A Suzano (BOV:SUZB3) planeja obter pelo menos 750 milhões de dólares, o equivalente a quase 4 bilhões de reais, com sua primeira emissão de “bônus sustentabilmente atrelados” — numa tradução livre e feia para sustainability-linked bonds. Esse tipo de papel não é inovador apenas para companhias brasileiras: trata-se de uma modalidade ainda nova no mundo. A emissão foi lançada hoje e seu valor ainda não era conhecido.
O custo dessa dívida está atrelado a compromissos de melhorias em sustentabilidade, com metas e prazos específicos firmados com esses credores. Mas o uso do dinheiro, contudo, não precisa estar comprometido com esses projetos. A companhia fica livre para dar a destinação que achar melhor aos recursos.
Essas são as principais diferenças em relação aos “bônus verdes” — os green bonds. Nessas operações, o dinheiro tem como finalidade projetos que podem ser enquadrados como sustentáveis. O recurso fica carimbado — ainda que na prática, a flexibilidade financeira obtida permita movimentações paralelas.
Conforme a Reset Capital, especializada em notícias de negócios do universo ESG e que antecipou o movimento da companhia de papel e celulose, a Suzano se comprometeu a cortar suas emissões em 15% até 2030, a contar de 2015, ano da assinatura do Acordo de Paris. Na comparação com 2019, significa um ajuste de 10%. Há verificações periódicas e metas intermediárias. Caso a companhia não consiga cumprir o combinado, terá um aumento de custo a partir de 2026.
Os papéis terão prazo de dez anos e a taxa inicial sugerida é em torno de 4,5% ao ano. A precificação fecha ainda nesta quinta-feira. Os coordenadores líderes são BNP Paribas, Bofa Securities, Credit Agricole, J.P. Morgan, Mizuho, Rabo Securities e Scotiabank. O sindicato para distribuição inclui ainda Goldman Sachs, Morgan Stanley, MUFG, Santander e SMBC Nikko.
No conjunto geral de sua atividade, a Suzano é uma companhia que captura mais gás carbônico da atmosfera do que emite. A gestora de recursos carioca JGP, no relatório de apresentação de sua filosofia de investimento após a decisão de integrar os fatores ambientais, sociais e de governança (ESG), fez um exercício que classificou como “rudimentar” sobre o impacto de receita que as empresas teriam para compensar suas emissões, ao custo de 10 dólares por tonelada de carbono e de 60 dólares. A estimativa se baseia nas informações divulgadas pelas próprias empresa, relativas a 2018. A Suzano é a única entre as brasileiras que teria ‘ganhos’ de até 10% em sua receita líquida, no lugar de perdas.