Os próximos dias prometem ser agitados para a Ambev, com a
companhia já se movimentando em meio às possíveis mudanças.
Mais cedo, o Conselho de Administração da gigante de bebidas
aprovou a distribuição de juros sobre capital próprio (JCP) à razão
de R$ 0,7302 por ação da companhia, totalizando R$ 11,5
bilhões.
O pagamento será efetuado em 28 de dezembro de 2023, com base na
posição acionária de 19 de dezembro de 2023.A distribuição dos
valores foi definida após balanço realizado em 30 de novembro e nas
reservas avaliadas desde o dia 31 de dezembro de 2022, que define o
início do exercício para a distribuição obrigatória de dividendos
mínimos.
Após a atual tributação (de 15% do IR), o valor distribuído será
de R$ 0,6207 por ação. No entanto, nesta quarta está prevista a
divulgação do texto inicial que possivelmente trará alterações às
regras para distribuição de JCP.
“Existe uma expectativa do mercado de que seja incluída redação
limitando a capacidade das empresas em utilizar do patrimônio
líquido para o cálculo do efeito de dedutibilidade do JCP nos
impostos a pagar das companhias. Na expectativa dos nossos
analistas, a Ambev (BOV:ABEV3) deve ser negativamente impactada,
embora ainda exista pouca clareza de qual será a redação final.
Além disso, eles reiteram que, caso de haja uma redação negativa
para a companhia, a Ambev poderia utilizar de alavancas tributárias
(créditos fiscais), alavancagem de balanço e eventuais
reorganizações societárias, que poderiam limitar o impacto negativo
no lucro da empresa”, aponta a XP em relatório de análise.
O Goldman Sachs ressalta a distribuição anual do JCP que
representou uma queda de 4,2% no comparativo anual, mas 3,8% acima
de sua estimativa, implicando um benefício fiscal equivalente a 23%
da previsão do banco de lucro líquido para o ano inteiro e um
rendimento (líquido) de 4,4% aos seus acionistas.
Outros fatores além do JCP estão no radar do mercado. Com a
votação sobre a nova etapa da reforma tributária no congresso
brasileiro se aproximando e a Argentina anunciando uma
significativa desvalorização de 54% do peso, o JPMorgan realizou
uma revisão do que está em jogo para o lucro por ação (EPS, na
sigla em inglês) da companhia. Em conjunto, segundo o banco, esses
efeitos poderiam resultar em um um impacto de cerca de 30% no lucro
por ação (EPS, na sigla em inglês), o que levaria o Preço (P)/Lucro
(L) estimado para 2024 a aumentar de 13,5 vezes para 19,3
vezes.
“No entanto, considerando a provável diluição das propostas de
arrecadação de impostos do governo no congresso, analistas
acreditam que o efeito potencial sobre o lucro líquido deve estar
na faixa de 14 a 26%, implicando um P/L na faixa de 15,5 a 18,2
vezes”, comentam analistas.
Uma comissão especial do congresso deve votar nesta semana a
Medida Provisória MP 1185, que aborda dois tópicos relevantes para
a Ambev: além da já citada dedutibilidade dos Juros sobre Capital
Próprio, também estão no radar as subvenções fiscais na base de
cálculo do imposto de renda. O texto final ainda é desconhecido e
deve ser apresentado até o final do dia de hoje, com possíveis
alterações (prováveis diluições) antes da votação em plenário na
próxima semana. Analistas destacam que o JCP representa 21,5% do
lucro por ação da Ambev.
O JPMorgan traçou dois cenários (otimista e pessimista) com base
em diferentes bases de cálculo para o JCP, conforme o texto inicial
do projeto de lei.
No cenário pessimista, JPMorgan assume a exclusão das contas de
patrimônio “goodwill” e “ajustes contábeis para transações entre
acionistas”, resultando em uma redução de 81% no benefício fiscal
ou um impacto de 17% no lucro líquido (o P/L estimado para 2024
passa de 13,5x para 16,2x) ou um valor presente líquido (VPL) de R$
1,6 por ação.
No cenário otimista, apenas a conta de goodwill é excluída,
levando a uma redução de 34% no benefício fiscal ou um impacto de
7% no lucro líquido (o P/L passa de 13,5 para 14,5), com um impacto
no VPL de R$ 0,6 por ação.
Outros pontos abordados incluem a dedutibilidade de subvenções,
representando cerca de 5% do lucro por ação, e a desvalorização do
peso argentino, que pode ter um impacto potencial de cerca de 4% no
EPS (cerca de 9% no Ebitda). A empresa está considerando diversas
estratégias para reduzir o impacto da possível mudança na
regulamentação, incluindo a monetização de créditos fiscais
federais, ajuste na estrutura de capital e a busca por
oportunidades para melhorar sua estrutura de holding.
Com relação ao preço das ações, o JPMorgan disse ser difícil
argumentar que o pior já está precificado ou que esses
desenvolvimentos não deveriam ter um impacto negativo nas
ações.
Por outro lado, a recente queda dos papéis e as faixas de P/L
mencionadas ainda sugerem um potencial de valorização para as ações
assim que mais detalhes sobre o aspecto tributário surgirem e as
incertezas forem superadas. Além disso, o banco acredita que as
operações devem ter um forte desempenho em 2024, com margens se
recuperando devido ao bom desempenho na receita e à redução de
custos.
O JPMorgan mantém recomendação overweight (exposição acima da
média do mercado, equivalente à compra).
Já a XP aponta que, apesar de os analistas acreditarem que os
ruídos devem continuar pesando sobre as ações, os analistas da casa
atualizaram recentemente a tese para a ação mantendo recomendação
de compra e aumentando o preço-alvo de R$ 18,10 por ação para R$
18,70 para o fim de 2024.
“Reiteramos nossa recomendação de compra e destacamos três
razões para comprar ABEV3, as quais devem atrair tanto investidores
de curto quanto de longo prazo, na nossa visão. Para investidores
focados no curto prazo, nosso índice XP AmBev Commodities COGs nos
faz entender que a companhia deve enfrentar um sólido momento nos
resultados à frente; ABEV3 sofreu um rebaixamento de múltiplos
devido às curvas de juros mais altas, com desempenho abaixo dos
pares globais e hoje está com valuation muito atrativo para ser
deixada de lado – vemos ABEV3 sendo negociada a 14,0 vezes o P/L
para 2024 contra a média de 8 anos de 20,2 vezes. Para os
investidores que olham além do curto prazo, o BEEs já provou ser
transformacional para a Companhia e deve continuar a aumentar as
vantagens competitivas da AmBev, em nossa opinião”, complementam os
especialistas.
O Goldman Sachs, por sua vez, tem recomendação de venda para os
ativos ABEV3. O banco, embora reconheça que os volumes para o
trimestre foram mais fortes do que o esperado (ou seja, a produção
de outubro expandiu 7,1% face ao ano anterior), vê a combinação de
concorrência crescente, riscos materiais relacionados à reforma
tributária e a contínua volatilidade macro na Argentina como
fatores de risco.
Informações Infomoney
AMBEV S/A ON (BOV:ABEV3)
Gráfico Histórico do Ativo
De Nov 2024 até Dez 2024
AMBEV S/A ON (BOV:ABEV3)
Gráfico Histórico do Ativo
De Dez 2023 até Dez 2024