A China está diante de um grande teste diplomático em torno das vacinas contra o coronavírus. O prazo está acabando para que o governo chinês decida se vai aderir ou não oficialmente a uma iniciativa apoiada pela Organização Mundial da Saúde para garantir que toda a população global seja vacinada contra a Covid-19.
Sexta-feira é o último dia para que os governos decidam se participam da Covax, a iniciativa de US$ 18 bilhões que pretende oferecer a países de baixa renda o mesmo acesso às vacinas que nações mais ricas. O governo de Pequim disse que “apoia” a Covax, sem especificar claramente se vai colocar dinheiro no projeto.
Participar da iniciativa ajudaria a reconstruir a imagem da China ao redor do mundo sobre como conduziu o surto inicial de coronavírus em Wuhan, especialmente porque o governo Trump se recusou a fazer parte da Covax.
Por enquanto, Pequim tem se concentrado em fechar acordos individuais para doses de vacinas com governos com os quais tem relações amigáveis, enquanto os EUA pedem aos países que excluam empresas chinesas de redes 5G, chips de computadores e grandes projetos de infraestrutura.
“Pequim enfrenta críticas do Ocidente sobre a origem da Covid-19 em Wuhan e a transparência da China nos primeiros dias da propagação do vírus”, disse Kelsey Broderick, analista do Eurasia Group.
“Participar de uma iniciativa popular como a Covax certamente ajudaria a mudar a percepção de que a China é um péssimo ator.”
A Covax, que também é liderada pela Coalizão para Inovações em Preparação para Epidemias e pela aliança de vacinas Gavi, foi criada para dar aos governos oportunidade de evitar o risco de apoiar vacinas candidatas ineficazes e oferecer a países menos desenvolvidos acesso a vacinas que, de outra forma, não poderiam ser compradas. Atualmente, a iniciativa possui nove vacinas em desenvolvimento e nove em avaliação em seu portfólio. A meta é garantir 2 bilhões de doses até 2021.
Países com capacidade de se autofinanciarem podem pagar antecipadamente por doses de vacinas que cobririam até 50% da população, embora as vacinas devam ser distribuídas proporcionalmente entre países pobres e ricos à medida que se tornem disponíveis. Os governos inscritos têm liberdade para fechar acordos bilaterais e garantir o abastecimento separadamente.
Ter a China a bordo seria um grande negócio para a Covax, que contava com cerca de 172 países em discussão para participar até 24 de agosto. A possibilidade de fornecer doses até mesmo para uma fração dos 1,4 bilhão de habitantes da China aumentaria a massa crítica e o poder de negociação da aliança.
Ângulo diplomático
A China não tem muita experiência na fabricação e distribuição de vacinas para consumo global. Ainda assim, o país tem sido pioneiro no desenvolvimento de vacinas contra o coronavírus.
Nove das vacinas candidatas da China iniciaram ensaios clínicos e quatro delas obtiveram aprovação para testes na fase final III em outros países.
A CanSino, com sede em Tianjin, foi a primeira no mundo a atingir o estágio final de testes em humanos para uma vacina desenvolvida em conjunto com o Exército chinês. CanSino Biologics, Sinovac Biotech e China National Biotec iniciaram testes em países como Brasil, Rússia, Indonésia, Emirados Árabes Unidos, Peru, Chile e Marrocos.
Países da América Latina e do Caribe receberam a promessa de um empréstimo de US$ 1 bilhão para comprar uma vacina desenvolvida pela China. Atualmente, México, Chile, Brasil e Argentina se comprometeram a testar uma vacina chinesa. A região continua sendo a mais atingida, com Brasil, México e Peru entre os 10 países com maior número de mortes relacionadas à Covid.