Dow Jones caiu 200 pontos à medida que a inflação atinge o nível mais alto desde 1981

As ações dos Estados Unidos caíram na quarta-feira (13) depois que os dados de inflação de junho atingiram seu nível mais alto desde 1981, aumentando os temores crescentes de que o Federal Reserve se tornará mais agressivo em sua luta para controlar a alta dos preços.

O Dow Jones caiu 208,54 pontos, ou 0,67%, para 30.772,79. O S&P 500 caiu 0,45%, para 3.801,78. O Nasdaq Composite caiu 0,15%, fechando em 11.247,58.

“Não há como girar isso, exceto que o Fed precisa se tornar mais agressivo no curto prazo e esmagar a demanda. Isso cimenta uma recessão agora”, disse Liz Ann Sonders, da Charles Schwab. “Acho que uma recessão é uma inevitabilidade.”

O índice de preços ao consumidor subiu 9,1% em relação ao ano anterior em junho, ficando ainda maior do que  a leitura de 8,6% de maio, que foi o maior aumento desde 1981 . Economistas consultados pelo Dow Jones previam uma impressão de 8,8%.

O núcleo do IPC, que exclui alimentos e energia, ficou em 5,9% e acima da estimativa de 5,7%.

As ações oscilaram ao longo do dia, enquanto os investidores digeriam os últimos dados de inflação, com o Dow Jones caindo até 466 pontos. A certa altura, o Nasdaq e o S&P caíram mais de 2% e 1,5%, respectivamente.

O consumo discricionário subiu 0,9% impulsionado pelos ganhos da Domino’s Pizza, Bath & Body Works e Tesla, enquanto Boeing, Walgreens e UnitedHealth caíram 2% cada, arrastando o Dow Jones para território negativo.

As ações de tecnologia prejudicadas da Amazon, Netflix e Tesla voltaram na quarta-feira, subindo mais de 1% cada, apesar das crescentes preocupações com o crescimento. O movimento trouxe brevemente o Nasdaq para um território positivo. As ações do Twitter subiram 8% quando a empresa de mídia social processou Elon Musk.

Junto com o relatório de inflação, os investidores continuaram a monitorar os lucros do segundo trimestre em busca de pistas sobre a saúde das empresas americanas. As ações da Delta Air Lines caíram 6,3% após apresentar resultados mistos.

Em meio às notícias, United e American Airlines caíram cerca de 1% e 3%, respectivamente. As ações de cruzeiros em dificuldades da Royal Caribbean e da Carnival caíram mais de 1%.

Pico de inflação ou aumentos maiores das taxas do Fed?

A leitura de inflação quente de junho deixou os traders questionando se o banco central aumentará mais 75 pontos-base durante a reunião deste mês e elevou as expectativas de um aumento ainda maior para domar os preços em alta.

No mês passado, o Fed elevou sua taxa básica de juros em três quartos de ponto percentual para uma faixa de 1,5% a 1,75% em sua alta mais agressiva desde 1994.

“O núcleo está avançando em um ritmo assustador”, disse Michael Schumacher, do Wells Fargo.

Os futuros de fundos do Fed agora estão precificando uma alta de 81 pontos base para julho. Isso indicaria que alguns no mercado esperam um aumento da taxa de mais de 75 pontos base, e 100 podem acontecer, acrescentou.

“Com o núcleo funcionando tão forte, o Fed não pode ignorar isso. É um número ruim”, disse.

A leitura quente do IPC de quarta-feira também levantou questões sobre se a inflação de fato atingiu seu pico. Headline CPI subiu 1,3% e núcleo CPI subiu 0,7% em uma base mensal, em comparação com estimativas de 1,1% e 0,5%, respectivamente. Os custos mensais de aluguel subiram 0,8% em junho, o maior aumento desde abril de 1986.

