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BOI: UM MERCADO CAPRICHOSO OU COM LUCRO GARANTIDO?

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De um lado, uma China rica, que consome cada vez mais. De outro, mudanças nos consumidores. Minerva, Marfrig, JBS e BRF entram na dança. Quem ganha a disputa?

Foi aberto semana passada, dia 11 de junho, na cidade de Colônia, na Alemanha, o primeiro Burger King sem carne do mundo. Todas as opções de seu cardápio são feitas de proteína vegetal. Certo, foi mais um golpe publicitário do que qualquer outra coisa. A loja especial funcionou por apenas cinco dias. Não dá para fazer nenhum teste de mercado nesse tempo e em apenas um lugar, mas já é um sinal.  No mundo todo, o próprio Burger King, em parceria com a The Vegetarian Butcher, da Unilever (ULEV34), já oferece opções de proteína vegetal. México, China já oferecem a opção de whoopers e cheeseburgeres vegetais. Na Europa, além desses, é possível encontrar nuggets de frango sem frango. No Brasil, o Burger King recebe suas carnes vegetais da Marfrig (MRFG3).

É melhor se acostumar com a alcatra vegetal – alcachofrata? Agora, em junho de 2021, o CEO da Cargill, David MacLennan, afirmou que, segundo análises da sua empresa, “em três ou quatro anos a proteína de plantas será responsável por 10% de nosso mercado. Somos um grande produtor de carne bovina, então alguma canibalização irá ocorrer”.

E o que dizer da pesquisa feita pelo Good Food Institute e pelo Ibope (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística)? Segundo ela, 49% dos brasileiros consideram diminuir o consumo de carne, seja por motivos de saúde ou ambientais. Os números referem-se a 2 mil pessoas ouvidas em maio de 2019.  Certo, você pode argumentar que o Good Food Institute não é uma fonte tão confiável assim, pois se trata de uma instituição que atua em vários países para expandir a causa da proteína vegetal. A página da organização afirma que são sustentados “100% por doações voluntárias”, mas não é impossível que, entre esses voluntários, esteja alguma grande empresa do setor. O Ibope é mais confiável.

De qualquer forma, a preocupação existe. Tanto que deu origem a uma nova palavra: flexitarianismo. Flexitarianos são pessoas que buscam reduzir a ingestão de carne, mas que não abrem mão totalmente do churrasquinho do fim de semana. E, em paralelo, buscam opções vegetais que imitem o aroma, o sabor e a textura da proteína animal. Segundo pesquisa feita em agosto de 2020 pelo instituto norte-americano Packaged Facts, especializado no mercado do consumidor final, o público dos Estados Unidos se define como:

  • 53% onívoros – comem de tudo. Dizem que alguns encaram até manga com leite.
  • 5% vegetarianos – tudo o que se planta mais ovos, leite e derivados, mel.
  • 3% piscitarianos – não comem carne vermelha ou frango. Peixes e frutos do mar pode.
  • 3% veganos – não comem nada que não seja vegetal. Sem exceção. Nem ovos, nem leite, nem nada que signifique “exploração animal”. Evitam roupas de couro, lã ou seda. Os mais radicais questionam até se é ético ter um cachorro de estimação. Gato nem pensar, pois gato é 100% carnívoro. Dizem que cachorro, pelo menos, consegue sobreviver bem numa dieta vegetariana. Quer dizer, ninguém perguntou aos cachorros.
  • 36% flexitarianos – dependendo da ocasião, trocam um prato de proteína animal por um vegetariano. A probabilidade e a frequência dessa troca variam de pessoa para pessoa.

Não é à toa que os grandes frigoríficos brasileiros entraram no mercado da carne vegetal:

