Na expectativa de um segundo semestre economicamente afetado
pela pandemia do coronavírus, a companhia de alimentos M.
Dias Branco (BOV:MDIA3), uma das maiores produtoras de
farinha de trigo, massas e biscoitos do Brasil, adotou estratégias
para recompor margens afetadas pelos impactos do câmbio sobre os
custos de produção.
Investimentos em automatização, maquinário, estocagem, hedge
cambial, otimização de portfólio, nas malhas logísticas e
operacionais são algumas das medidas adotadas pela empresa, que tem
no trigo a principal matéria-prima, muito importada pelo
Brasil.
A estratégia de repasses de custos ao consumidor final foi
colocada em prática em duas rodadas, mas o vice-presidente de
Investimentos e Controladoria da empresa, Gustavo Lopes Theodozio,
disse que não será possível repassar 100% do aumento das
despesas.
“Fizemos a primeira precificação do portfólio no início do ano e
a segunda em junho, o que minimiza um pouco o efeito do câmbio… mas
a recomposição de margens é algo muito desafiador”, afirmou o
executivo da companhia que é líder nos mercados de biscoitos e
massas no Brasil, com mais de 30% de market share.
Ele não detalhou a alta no preço do trigo para a empresa. No
mercado de referência do Paraná, a matéria-prima registra alta de
cerca de 40% no acumulado do ano, para patamares nunca vistos de
mais de 1.200 reais por tonelada, enquanto o dólar subiu mais de
30% no período.
Em abril, a associação representante do setor Abimapi disse que
a indústria brasileira preparava reajustes de 12% a 30% no
portfólio durante o primeiro semestre, para repassar o aumento de
custos com trigo impulsionado pelo dólar. Mais recentemente, a
entidade reportou alta de cerca de 5% no faturamento do segmento no
primeiro quadrimestre.
A cotação do dólar interfere na paridade de preços do trigo,
principal matéria-prima dos moinhos do setor, e no valor dos
insumos importados que são utilizados na formação de blends para o
portfólio da indústria.
Tradicionalmente, o Brasil precisa de trigo importado, em sua
maioria da Argentina, para complementar a oferta nacional e atender
a demanda doméstica estimada em mais de 12 milhões de
toneladas.
No caso da M. Dias, Theodozio disse que faz parte dos negócios
da companhia buscar trigo de diversas fontes e acessar tanto o
mercado argentino, quanto o norte-americano, canadense e russo para
composição das receitas de seus produtos.
“(Com isso), o grande ofensor (das margens) é o câmbio, em
função da instabilidade global e doméstica (atrelada à pandemia),
questão política, etc”, afirmou.
Para ele, o dólar perto de 5,50 reais “machuca demais o custo
médio” da operação. Na terça-feira, a moeda norte-americana fechou
em alta cotada a 5,38 reais.
“Você tem o efeito do aumento de custos, por outro lado, em
função da pandemia, você vê uma recessão econômica grande chegando.
Tem uma queda da renda dos brasileiros acentuada a partir do
segundo semestre e o repasse de 100% do custo para o consumidor não
é possível. Temos que achar outras ferramentas para neutralizar
esse efeito”, explicou.
MEDIDAS
Ele contou que a companhia começou a trabalhar com hedge cambial
como medida de proteção e mantém capacidade de estocagem de
matéria-prima para, aproximadamente, quatro meses, na tentativa de
mitigar as oscilações do dólar e do preço do trigo.
“Além de conseguirmos atuar com portfólio mais rico, estamos
fazendo um trabalho de melhoria de produtividade que já vinha desde
janeiro. E ele passa por todas as áreas, otimização de malhas
logísticas, operacionais”, comentou.
Na área logística, foi integrada a distribuição de produtos da
Piraquê, fabricante de biscoitos adquirida pela M.Dias em 2018.
O executivo disse que também foi feito um ajuste na força de
vendas da empresa e admite que percebeu uma elevação na demanda
interna decorrente das medidas de isolamento social contra o novo
coronavírus.
“Produtos das nossas categorias estão bastante demandados em
função da pandemia, principalmente farinhas, massas e biscoitos…
Houve um pico de consumo entre o fim de março e início de abril,
que se normalizou em meados de maio, mas segue forte devido ao
aumento da alimentação dentro dos lares”, disse.
Questionado sobre o percentual de aumento na demanda associada à
crise da Covid-19, Theodozio afirmou que é difícil mensurar, pois
parte do consumo também estaria atrelado a um plano estratégico que
vem sendo executado pela companhia desde antes da pandemia.
AUTOSSUFICIÊNCIA EM FARINHA
Um dos principais elementos deste plano estratégico foi a
operacionalização de um novo moinho de trigo em Bento Gonçalves
(RS), inaugurado em dezembro de 2019, o que garantiu à empresa
autossuficiência em farinha de trigo.
“Com a chegada deste moinho, estamos praticamente sem nenhuma
dependência de farinha de terceiros para nossa produção”,
afirmou.
Sem revelar valores, Theodozio ressaltou que a M. Dias ainda
segue investindo em automatização, em máquinas de produção na
planta do Rio de Janeiro e em um processo de expansão “relevante”
na atuação entre as regiões Sul e Sudeste, o que também pode
contribuir para baixar custos com matéria-prima nacional.
M.DIAS BRANCO ON (BOV:MDIA3)
Gráfico Histórico do Ativo
De Mar 2024 até Abr 2024
M.DIAS BRANCO ON (BOV:MDIA3)
Gráfico Histórico do Ativo
De Abr 2023 até Abr 2024