O Carrefour Brasil está comprando o Grupo BIG — a antiga operação do Walmart no País — por R$ 7,5 bilhões, uma consolidação que une o dois gigantes do varejo alimentar e cria uma companhia de R$ 100 bilhões de faturamento. Com a operação, o BIG não realizará mais o seu IPO.
O Fato Relevante foi divulgado pela empresa (BOV:CRFB3) na madrugada desta quarta-feira (24). Veja o comunicado na íntegra!
Goldman Sachs assessorou o Carrefour, que teve aconselhamento jurídico do Machado Meyer e do BMA Advogados na parte concorrencial. O Credit Suisse assessorou o BIG, que trabalhou com o Mattos Filho.
O negócio está sujeito à avaliação pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e a expectativa do Carrefour é obter o aval do regulador até 2022, segundo texto do fato relevante divulgado pela empresa de origem francesa.
O Grupo BIG — que fatura R$ 25 bilhões por ano com 387 lojas em 19 estados — é uma coleção das bandeiras que o Walmart havia comprado no Brasil: Bompreço, Paes Mendonça, Sonae, Big, Nacional, Maxxi Atacado e Mercadorama.
A transação marca uma saída rápida para a Advent, que comprou 80% da operação do Walmart no Brasil em junho de 2018 e, além de receber caixa, agora ficará com 4% do Carrefour Brasil. O Walmart, que ainda mantinha 20% do negócio, sairá nos mesmos termos da Advent.
O negócio também prevê que o Carrefour passará a administrar a bandeira Sam’s Club, através de um contrato de licenciamento com o Walmart. O Sam’s Club — um atacarejo para a Classe A que não compete frontalmente com Atacadão e Assaí — tem cerca de 2 milhões de membros pagantes.
Nos últimos dois anos e meio, o BIG passou por um turnaround acelerado sob o comando do CEO Luiz Fazzio: vendeu ativos imobiliários, reformou lojas, pivotou a estratégia de promoções do ‘Everyday Low Price’ (o DNA do Walmart) para o ‘High/Low’ mais alinhado com a cultura brasileira, e focou o crescimento da empresa nas bandeiras de atacarejo — o Maxxi e o próprio Sam’s Club.
O CEO Noël Prioux planeja converter a bandeira Maxxi em lojas do Atacadão, e parte das lojas BIG e BIG Bompreço para as bandeiras Atacadão ou Sam’s Club. (As demais lojas se tornarão hipermercados Carrefour.)
Segundo o comprador, a rede de lojas do Grupo Big tem significativa complementaridade geográfica com a do Carrefour, o que permitirá a expansão de seus formatos tradicionais, sobretudo atacado e hipermercados). A aquisição do Big expandirá a presença do Carrefour em regiões onde tem penetração limitada, como o Nordeste e Sul do país, e que oferecem forte potencial de crescimento
O Carrefour disse que só o ativo imobiliário do BIG vale cerca de R$7 bilhões, segundo uma análise independente.
Além da otimização de custos e maior eficiência na cadeia de suprimentos, as principais sinergias virão do “alinhamento de margens para aumentar rapidamente a rentabilidade das lojas.” Segundo a companhia, esses ganhos virão com a conversão das lojas, dado que as bandeiras do Carrefour “possuem a melhor oferta comercial em seus respectivos segmentos.”
Outra sinergia importante: o Banco Carrefour poderá oferecer seus cartões de crédito, carteira digital e outros produtos nas lojas que estão sendo compradas, e o ecommerce do Carrefour Brasil será será estendido à base de clientes do BIG. (Uma das primeiras medidas da Advent havia sido fechar o ecommerce do Walmart, que dava prejuízo.)
O Carrefour Brasil disse que as sinergias vão aumentar o Ebitda anual da companhia combinada em R$1,7 bilhão três anos após a conclusão da operação.
VISÃO DO MERCADO
BTG Pactual
“No caso da transação do Carrefour e do Grupo Big, esperamos que enfrente riscos de execução no processo de integração (considerando o tamanho do Grupo Big) e o negócio pode levar algumas restrições por parte do regulador”, segundo os analistas da BTG. As duas empresas combinadas têm ~22% de participação de mercado, mas com distribuição de lojas diferente por região.
BTG Pactual mantém recomendação neutra, com preço-alvo de R$ 24,00.
UBS
O banco de investimentos UBS afirmou que o acordo de compra do Grupo Big pelo Carrefour Brasil vai colocar a empresa francesa como líder de mercado e com valorização muito atraente.
“Embora não vejamos isso como um negócio maravilhoso, em nossa opinião é um negócio atraente, com altas sinergias e que fortalece significativamente a posição competitiva da empresa. Esperamos que os investidores respondam positivamente ao negócio”, diz o relatório.
Segundo o banco, as sinergias são significativas e podem chegar a R$ 1,7 bilhão em 3 anos para a nova empresa. As fontes de sinergias são o aumento de 60% na densidade de vendas para coincidir com as bandeiras do Carrefour, lançamento de serviços financeiros, custo de produtos vendidos, cadeia de suprimentos e redução de custos indiretos, entre outros.
“A aquisição dobra a exposição a hipermercados, aumenta a pegada em supermercado em três vezes e adiciona cerca de 25% a mais de lojas de atacarejo. Adiciona 32% nas vendas líquidas, enquanto acrescenta 16% ao Ebitda ajustado”, diz o relatório.
Os acionistas do Grupo Carrefour têm afirmado que desejam ver o capital devolvido por meio de recompras, enquanto a administração aponta oportunidades de fusões e aquisições criando mais valor de longo prazo.
O UBS manteve a recomendação de compra para (EU:CA), com o preço-alvo de 17 euros.
XP Investimentos
A XP Investimentos elevou o preço-alvo da ação do Carrefour Brasil, já incorporando o anúncio de aquisição do grupo Big e os números da varejista no quarto trimestre.
A corretora avalia que a transação já está praticamente refletida no preço de negociação atual (a ação subia 13,39% há pouco, para R$ 21,85) e as sinergias somente devem ser capturadas a partir do ano que vem.
Para analistas da XP, a transação acelera de forma relevante a expansão do grupo Carrefour, “enquanto há muita sinergia a ser capturada, principalmente através de ganhos de produtividade nas lojas e expansão do Banco Carrefour para os clientes Big”.
XP Investimentos mantém recomendação neutra, mas eleva preço-alvo de R$ 25,00 para R$ 28,00.
Lucro líquido de R$ 2,76 bilhões em 2020, avanço de 43%
O Grupo Carrefour Brasil registrou, em 2020, lucro líquido atribuível aos controladores de R$ 2,76 bilhões, avanço de 43% em relação ao ano anterior. No quarto trimestre de 2020, um lucro líquido atribuível aos controladores de R$ 935 milhões, o que representa um avanço de 47% em relação aos R$ R$ 636 milhões registrados no mesmo período de 2019.
O Carrefour Brasil avalia que as condições que impulsionaram o varejo de alimentos e o comércio eletrônico no ano passado se manterão em 2021, com executivos da empresa otimistas sobre o desempenho da empresa em um ambiente ainda incerto devido aos impactos de medidas de isolamento social.
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