Sabesp-Emae: União de complementares com muitas diferenças a serem resolvidas
Negócio, envolvendo possível fusão das empresas, deve ser resolvido ainda este ano. Venda ou não de ativos de energia ainda é dúvida
O governo de São Paulo está mobilizado para a absorção da Emae pela Sabesp. Um negócio, que pela história da empresa elétrica, parece mais natural do que as aparências permitem. A Emae saiu, ano passado, de uma sucessão de prejuízos, em decorrência da maior venda de energia no mercado livre com preços maiores puxados pela alta do PLD. Mesmo assim, o papel da empres...
Sabesp-Emae: União de complementares com muitas diferenças a serem resolvidas
Negócio, envolvendo possível fusão das empresas, deve ser resolvido ainda este ano. Venda ou não de ativos de energia ainda é dúvida
O governo de São Paulo está mobilizado para a absorção da Emae pela Sabesp. Um negócio, que pela história da empresa elétrica, parece mais natural do que as aparências permitem. A Emae saiu, ano passado, de uma sucessão de prejuízos, em decorrência da maior venda de energia no mercado livre com preços maiores puxados pela alta do PLD. Mesmo assim, o papel da empresa como gestora dos recursos hídricos, principalmente, nas represas de Guarapiranga e Billings, tem um custo alto sem remuneração.
As empresas estão em negociação há um ano desde que firmaram um acordo de confidencialidade. Nesse período, as duas estatais, com ações em Bolsa, estão analisando as melhores opções de negócios, que satisfaçam, inclusive, os acionistas minoritários. Segundo o consultor Silvio Areco, da consultoria Andrade & Canellas, o histórico das conversas permite prever um resultado para o segundo semestre. "Acho que no terceiro trimestre teremos uma solução", disse o consultor em entrevista à Agência CanalEnergia.
Areco, que é ex-diretor de Geração Oeste da Cesp, lembra que a Sabesp é uma grande consumidora livre de energia. A empresa tem um contrato de 135 MW médios com a Cesp, em vigor até o final de 2012. "A empresa precisa começar 2013 já com essa situação resolvida". Por outro lado, o papel dos reservatórios controlados pela Emae se tornar cada vez mais importante para regulação das cheias e abastecimento da cidade de São Paulo. "A Emae não é remunerada por esse trabalho", salienta.
Como a preferência do uso da água é para o abastecimento humano, a geração de energia no reservatório de Billings é prejudicada. Atualmente, a usina de Henry Bordens, com capacidade de 889 MW, está limitada a 10% dessa potência. De acordo com Areco, a hidrelétrica tem produzido 124 MW médios por ano, normalmente. A Emae conta ainda com duas UHEs Porto de Goés (11 MW) e Rasgão (22 MW). Além disso, a empresa opera as térmicas Piratininga e Fernando Gasparian, alugadas para a Petrobras.
A primeira vista, uma união entre as empresas parece complementar necessidades: a Sabesp assumiria os reservatórios, ampliando suas fontes de abastecimento, ao mesmo tempo, que teria recursos energéticos a disposição. Contudo, Areco pondera que a estatal de saneamento terá que decidir se vira uma auto produtora de energia elétrica ou continua comprando energia no mercado livre. "A empresa vai decidir se vale a pena manter a estrutura ou comprar a energia", avaliou Areco.
No caso de manter a produção, a Sabesp terá que esperar os contratos da Emae terminarem para aproveitar a energia. Areco calcula que a maior parte dos contratos tenha vencimento entre 2013 e 2015, com exceção dos projetos de expansão das pequenas usinas, em vigor por 30 anos. A operação de Henry Bordens é considerada estratégica para a cidade de São Paulo já que a usina pode, em determinadas situações de emergência, atuar a plena capacidade. "Para o restabelecimento da energia em São Paulo, a usina é fundamental por ter uma linha exclusiva para a cidade", disse. Mesmo que mantenha a produção da Emae, a Sabesp teria que recorrer ao mercado porque não seria suficiente para acompanhar o ritmo de crescimento do consumo da empresa frente a produção de água potável e tratamento de esgoto.
Mas, se a decisão for por vender os ativos de geração de energia, a empresa terá várias opções: venda individual dos ativos, em bloco ou diretamente para a Cesp. No último caso, Areco salienta que não é necessário licitação. "Como são empresas controladas pelo estado a licitação não se faz necessária". Porém, esse repasse dos ativos teria custos para a Cesp - pagamento dos ativos e integração ao seu próprio parque gerador.
Como a Cesp está na fila para a privatização, aguardando apenas a resolução da situação das concessões, Areco questiona se é prudente entregar esses ativos para a companhia. "Poderia se deixar essa decisão de repassar para Cesp para depois da privatização", sugeriu, nesse caso através de uma licitação. A Emae tem feito um trabalho de modernização das usinas, construída na primeira metade do século passado, ao mesmo tempo que retoma os investimentos. A empresa está com projeto da PCH Pirapora (25 MW), prevista para 2011.
A situação econômico-financeira da Emae melhorou com os resultados do ano passado. A empresa reverteu prejuízo e lucrou R$ 170 milhões. Contudo, Silvio Areco acredita que a situação da empresa ainda é de desequilíbrio econômico e financeiro, que precisa ser resolvido no curto prazo. "A empresa tem dois ou três anos para solucionar sua situação", afirmou.
A Emae é originada nas sucessivas cisões e fusões das empresas do setor elétrico de São Paulo, que foram preparadas para desestatização. Atualmente, além da companhia, a Cesp tem controle do governo estadual. Empresas como Elektro, AES Eletropaulo, Cteep, Duke Energy Paranapanema, AES Tietê, que fizeram parte de empresas da Cesp e Light São Paulo, que virou AES Eletropaulo, estão em mãos de controladores privados.
A reportagem da Agência CanalEnergia procurou Emae e Sabesp, mas as empresas afirmaram que não falarão, por enquanto, sobre a negociação.http://www.andradecanellas.com.br/default.asp?id_materia=1985
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