  • A JBS (BOV:JBSS3) tem a Seara Incrível Burger e, em abril, adquiriu a empresa holandesa Vivera por 341 milhões de euros. A companhia possui 3 unidades de produção de cupim de aipim e um centro de pesquisa. A Vivera vende para 25 países europeus.
  • A Marfrig (BOV:MRFG3) tem a PlantPlus, em parceria com a ADM norte-americana, e é uma das atuais líderes da picanha de ervilha. A empresa avalia que o mercado, de US$ 6,5 bilhões em 2021, cresça para US$ 25,5 bilhões em 2030.
  • A BRF (BOV:BRFS3) aposta forte em carne produzida em laboratório. A meta é colocar o produto nos supermercados a preço competitivo em 2024. A intenção é se tornar a primeira e maior empresa a produzir carne de laboratório no Brasil. Para isso, são necessários biorreatores capazes de produzir carne equivalente a 40.000 cabeças de gado em menos de 2 semanas. Vamos traduzir isso. A média de cabeça de gado para abate no Brasil é de 18 arrobas, ou 270 quilos. Isso quer dizer produzir 21.600 toneladas de tec-carne por mês. Vamos além. Cada brasileiro consome, por baixo, 27 quilos de carne vermelha por ano. Em um universo de 211 milhões de pessoas, isso significa quase 475 mil toneladas por mês. Assim, a BRF espera que, já em 2024, até 4,55% do mercado seja de carne de laboratório. Essa conta só a ADVFN mostra.
  • A Minerva (BOV:BEEF3) já tinha parceria com a norte-americana Clara, e agora traz uma nova food-tech, a Amyris, para pesquisar proteínas alternativas. Uma das apostas é produzir a carne vegetal a partir da cana-de-açúcar. A empresa também trabalha no desenvolvimento de um conservante natural que amplie o prazo de validade da carne (de verdade) e diminua a pegada de gás carbônico da indústria.

Então, para quem conta com os lucros da pecuária tradicional, acabou a maminha, digo, a mamata?

Não é bem assim.

A Tyson Foods, segunda maior empresa de proteína animal do mundo (atrás da JBS), amargou um fracasso em sua primeira tentativa no mercado de proteína vegetal. Lançou sua linha de carne vegetal em 2019 e, no início de 2021, retirou do mercado por falta de procura. Ela promete insistir nas linguiças de linhaça, agora com o selo “100% vegano”.

Enquanto isso, o valor da arroba do boi no Brasil continua muito bem, obrigado, aproximando-se do valor histórico recorde de R$ 320 por arroba. No acumulado entre janeiro e maio, a arroba valorizou 19,58%. Lá fora, o otimismo é o mesmo.

A empresa de pesquisa indo-americana GVR, uma das líderes do setor, aponta que o mercado de carne de verdade alcançará 383,5 bilhões de dólares em 2025, com crescimento do CARG de 3,1% até lá.

Tudo bem, senta que lá vem cálculo. O CARG, sigla em inglês para Taxa Composta de Crescimento Anual, é a taxa de retorno necessária para um investimento crescer de seu saldo inicial para o seu saldo final. Ou seja, uma ferramenta que ajuda a entender a rentabilidade futura ao longo de um período.

Para calculá-la, primeiro divida o valor final do investimento pelo valor inicial do mesmo investimento. Guarde esse número.

A seguir, divida 1 pelo número de anos. Em nosso caso, são 4 anos, então o resultado é 0,25.

Agora, pegue o primeiro número e eleve-o ao segundo.

Para conseguir a porcentagem, é só pegar o resultado e diminuir 1.

Esse número indica a taxa de crescimento, de retorno, de lucratividade que você precisa para ganhar “X” investindo “Y” por “Z” anos.

Muito útil, mas lembre-se de que a base são previsões. Previsão por previsão, as Olimpíadas de Tóquio já teriam acontecido e estaríamos todos usando carros voadores a essa altura do campeonato.

Esse aumento do consumo tem um responsável claro: a China. Lembra que o brasileiro consome pouco menos de 27 quilos de carne por ano? O chinês consome apenas 4,1 quilos. A cultura ajuda, lógico. A culinária e os hábitos locais favorecem largamente o consumo de porco e frango, mas ainda assim o potencial é enorme. Tradicionalmente, por lá bife é comida para se consumir em restaurante bom, não em casa. Mais ou menos como vemos o coquetel de camarão. Mas a nova geração está mudando esses hábitos, tanto que o consumo interno da carne vermelha deve subir 6% em 2021, se comparado a 2020. Isso reflete em nossa balança comercial, sendo a China o maior comprador de carnes brasileiras. Exportamos para lá 317.081 toneladas entre janeiro e maio de 2021, um aumento de 10,4% em relação aos primeiros cinco meses de 2020.

Aí entra o xadrez econômico das terras do panda. O governo chinês pretende aumentar o tamanho de seu rebanho, não tanto para seu consumo, e mais para tentar influenciar a oferta e demanda globais e, assim, forçar o preço para baixo. A recente disparada do preço do porco deixou um gosto amargo na economia local, e eles querem evitar que isso aconteça em outros mercados.

Enquanto a maminha de mamona não vem, o setor ainda deve lucrar muito.

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