, no entanto, quase nenhum abalo. O principal índice de ações encerrou em queda no dia do terremoto (-0,53%, cotado em 50.249,12 pontos), e repetiu a dose no dia seguinte (-0,33%, cotado em 50.083,80 pontos). Porém, nos dois dias seguintes, voltou a acumular altas, recuperando todas as perdas imediatamente posteriores à tragédia.
É interessante notar como o mercado de ações pouco oscilou com uma tragédia de tal magnitude, com centenas de mortos, milhares de feridos e milhões de pessoas abaladas. Apesar de ser totalmente eletrônico, este tipo de mercado é basicamente movimentado por pessoas que, muito possivelmente, tiveram perdas materiais e pessoais nestes últimos doze dias.
Trazendo essa perspectiva para o mercado brasileiro, podemos utilizar como comparação a tragédia de Mariana, ocorrida na noite do dia 05 de novembro de 2015, quando uma barragem cheia de dejetos tóxicos da mineradora Samarco (joint venture de duas das maiores mineradoras do planeta, a brasileira Vale (BOV:VALE3) (BOV:VALE5) e a australiana BHP Billiton (ASX:BHP)) se rompeu, destruindo centenas de residências em uma cidade histórica, matando 19 pessoas e poluindo o Rio Doce e adjacências – áreas de preservação e com uma biodiversidade riquíssima.
Pois bem, no pregão seguinte à tragédia, o Ibovespa (BOV:IBOV) fechou em forte queda (-2,35%, cotado a 46.918,52 pontos). No dia seguinte, mais queda: -1,54%, cotado a 46.194,92. Contudo, nos dez pregões subsequentes foram registradas oito altas do indicador, que recuperou com sobras todas as perdas “atribuídas” ao evento. Vale a pena ressaltar que a tragédia envolveu uma das principais empresas listadas no pregão da Bovespa e, mesmo assim, o impacto para o mercado de ações brasileiro foi apenas de curtíssimo prazo. Apesar da queda maior nos dois primeiros dias, a recuperação ocorreu rapidamente, em menos de uma semana, tal como ocorreu com a bolsa de valores mexicana.
Isso nos leva a crer que, tanto aqui como lá, e em qualquer outro lugar, possíveis perdas geradas no calor do momento, logo após eventos catastróficos, tendem a ter vida muito curta. Fica a lição para o futuro.