Que 2023 não está sendo o melhor ano para as varejistas
brasileiras, já é sabido. Juros altos e a renda das famílias
comprometida pela inflação impactam o faturamento das companhias,
bem como os gastos financeiros. Mas há as empresas que vêm
destoando, apesar do cenário macroeconômico.
No terceiro trimestre, os destaques positivos após as
publicações dos resultados no período, ficaram para a C&A
(BOV:CEAB3), para a SBF (BOV:SBFG3), dona da Centauro, e para o
Grupo Soma (SOMA3), dono da Farm. As ações da primeira subiram mais
de 18% no pregão seguinte à divulgação do seu balanço, as da
segunda, 22%, e as da terceira, quase 7%.
Especialistas, ao serem indagados sobre o assunto, respondem que
as três companhias têm estratégias diferentes – mas que vêm,
também, apresentando algo em comum.
“Se olhar para as três companhias, vai perceber que elas fizeram
muito bem aquilo que já falávamos que iria acontecer no começo do
ano, que é o ‘back to fundamento”‘ diz Ana Paula (Popy) Tozzi, CEO
da AGR Consultores, especializada em varejo.
“Elas foram além do back to basics e entregaram coisas que
parecem simples, como comprar bem dos fornecedores, tanto em preço
quanto em variedade, assertividade, gerenciar lojas de maneira que
dê resultado e por aí vai. Tudo traz resultado”, completa.
Com os juros altos, o custo de capital ficou maior e, já há
algum tempo, diversas varejistas começaram a priorizar resultados.
Passou a ser normal ver executivos falando em foco no ganho de
margem, de produtividade e de melhorias logísticas. Quando os juros
estão mais baixos, não é raro as empresas deixarem a lucratividade
de lado para priorizarem fatores como fatia de mercado.
“A C&A, por exemplo, vêm trazendo duas frentes de atuação.
Um de eficiência operacional, com gestão de custos e de despesas,
melhorias em logística e de crescimento do seu canal eletrônico.
Outra diferença é que ela vem trazendo um cuidado enorme com suas
coleções, com melhor mix de categoria”, explica a especialista.
C&A e o “push and pull”
Para Popy, o destaque, em grande parte, fica para a
implementação do sistema push and pull. Esse tipo de venda
consiste, como o nome já diz, em entender as demandas dos clientes,
o “puxa”, e a entregar – ou empurrar – produtos que as atenda,
melhorando as vendas e, mais do que isso, criando uma
fidelização.
“É um modelo de gestão super complexo, mas muito mais assertivo,
que eles vêm adotando. Você faz o acerto do estoque com uma
reposição mais frequente e consegue entender o perfil de consumo de
cada loja, contado com a tecnologia, machine learning e por ai
vai”, diz.
Os comentários de analistas de ações vão na mesma linha.
“A companhia segue colhendo frutos de estratégias adotadas num
passado recente, como o push and pull e a precificação dinâmica,
que levaram a margem bruta para patamares acima do ano de 2019. A
C&A vem mostrando também um excelente controle de despesas, com
a participação de SG&A [despesas com vendas, gerais e
administrativas, na sigla em inglês] atingindo 35% da receita,
contra 38% um ano antes”, debateu Lucas Lima, analista da VG
Research.
O Bradesco BBI, após a divulgação do resultado do terceiro
trimestre, disse que a varejista “apresentou outro conjunto de
resultados sólidos”, mantendo a tendência de melhoria de resultados
desde o último trimestre de 2022.
“Os resultados ficaram acima das expectativas no faturamento e
na rentabilidade, com boa geração de caixa (a dívida líquida
reduziu R$ 142 milhões no trimestre)”, avaliou a casa.
O banco apontou que a C&A foi o único player de lojas de
departamentos de vestuário que apresentou crescimento e expansão de
margem no terceiro trimestre.
Grupo Soma traz melhora operacional
No caso do Grupo Soma (BOV:SOMA3), a CEO da AGR Consultores
explica que grande parte do diferencial que a empresa apresentou
ficou para o aperfeiçoamento de operações.
“O trabalho de back-office das marcas, principalmente na
logística, tem trazido bons resultados, com melhora na velocidade,
na eficiência e com custos menores”, diz.
A equipe da XP, por exemplo, apontou na época da publicação que
a varejista reportou resultados acima do esperado no terceiro
trimestre.
Apesar do desempenho de receita e margem bruta em linha com as
suas projeções, o Ebitda (lucro antes de juros, impostos,
depreciações e amortizações, na sigla em inglês), de R$ 213
milhões, e o lucro líquido, de R$ 96,1 milhões, vieram acima do que
a corretora esperava, “devido a menores despesas com SG&A,
resultados financeiros e despesas com impostos”.
