A Lojas Renner divulga seus números do primeiro trimestre de 2023 (1T23) nesta quarta-feira (3) após o fechamento da Bolsa brasileira com uma visão crescente mais pessimista por parte dos analistas de mercado.
Às 10h51 (horário de Brasília), os ativos LREN3 caíam -1,4%, a R$ 14,69.
A Genial aponta que as empresas de vestuário de baixa/média renda devem ter um trimestre operacionalmente negativo. Com uma fraca demanda para o setor e dada a sensibilidade de preço do consumidor, a receita líquida de varejo da Lojas Renner deve perder inclinação, crescendo 4% ao ano. A rentabilidade da companhia também deve cair forte nesse trimestre, estimando uma margem Ebitda IFRS 16 de 10,6% (-660 pontos-base).
O BTG Pactual aponta que a companhia deve ser um dos destaques negativos da temporada. A receita da Renner deve crescer 4% ao ano, desacelerando em relação aos trimestres anteriores, com margem Ebitda (Ebitda, ou lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações, sobre receita) do varejo caindo 150 pontos-base ao ano, enquanto sua divisão de financiamento ao consumo deve registrar números semelhantes (e fracos) em relação ao final de 2022 (-R$ 32 milhões no lucro operacional).Neste sentido, analistas têm revisado para baixo as suas estimativas para a companhia. O JPMorgan cortou a recomendação para as ações LREN3 de overweight (desempenho acima da média, equivalente à compra) para neutra, além de reduzir o preço-alvo para dezembro de 2023 de R$ 25 para R$ 16,50, ou um potencial de alta de 10,6% em relação ao fechamento da véspera.
Às 10h12 (horário de Brasília), os ativos LREN3 caíam 2,35%, a R$ 14,57, nesta quarta-feira (3), após a baixa de quase 6% na véspera, em um dia negativo para o Ibovespa.
“Temos sido otimistas em relação ao case de investimento da Renner por vários anos, apoiando nossa visão construtiva tendo como base a liderança de mercado, execução superior gerando ganhos consistentes de participação de mercado e balanço sólido. Porém, diferentemente do esperado, os ganhos de market share não estão relevantes neste momento, enquanto a divisão de financiamento ao consumo tornou-se um tema que em parte parece ser estrutural – pior originação”, avaliam os analistas.
Com isso, um caso relativamente previsível de crescimento consistente e resiliente começou a trazer alta volatilidade, tornando as perspectivas para a companhia mais nebulosas, aponta a equipe de analistas que assina o relatório, liderada por Joseph Giordano.
Deste modo, os analistas apontam preferirem assumir uma postura conservadora neste momento e rebaixar a ação da Renner (BOV:LREN3), já que, mais uma vez neste ano, cortaram significativamente as estimativas – o lucro por ação foi revisado para baixo em 20% além do corte em 30% no início deste ano, agora vendo outro risco de queda de 16% para as expectativas de consenso.
“Além disso, mesmo depois de cair 23% no acumulado do ano contra alta de 6% do Ibovespa, a ação não desvalorizou muito e ainda é negociada a 13,5 vezes o P/L (preço sobre lucro) esperado para 2023, com incertezas persistentes em torno de seu financiamento ao consumidor”, avalia.
Na visão dos analistas, o potencial de valorização do novo preço-alvo é pequeno no atual ambiente volátil, com baixa visibilidade de resultados. “Neste ponto, ficaríamos longe de nomes de consumo discricionário e focaríamos em empresas que devem continuar imprimindo resultados sólidos apesar da volatilidade macroeconômica”, destacam, citando RD (RADL3) como uma deles.
O banco aponta que, enquanto 40% do mercado continua informal e fragmentado, com o formato Renner ainda pouco explorado e assim abrindo caminho para a aceleração dos ganhos de share, este não foi o caso no passado recente e é improvável que seja no primeiro semestre de 2023, levantando questões sobre a estratégia da empresa no mundo pós Covid.
E, ao mesmo tempo, os analistas veem as operações cross-border (ou o “comércio transfronteiriço”) como um obstáculo adicional, especialmente no contexto em que a Renner vem aumentando os preços em meio à alta inflação de custos e torna sua proposição de valor historicamente boa menos atraente.
Soma-se a isso a indicação de que a tão temida interrupção das operações de financiamento ao consumidor dos varejistas podendo avançar à medida que veem que novos clientes que buscam o Cartão Renner estão com uma pontuação de crédito significativamente menor do que no passado.
“Assim, isso sugere que o Realize é um dos últimos recursos de crédito e, diferente do passado, agora é um cartão de crédito regular, que possui mais de 65% de sua utilização fora da Renner versus o histórico cartão private label – restrito às operações de varejo da empresa”, apontam.
Com isso, dada a visibilidade reduzida, os analistas do JPMorgan adotaram uma abordagem conservadora e não assumem contribuição de ganhos da Realize em 2023, enquanto ela deve ser responsável por 5% do lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês), ante históricos 18%-20% e a expectativa anterior do banco entre 10% e 12%.
Cabe destacar que, na véspera, a Genial Investimentos também reduziu a recomendação para os ativos LREN3 de compra para manutenção, cortando o preço-alvo para 2023 de R$ 36,25 para R$ 20,50 (upside de 37,40%)
Os analistas atualizaram sua projeção de curto prazo para a empresa dados o aumento de competitividade e um ambiente macroeconômico ainda desafiador para Realize e Camicado. Na visão da casa, a companhia precisará de mais tempo para conseguir fechar o gap de rentabilidade apresentada em 2019.
“Diferente de nossa projeção inicial, o qual esperávamos uma recuperação sequencial no 1T23, acreditamos que o varejo vestuário de baixa/média renda terá um primeiro semestre de 2023 ainda desafiador, dada a maior competição low price da Shein e sensibilidade de preço do consumidor”, apontam os analistas da Genial.
As projeções de indústria apontam que os meses entre abril e junho ainda devem se mostrar difíceis para o crescimento de receita da Renner, avaliam, que sofre em meio a competitividade e uma base de comparação muito forte (2T22).
Além disso, o ramp up (início de operações) do centro de distribuição de Cabreúva ainda deve contribuir negativamente para margens operacionais da companhia. Ao somar esse efeito a desalavancagem operacional e fornecimento de crédito ainda desafiador, dada a Selic em 13,75%, a equipe de análise vê poucas alavancas de recuperação de rentabilidade para esse primeiro semestre de 2023.