Ao mesmo tempo, o petróleo bruto, os preços das commodities e os preços da habitação caíram nas últimas semanas, um sinal de que o aumento dos preços pode ter atingido um muro, disse Jeff Kilburg, diretor de investimentos e gerente de portfólio da Sanctuary Wealth.

“A grande inflação, na minha opinião, aconteceu”, disse ele. “Isso está articulado nos dados do CPI de junho, que podem ser vistos como um indicador de atraso. Vimos uma reprecificação significativa em todas as classes e setores de ativos e, quando você vê essa reprecificação de setores em nossa economia, como habitação e automóveis, isso realmente precisa ser reconhecido e apreciado”.

A queda nos preços da gasolina desde que atingiram recordes em junho também pode sinalizar que a inflação desacelerou, disse Jeremy Siegel, professor de finanças da Wharton School of Business da Universidade da Pensilvânia.

“O mercado está começando a acreditar que realmente este é o número de pico e que há informações suficientes que rolaram para que possamos começar a ver os números da inflação diminuir nos próximos meses”, disse Andrew Slimmon, gerente sênior de portfólio do Morgan Stanley Investment Management. “Se você olhar para o histórico de quando tivemos esses picos de inflação, as ações tendem a cair quando o mercado acredita que a inflação atingiu o pico.”

Slimmon disse que está encorajado pelos movimentos do mercado de quarta-feira, mas um potencial negativo para as ações pode ocorrer se os números da inflação não caírem tão rapidamente quanto o esperado.

Os rendimentos do Tesouro e o dólar subiram após o relatório de inflação de junho. A taxa de 10 anos adicionou 7 pontos-base ao comércio em 3,03%, enquanto a taxa de 2 anos saltou 11 pontos-base para 3,16%, com o euro caindo abaixo da paridade com o dólar americano. Mais tarde na sessão, a inversão entre os 2 anos e os 10 anos atinge seu maior nível desde 2000.

Crescentes temores de recessão

Os temores de uma recessão aumentaram à medida que a inflação aumenta. Economistas do Bank of America disseram na quarta-feira que estão prevendo uma recessão leve no final deste ano, à medida que o crescimento real do PIB diminui e antecipam que a taxa de desemprego saltará para 4,6% em 2023.

Durante o primeiro trimestre, o PIB caiu 1,5%. Espera-se que caia 1,2% na segunda busca, de acordo com as últimas estimativas do rastreador GDPNow do Fed de Atlanta. Por definição, dois trimestres consecutivos de PIB negativo são frequentemente considerados uma recessão.

Enquanto isso, o relatório “Livro Bege” do Fed divulgado na quarta-feira encontrou maiores temores de inflação e uma possível recessão.

“Pode ser que estejamos em uma recessão, mas muito leve”, disse Cliff Corso, presidente e diretor de investimentos da Advisors Asset Management.

Esse provavelmente também é o caso se a economia estiver entrando em recessão, já que os consumidores ainda têm dinheiro em excesso como segurança. Se essa recessão é suficiente para reduzir a inflação para a meta de 2% do Fed permanecerá em foco, disse ele.

Juntamente com o PIB negativo, o custo dos empréstimos continua a aumentar. Ao mesmo tempo, o crescimento do emprego continua forte, com os dados mais recentes mostrando um aumento de 372.000 nas folhas de pagamento não agrícolas no mês passado, de acordo com o Bureau of Labor Statistics. O crescimento dos salários reais está aumentando, embora em um ritmo mais lento do que a inflação, o que pode significar mais problemas para a economia.

“Precisamos realmente restaurar a estabilidade de preços para que a inflação volte a 2%, porque sem isso não poderemos ter um período sustentado de emprego máximo onde os benefícios sejam amplamente distribuídos e onde os salários das pessoas não sejam sendo devorado pela inflação”, escreveu Chris Senyek, da Wolfe Research.

Em outras notícias, os investidores estão aguardando os resultados de grandes bancos, incluindo JPMorgan e Morgan Stanley, programados para quinta-feira.

Com informações de CNBC