O time do Itaú BBA trouxe opinião parecida, destacando que a
varejista teve rentabilidade ligeiramente melhor do que suas
expectativas. O Bradesco BBI falou que o Grupo reportou números
acima das expectativas consideravelmente baixas do consenso e
antecipou que isso poderia se refletir no preço da ação.
“Outro destaque positivo ficou para rentabilidade da marca
Hering, que reportou crescimento de 1,1 ponto percentual da margem
bruta na comparação anual, refletindo, principalmente, menores
custos de matérias-primas, fábricas mais efetivas e mais vendas de
produtos com preço cheio”, acrescenta Lima, da VG Research.
Fora isso, o Grupo Soma vem tentando associar elevar o preço das
roupas básicas da Hering, reposicionando a marca para um segmento
um pouco mais premium.
“Estão buscando uma recuperação de valor. Tentar voltar com a
Hering com seu antigo diferencial competitivo, que é moda básica de
qualidade. Isso, necessariamente, passará por um reposicionamento
de preço”, contextualiza Ana Paula Tozzi.
SBF tem reviravolta frente ao segundo trimestre diminui
estoques
Popy, por fim, destaca que o SBF vem fazendo um bom trabalho na
frente de marcas.
“É quem está testando o H&M no Brasil, por exemplo”, fala,
em relação à marca sueca de fast fashion e com proposta semelhante
à Zara que vem entrando no país através do marketplace da SBF.
“Ela está testando novas marcas, novos segmentos. Isso é super
importante para que perca aquela coisa exclusiva de trabalhar só
com o esporte. Com isso consegue estar no carrinho do cliente com
mais frequência e com mais variedade”, contextualiza, citando
também o trabalho de eficiência da companhia.
Já Caroline Sanchez, analista de varejo da Levante, chama a
atenção para o fato de que o segundo trimestre da companhia foi
muito ruim.
“Ao contrário do período que vai de abril a julho, o principal
destaque que a gente viu foi um Ebitda bem acima do esperado,
devido a alavancagem operacional e também aos ajustes que foram
sendo realizados ali ao longo do primeiro semestre. “Isso resultou
em uma melhora nas despesas de SG&A”, explica.
Outro destaque trazido pela companhia, de acordo com Sanchez,
foi a queima de estoque. A dona da Centauro partiu para um markdown
mais forte, ou seja, diminuiu preços para aumentar o faturamento,
trazendo lucro melhor, maior geração de caixa e desalavancagem.
A receita líquida, com isso, alcançou R$ 1,79 bilhão entre julho
e setembro, representando uma alta de 22% em relação ao mesmo
período de 2022, enquanto o lucro líquido cresceu 61,4% na mesma
base, para R$ 55,3 milhões. A geração de caixa foi de R$ 115
milhões, revertendo o consumo de R$ 70,7 milhões de um ano
antes.
O Bradesco BBI, após o balanço, foi na mesma linha, definindo os
resultados como “surpreendentes”.
Os analistas do banco apontaram que as principais linhas
melhoraram sequencialmente, embora ainda sob pressão. O crescimento
anual das vendas líquidas de 22% foi uma recuperação frente a alta
de 8,9% no segundo trimestre – e acima das projeções da casa –
impulsionado principalmente pela recuperação do canal atacadista
Fisia (Nike), que reverteu da contração de 20,6% para uma alta de
18,4%.
“A expansão da margem Ebitda ajustada de 2,40 pontos percentuais
ficou dois pontos acima de nossas expectativas, impulsionada
principalmente pela alavancagem operacional e despesas gerais e
administrativas controladas (aumento de 9%, enquanto as receitas
aumentaram 22%)”, acrescentam.
Por outro lado, o BBI pondera que a consistência continua a ser
fundamental e espera que os investidores permaneçam monitorando a
capacidade da empresa de melhorar de forma sustentável a conversão
de caixa tanto em termos de capital de giro como de
rentabilidade.
“Com a Black Friday se aproximando, há o otimismo do Grupo SBF
reduzir ainda mais o nível de estoque com os descontos que serão
oferecidos. Com isso, esperamos uma melhora na dinâmica de capital
de giro e geração de caixa no próximo ano”, fala Lucas Lima, da
VG.
Hoje, as ações ordinárias da SBF têm seis recomendações de
compra segundo o Eikon, da Reuters, com preço-alvo médio em R$
14,70, upside de 44,1% frente ao fechamento de ontem. Os papéis da
C&A tem uma recomendação de compra, com cinco neutras e uma de
venda, e preço-alvo médio em R$ 6, downside de 25,9%. Os papéis do
Soma, por fim, têm 10 recomendações de compra e uma neutra, com a
média do alvo em R$ 11, upside de 66,6%.
Informações Infomoney
C&A ON (BOV:CEAB3)
Gráfico Histórico do Ativo
De Dez 2024 até Jan 2025
C&A ON (BOV:CEAB3)
Gráfico Histórico do Ativo
De Jan 2024 até Jan 2025